Comemoração do 25º aniversário do 25 de Abril no Grupo Cultural, Recreativo e Folclórico Português em Harburg

República Federal da Alemanha
25 de Abril de 1999


Meus caros amigos e concidadãos

Aproveitei este ensejo para, através da vossa dinâmica Associação, dirigir, nesta data tão significativa, algumas palavras a todos os nossos compatriotas que trabalham e vivem na Alemanha.

O 25 de Abril pondo fim a um regime ditatorial, pôs termo a um regime sem soluções para o desenvolvimento nacional, razão que, junta com a Guerra Colonial, levou centenas de milhar de portugueses a terem de procurar construir o seu futuro em países estrangeiros, muitas vezes em condições tão difíceis que exigiram um espírito de sacrifício e uma coragem raros e merecedores da nossa admiração.

Após o fim da ditadura, Portugal teve de enfrentar o desafio do atraso económico e cultural em que anos de paralisia e de repressão do espírito de iniciativa, que só a plena liberdade permite, o haviam mergulhado. Esse combate, que deu os seus frutos, continua e para o seu êxito tem contribuido muito o apoio daqueles que, tendo um dia partido, nunca quebraram os seus laços natais, mantendo-se ligados às suas povoações de origem, e contribuindo, de um modo ainda insuficientemente reconhecido, para a correcção parcial das assimetrias regionais e para o desenvolvimento do Interior.

Os emigrantes têm sido e são, por isso, agentes de desenvolvimento do País. O espírito do 25 de Abril fundamenta-se exactamente aí, na compreensão dos direitos e dos deveres da cidadania plena, na equidade, na participação e no acesso aos meios e recursos da economia nacional, na defesa do património herdado dos nossos antepassados que fundamenta a identidade do nosso presente e a autonomia do nosso futuro. Este é um aspecto fundamental para quem, como os emigrantes, convive no seu dia a dia com culturas e modos de estar distintos dos seus e soube aprender que a Liberdade se fundamenta na preservação da diversidade e pluralidade e no respeito pela identidade pessoal e cultural de cada um e de cada colectividade ou comunidade.

A Europa Unida, que estamos construindo, terá de ser sempre uma Europa dos Povos e das Culturas, onde cada um convive com o seu próximo na afirmação e no respeito mútuo das suas diferenças e particularidades.

Os portugueses que vivem e trabalham noutros países têm sido os pioneiros dessa realidade. Importa, agora, aprofundar a vossa participação nas comunidades em que estão integrados, preservando a vossa identidade e cultura, mas afirmando o vosso espírito construtivo e empreendedor que, depois de saber vencer as dificuldades da primeira integração, a económica, tem agora de descobrir os caminhos da segunda integração, a da convivência e activa participação a todos os níveis da sociedade, para a qual contribuem com o vosso trabalho e, cada vez mais, com a vossa maneira de ser e de viver.

Neste domínio, cumpre-me dirigir uma palavra especial aqueles de vós que representam já, as segunda e terceira gerações de emigrantes e que cresceram no seio de uma cultura bastante distinta da que os vossos pais ou avós vos transmitiam ou que nas vossas visitas a Portugal encontram. Diz-se, pelo facto de viverem com um pé em duas sociedades e duas culturas, que isso origina desenraizamento. Eu penso que, pelo contrário, vós sois o eixo de transmissão entre essas sociedades e essas culturas, tendo a oportunidade única de encarnar um diálogo vivo e fecundo que é o modelo da Europa do futuro.

Neste 25º aniversário do 25 de Abril, comemoramos a Liberdade e comemoramos o nascer de uma nova sociedade assente na cidadania a qual, apesar de problemas ainda existentes, se vem desenvolvendo, criando maior bem estar e que tem cada vez maior orgulho colectivo na afirmação da nossa origem e identidade.

Nesta data, comemoramos também a ligação que, por fim, reestabelecemos com os nossos concidadãos europeus junto dos quais, mesmo antes da integração, os emigrantes eram já os nossos melhores representantes.

Comemoramos também, por isso, a vossa capacidade de terem sempre sabido prestigiar Portugal e a vossa contribuição para o esforço colectivo de construirmos um país mais próspero, solidário e reconhecido no Mundo como uma Nação multisecular voltada para o futuro.

À vossa Associação e a todos vós, envio as minhas mais cordiais saudações e votos de felicidades e de continuação de progresso individual e colectivo.

Muito obrigado

Viva o 25 de Abril!

Viva Portugal!