10º Aniversário do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular

Porto
25 de Março de 1999


Os problemas da investigação científica no nosso País têm sido objecto da minha atenção em diversas ocasiões e por razões fundamentais.

Em primeiro lugar, por ter a ideia d que o potencial de desenvolvimento da nossa sociedade depende dos níveis de excelência que formos capazes de atingir em todos os domínios da investigação científica.

Em segundo lugar, por me parecer que nem sempre se verifica entre nós um relacionamento tão rico e estimulante quanto seria desejável entre pesquisa fundamental, pesquisa aplicada e serviço à comunidade.

Julgo que a investigação em saúde constitui uma área em que estas questões se colocam de forma assaz expressiva. E a esse proósito julgo oportuno trazer aqui três ou quatro notas:
1 - A investigação constitui de facto um factor actor vital para o desenvolvimento da medicina e, por esse intermédio, para a melhoria das condições de existência dos cidadãos.

Basta pensar no aumento significativo da esperança de vida que ocorreu nas últimas décadas e na própria melhoria da qualidade de vida da generalidade dos cidadãos para avaliarmos até que ponto a progressão do conhecimento científico em saúde se pode traduzir, positivamente, no nosso quotidiano.

A investigação neste domínio potencia ainda a actividade económica do País, o que dá bem a ideia do vasto conjunto de sectores sociais - para além, naturalmente, dos agentes de saúde, públicos e privados - que dela beneficiam.

2- Ao Estado cabe um papel insubstituível na definição de orientações estratégicas e no balanceamento, em termos económicos e sociais, do impacto dos investimentos deste âmbito.

A verdade é que, apesar do forte investimento realizado nos últimos anos em investigação científica, somos ainda um País com indicadores que nos colocam, em tal matéria, numa posição relativamente modesta.

Aliás, a produtividade científica e tecnológica não depende apenas dos financiamentos que para ela conseguirmos obter. Depende, igualmente, de factores ligados à organização da comunidade científica, para além, já se vê, da própria qualidade e diversidade de competências mobilizáveis por cientistas, técnicos e outros profissionais que, no quotidiano dos laboratórios ou dos gabinetes, dão corpo à produção de novos conhecimentos.

3 - Este último ponto remete-me, como se perceberá, para a qualidade da formação que as nossas escolas estão em condições de fornecer aos mais jovens.

E, a este respeito, não é apenas o sistema de ensino superior que deve ser objecto da nossa atenção.

Parece-me que nos devemos interrogar sobre as condições em que se faz a aprendizagem do espírito científico em todos os escalões do ensino básico e secundário.

Se é legítimo falar em construção de vocações científicas, então parece que esse é um processo que tem de se iniciar relativamente cedo no percurso escolar dos nossos jovens.

Vale a pena colaborarmos todos na tarefa estimulante de difundir na sociedade portuguesa o gosto pela descoberta científica e pela aquisição dos instrumentos do conhecimento.

4- Finalmente, e voltando ao problema central desta intervenção, permito-me sublinhar a importância de que se reveste a investigação na formação dos médicos. Para ela se concretizar, é indispensável que o docente associe à sua missão de orientador do aluno na procura de informação, uma grande e permanente disponibilidade.

Não estou a defender que, em medicina, todos os estudantes venham a realizar investigação clínica; mas penso que todos terão a ganhar com a aprendizagem da investigação epidemiológica, pois esta lhes permitirá aceder a importantes instrumentos da pesquisa, exercer a medicina de uma forma mais racional e, mesmo, estimular a investigação em áreas não clínicas.

É que o médico é, cada vez mais, um gestor de recursos que precisa de envolver na sua actividade outros saberes, para poder aceder a uma compreensão consistente dos problemas da saúde das comunidades.

Entretanto, a uma nova concepção de ensino das ciências da saúde deve corresponder um novo modelo de gestão que associe o Estado, as Autarquias, as Universidades, os Institutos de desenvolvimento regional, as próprias organizações não governamentais.

O Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto tem demonstrado elevadas capacidades em programas de investigação; conseguiu envolver entidades de proveniências diversas; tem contribuído para o desenvolvimento regional e o desenvolvimento tecnológico; tem demonstrado constituir um escol de técnicos e de cientistas de elevada qualidade; é sensível à avaliação externa e procura-a; apresenta uma invulgar produção científica e académica; alia uma liderança científica indiscutível a uma competência invulgar na gestão dos recursos financeiros que tem conseguido obter.

Esta é a razão da minha presença aqui: prestar homenagem ao trabalho sério e persistente desenvolvido ao longo de dez anos na investigação científica e no ensino, agradecer a vossa dedicação, de que a comunidade tanto tem beneficiado.