Abertura do VI Congresso do Jovem Empresário


27 de Maio de 1999


Minhas Senhoras e Meus Senhores,
 
Quero saudar o Congresso do Jovem Empresário, os participantes e agradecer à União dos Jovens Empresários o convite para participar nesta sessão de abertura.

Tenho acompanhado com grande interesse diversas iniciativas dos jovens empresários e suas organizações. Ainda ontem fiz, por sugestão da ANJE, um périplo por algumas das realidades do empreendorismo jovem e já hoje tive oportunidade de ouvir dos jovens agricultores as suas preocupações e expectativas.

Tal como já disse várias vezes, pretendo, com esta presença junto do mundo dos jovens empresários, dar um sinal – o que faço com gosto - de que acredito na capacidade de iniciativa empresarial das gerações mais novas. Pretendo também reafirmar o quanto prezo o esforço que fazem para, através do movimento associativo, reflectirem sobre os problemas que têm de enfrentar, nomeadamente os que decorrem da necessidade de adaptação ágil a procuras emergentes, a tecnologias mutáveis e a regras concorrenciais muito exigentes.

Senhoras e senhores Congressistas, caros Amigos,

Aproveitarei esta oportunidade de me dirigir ao Congresso do Jovem empresário para me referir a dois temas sobre que considero fundamental reflectir quando se visa, como é o caso, o rejuvenescimento do tecido empresarial português. Refiro-me ao tema da dimensão organizacional das empresas e ao tema da comunidade empresarial.

A dimensão organizacional das empresas e os jovens empresários

São conhecidas algumas debilidades do tecido empresarial português. Sem querer simplificar o que, em boa verdade, não pode ser simplificado, direi que uma das principais, senão a principal, de tais debilidades diz respeito à dimensão organizacional das empresas.

Vários estudos realizados entre nós a este respeito apontam para que seja neste plano, e menos no da quantidade e qualidade das tecnologias disponíveis, que se alojam os factores cruciais do relativo insucesso do aparelho produtivo nacional.

É uma situação que, a meu ver, pode vir a alterar-se muito positivamente com a chegada ao mundo empresarial português de gerações mais escolarizadas e mais abertas às correntes de informação e inovação. Isto vale tanto para os sectores industrial e terciário, como, quero crer, e sob formas renovadas, o sector da agricultura.

Não se veja nestas considerações menor respeito pelos empreendedores portugueses de outras gerações (bom será, aliás que os mais jovens estudem com atenção o que, noutras épocas, foram experiências inovadoras e mesmo pioneiras do empresariado nacional).

E o optimismo contido na minha afirmação também não resulta de estar convencido que a formação, qualquer formação, incluindo a dos empresários, garante, por si só, os acréscimos de produtividade, de qualidade ou de capacidade competitiva por que todos ansiamos.

Se acredito no efeito positivo da presença dos jovens empresários nacionais no tecido económico nacional, tal acontece fundamentalmente porque admito que, aos níveis de escolarização mais elevados, tende a associar-se maior propensão à inovação organizacional. Isto é, maior preocupação com a criação de ambientes empresariais adequados a motivar os trabalhadores, a estimular a sua criatividade, a apostar numa participação empenhada do colectivo que é a organização empresarial.

A "comunidade empresarial" e os jovens empresários

Há quem entenda, e com fundamento, que na era da economia globalizada e da revolução das tecnologias da comunicação, é a própria noção de comunidade empresarial que está sofrendo uma enorme evolução.
Penso, contudo, que nem por isso vão deixar de se colocar aos empreendedores problemas de coordenação de actividades, de integração horizontal e vertical de unidades empresariais, de aperfeiçoamento de redes de cooperação.

Assim sendo, a questão organizacional - e com ela a do pleno aproveitamento de recursos económico-financeiros, culturais e relacionais das empresas - continuará a colocar-se, porventura com redobrada e renovada acuidade.

E se o uso das novas tecnologias de comunicação não tem impedido que se criem, no ciberespaço, as chamadas comunidades virtuais, por que razão não haveremos de repensar, à luz das novas realidades, a noção de comunidade empresarial?
Uma última observação, para sublinhar o entendimento que estou a dar à expressão "comunidade empresarial".

Não se surpreenderão se disser que a utilizo para acentuar a ideia de que os espaços de trabalho devem ser espaços sociais marcados de alto a baixo por preocupações de coesão social, abertos ao exercício pleno de direitos e deveres de cidadania e, mesmo, na medida do possível, fonte de acções solidárias em prol da comunidade envolvente.

Sendo o trabalho e o quotidiano empresarial parcelas tão valiosas das nossas vidas, não faz qualquer sentido retirá-las da esfera da cidadania.

Conto convosco para a tarefa de fazer da vida profissional dos portugueses um momento de plena afirmação da sua dignidade cívica e de respeito pelos seus direitos sociais. Trata-se de uma contrapartida necessária e inteiramente justa para o processo de modernização empresarial que a todos nos mobiliza.

Senhoras e senhores Congressistas, caros Amigos,
Termino, desejando que este Congresso seja mais um estímulo para a continuação da vossa aventura em prol da modernização humanizada da vida empresarial portuguesa.

O País precisa de jovens empresários não apenas pelo que representam na criação da riqueza mas pelo papel insubstituível que desempenham na renovação da cidadania.

Muito obrigado.