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Jantar em honra do Presidente Chissano
Tenho o prazer e o privilégio de, em nome do Povo Português, exprimir quanto nos congratulamos com a presença de Vossa Excelência entre nós.
Presença que, desde logo, significa o reafirmar dos laços fraternos que unem os nossos dois povos e países, numa relação que, mergulhando no Passado, sabe ter no Futuro o seu destino. Presença que, coincidindo com as comemorações do quarto de século da alvorada libertadora do 25 de Abril - a que Vossa Excelência nos concede a honra de assistir - assume, na linguagem necessariamente simbólica que enforma as Visitas de Estado, o claro reiterar de um reencontro, por vontade própria, entre dois Estados livres e soberanos. Presença que, no complexo e conturbado Mundo em que vivemos, traduz a excelência de um relacionamento bilateral, que, em gratificantes palavras proferidas por Vossa Excelência, representa um caso exemplar para a Humanidade. Entre Portugal e Moçambique, com efeito, os laços de solidariedade que exprimimos na mesma língua não são meras palavras de circunstância. São laços que se consubstanciam num permanente reforço da cooperação bilateral a todos os níveis - político, institucional, económico e cultural - e que se reflectem, quer na multiplicidade dos contactos entre os mais diversos sectores das nossas sociedades, como na frequência das visitas entre autoridades e governantes de ambos os nossos países. Para além das importantes visitas levadas a cabo a Moçambique por Suas Excelências o Presidente da Assembleia da República e pelo Primeiro Ministro de Portugal, respectivamente em Abril e Outubro do ano passado, não posso aqui deixar de evocar a Visita de Estado que efectuei em Maio de 1997 e da qual guardo as mais comovidas recordações. Em nome de minha Mulher e em meu próprio nome, quero uma vez mais testemunhar à Excelentíssima Senhora D. Marcelina Chissano e a Vossa Excelência o nosso profundo apreço pela hospitalidade e calor humano com que as Autoridades e o Povo Moçambicano nos receberam, assim como pela forma cativante como Vossas Excelências nos cumularam de atenções.
Congratulamo-nos com o facto de que a nossa cooperação bilateral esteja a incidir num cada vez mais alargado campo de actuação, sendo porventura de destacar, na vertente cultural e linguística, a criação de Centros de Língua Portuguesa em Universidades Moçambicanas, o arranque de numerosas escolas e o alargamento da cobertura das emissões de rádio e de televisão. Igualmente nos congratulamos com o crescimento que se verifica numa outra área de particular relevância para o desenvolvimento sustentado de Moçambique: a da cooperação empresarial, sobretudo a do sector privado. Como já uma vez tive a ocasião de referir, importará aqui, tanto a nível oficial, como a nível privado, procurar sempre observar os mais rigorosos padrões éticos de comportamento, nomeadamente nas relações laborais, privilegiando a formação profissional dos moçambicanos como prioridade associada a qualquer investimento ou acção de cooperação. O facto de Portugal ser hoje em dia um dos principais investidores externos em Moçambique, constitui uma cabal demonstração da confiança interiorizada pela sociedade portuguesa na estabilidade política e social do país, assim como na solidez das suas instituições livremente eleitas. Isso, acima de tudo, é mérito dos próprios moçambicanos! E se é verdade que a nossa cooperação bilateral pode efectivamente ser considerada como modelar, verdade é também que Moçambique, ele próprio, constitui um exemplo cada vez mais reconhecido pelo conjunto da Comunidade Internacional! Exemplo, na determinação com que todos os moçambicanos souberam trilhar e prosseguir os caminhos da paz e da reconciliação nacional! Exemplo, na sua colectiva procura dos indispensáveis consensos para a estabilidade política e para a consolidação da democracia pluripartidária! Exemplo, no persistente esforço dedicado ao desenvolvimento económico e à melhoria das condições de vida das populações!
Idêntica confiança, mas agora relativamente ao edifício institucional do país, reflecte-se no apoio concedido pela Comunidade Internacional, designadamente pela União Europeia, à preparação das próximas eleições gerais. Apoio tanto mais merecido quanto é certo que - hoje - com o amadurecimento da sua vivência democrática - tal como ontem - com o sucesso do processo de paz, Moçambique se tornou efectivamente num exemplo que o Mundo muito valoriza, e que a África em particular, só terá a ganhar em ter sempre presente. Com efeito, tendo corajosamente interiorizado as lições amargas de um passado recente em que a luta fratricida se sobrepunha ao entendimento e ao diálogo, Moçambique acumulou um inestimável capital de experiência e de sabedoria. Daí o respeito com que é hoje encarado a nível internacional, e o crescente papel a que é chamado a desempenhar, designadamente no contexto regional em que se insere.
