Discurso na Câmara Municipal da Cidade da Praia

Cidade da Praia
29 de Março de 2004


Senhor Presidente da Câmara Municipal da Praia
Excelências
Senhoras e Senhores

Agradeço as suas amáveis palavras e a forma generosa como aqui fui recebido, estando consciente de que se vive ainda o rescaldo das recentes – e mais uma vez democraticamente exemplares – eleições autárquicas.

Tive oportunidade de o dizer há pouco nas declarações que proferi após o encontro que mantive com o Senhor Presidente da República, mas gostaria de voltar a exprimir aqui, no primeiro discurso que faço nesta visita de amizade a Cabo Verde, a enorme alegria e satisfação que sinto em estar oficialmente pela segunda vez neste país irmão.

É-me particularmente grato, Senhor Presidente da Câmara, estar de novo nesta casa a que me ligam laços profundos forjados no tempo em que fui Presidente da Câmara de Lisboa. Decorreram sete anos desde a última vez que aqui estive e não posso deixar de testemunhar o impressionante desenvolvimento que a Cidade da Praia conheceu neste período. Congratulo-me também pelo facto de o meu país ter dado um contributo para esse desenvolvimento através da cooperação institucional entre Governos.

Mas também através da presença de empresas portuguesas, gerando riqueza, criando postos de trabalho e dando formação profissional a inúmeras pessoas, bem como da cooperação levada a cabo pelas autarquias portuguesas geminadas com as de Cabo Verde.

É minha firme convicção, fundada na própria experiência pessoal enquanto autarca, que a cooperação descentralizada entre Municípios de diferentes países é um instrumento absolutamente insubstituível. Mais próxima da sociedade civil e do concreto, mais pragmática e mais ágil, mais comunitária e mais generosa, a cooperação autárquica é, em regra, mais visível para os seus destinatários, ajudando eficazmente a promover uma maior aproximação entre os povos.

Queria aqui deixar registado o meu apreço e a minha homenagem aos autarcas dos nossos dois países pelo magnífico trabalho de cooperação que estão a fazer em prol das populações de Cabo Verde. Neste país em que a descontinuidade territorial e a insularidade representam um efectivo condicionamento, o papel do poder local no processo de desenvolvimento assume enorme relevância. É com muito prazer que convidei três autarcas portugueses para me acompanharem e serem, ao longo dos cinco dias desta visita, embaixadores do vasto conjunto de municípios do meu país que cooperam com diferentes cidades de Cabo Verde.

Faço-me igualmente acompanhar por um importante grupo de empresários, na sua maioria representantes de investimentos já em curso em Cabo Verde, uma boa parte na Ilha de Santiago e aqui mesmo na Cidade da Praia.

As relações luso-caboverdianas atravessam um período particularmente auspicioso, atingindo níveis elevadíssimos. No plano económico, a extensão desse relacionamento sobressai com notável nitidez. É um fenómeno estimulante, demonstrando que as relações entre os nossos Estados ultrapassam largamente o domínio dos contactos institucionais entre Governos. Queria, a propósito, dirigir daqui da capital de Cabo Verde, uma palavra de apreço e reconhecimento pela comunidade caboverdiana radicada em Portugal. A sua presença foi, é e será bem vinda.

A comunidade caboverdiana é a mais antiga – e era a mais numerosa até há bem pouco tempo – em Portugal, mas tem sabido manter a sua identidade, nas relações familiares, preservando usos e costumes, na sua vida cultural – sendo de destacar a pujança da área musical - e mantendo laços permanentes com a sua terra.

A sua vontade e capacidade de adaptação e integração são merecedoras de registo, facto demonstrável pelo elevado número de caboverdianos e luso-caboverdianos que exercem em Portugal funções de grande relevo e responsabilidade, pelo que é também com grande satisfação que me faço acompanhar por alguns destes ilustres filhos de Cabo Verde. É de facto impressionante a maneira como a grande maioria dos membros da Comunidade caboverdiana radicada em Portugal luta diariamente para que o futuro seja melhor que o passado e, em especial, para que as novas gerações não sofram os problemas dos seus antepassados. Como é impressionante e ilustrativo da vitalidade da comunidade, o elevado número – existem 18 registadas - e o grande empenho das associações de caboverdianos em Portugal.

Importa, no entanto, que a integração prossiga e se faça na totalidade, recusando-se a auto-marginalização e a auto-guetização. Portugal, pelo seu lado, quer e tem o dever de apoiar o processo de integração, dentro das suas capacidades e possibilidades.


Senhor Presidente,

Neste país em que a música é uma companhia constante, teremos amanhã a oportunidade de usufruir aqui de um concerto que juntará um dos mais populares grupos caboverdianos - intérprete de Funaná, esse ritmo musical quente e contagioso, originário desta Ilha - e um dos mais consagrados grupos portugueses. Queria-lhe agradecer, Senhor Presidente da Câmara, toda a colaboração que deu para a realização deste concerto, que espero sinceramente seja para a população da Praia e, sobretudo, para a sua juventude um momento de alegria e festa.

Desejaria terminar endereçando-lhe, Senhor Presidente, os melhores votos de sucesso, quer pessoais, quer enquanto Presidente da maior cidade deste país.