Gostaria aqui de mencionar a forma eficaz e empenhada como, no contexto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, os nossos dois países contribuíram para a superação pacífica da crise em que se debateu a Guiné-Bissau e para a qual confiamos ter-se encontrado a definitiva resolução através do acordo que conduziu à formação do Governo de Unidade Nacional. Ao conjugar os seus esforços no âmbito das diligências levadas a cabo no contexto regional da África Ocidental, a CPLP demonstrou não prosseguir quaisquer propósitos de protagonismo, norteando-se tão somente pelos princípios de solidariedade e cooperação consagrados no seu Acto Constitutivo. Apraz-me igualmente salientar os resultados alcançados pela nossa Comunidade aquando da Cimeira reunida o ano passado em Cabo Verde, a qual deu um importante contributo para o reforço da projecção da CPLP na cena internacional, assim como nos diversos agrupamentos regionais em que se inserem cada um dos nossos países. Por sua vez, a 3ª Cimeira da CPLP, a realizar-se no próximo ano em Maputo, irá seguramente conferir um adicional impulso à vitalidade e coesão da nossa Comunidade. Uma Comunidade que pretendemos cada vez mais activa e dinâmica no sentido do reforço da cooperação e solidariedade entre os povos e países que a integram, não num prisma de evocação do passado, mas sim com os olhos postos no futuro. Mas não posso, neste momento, deixar de manifestar a preocupação que nos suscita a situação que se vive em Angola, preocupação tanto mais intensa quanto é certo que se avolumam os sinais que apontam para a sua envolvência por uma vasta e perigosa crise regional. O drama de Angola não se compadece com tergiversações. Nem o sofrimento das suas populações inocentes merece o esquecimento da Comunidade Internacional que, de resto, já tanto investiu na procura da resolução do conflito angolano. Pelo contrário; temos todos e cada um de nós o estrito dever de demonstrar a nossa solidariedade para com o povo angolano, não permitindo que prevaleça o sistemático desrespeito das Resoluções do Conselho de Segurança e a permanente violação dos acordos livremente aceites. Devemos simultaneamente assegurar que não se desperdice nenhuma tentativa nem nenhuma oportunidade para que seja alcançada a paz e a definitiva reconciliação da família angolana. Conforta-me a ideia de que os nossos dois países, nesta, como em tantas outras matérias, fazem uma idêntica leitura da situação. Como idêntica é a leitura que fazemos relativamente à questão de Timor-Leste, cujo povo, tenaz e heroicamente, luta há mais de vinte anos pela sua liberdade. Mau grado alguns sinais positivos de mudança na Indonésia, o Povo de Timor-Leste continua a ser alvo de sangrentas perseguições, como mais uma vez ficou demonstrado com os bárbaros massacres perpetrados em Díli e Liquiçá. A deliberada onda de violência que avassala Timor-Leste tem como objectivo, não apenas instalar um clima de terror e de intimidação naquele território, como também prejudicar os esforços que estão a ser envidados para se concluir um acordo no quadro das conversações tripartidas que decorrem sob a égide do Secretário-Geral das Nações Unidas. Quero daqui lançar um veemente apelo a todos os que, como Vossa Excelência, sempre demonstraram o seu profundo apego à causa de Timor-Leste e compartilham dos valores da Liberdade e do Direito, para que, com redobrado ânimo e determinação, empenhem o melhor dos seus esforços e das suas capacidades no apoio e solidariedade para com o povo mártir de Timor-Leste.
Através da sua adesão à União Europeia - para cujo processo de construção e aprofundamento tem activamente contribuído - Portugal reencontrou a Europa a que se sempre pertenceu, tendo nos últimos anos beneficiado de uma acelerada dinâmica de progresso económico e social. Moçambique, por sua vez, usufrui no âmbito do SADC - de que Vossa Excelência é Vice-Presidente - de um vasto e importante espaço de cooperação regional. Por outro lado, ciente de que os conflitos em África são o trágico resultado de profundas carências políticas, económicas e sociais, Portugal protagonizou a iniciativa de uma Cimeira entre a União Europeia e a África, cimeira essa que se irá concretizar no primeiro semestre do próximo ano, por ocasião da Presidência Portuguesa. Desde a primeira hora, Moçambique foi receptivo à ideia da realização daquele importante evento, encarando-o, tal como nós o fazemos, como uma oportunidade privilegiada para se estabelecer um diálogo político ao mais alto nível em matérias de interesse comum, e para se lançarem as bases de uma parceria mais efectiva e consistente entre os dois continentes.
Comitiva que, de resto, muito nos gratifica por integrar tão relevantes personalidades dos mais diversos sectores da sociedade moçambicana: governantes, parlamentares, escritores, artistas, empresários, técnicos, mulheres e homens da política, da cultura, da ciência, do jornalismo e do desporto. A todos dirijo as nossas mais amigas e sinceras saudações de boas vindas, e a todos peço que se sintam no Portugal de hoje como em vossa própria casa. Permita-me ainda - Senhor Presidente - que aproveite esta oportunidade para daqui lançar um repto e um apelo a todos os presentes - quer moçambicanos, como portugueses - para que nunca se contentem com o que já está feito, e para que, pelo contrário, pugnem sempre no sentido de se ir mais longe no fortalecimento dos laços de cooperação e de fraternidade entre os nossos dois povos e países. Peço a todos que me acompanhem num brinde pelas felicidades pessoais de Sua Excelência o Presidente da República de Moçambique e da Excelentíssima Senhora D. Marcelina Chissano, pela prosperidade de Moçambique e pela perene e fraterna amizade entre os nossos dois povos. |