Sessão e Encerramento das Comemorações do 100º Aniversário do Clube dos Fenianos

Porto
29 de Janeiro de 2005


Minhas Senhoras e Meus Senhores:

Regresso, com gosto, ao prestigioso Clube Fenianos Portuenses, desta vez para participar na Sessão de Encerramento das Comemorações dos seus 100 anos de vida.

É mais uma boa oportunidade para, recordando o passado, homenagear todos aqueles que, ao longo de um século, souberam fazer desta Associação um espaço de liberdade, de abertura empenhada aos problemas do País, de generosa acção filantrópica e de participação na animação cultural da Cidade do Porto.

Mas é também o momento adequado para dirigir àqueles que hoje estão à frente dos Fenianos uma palavra sincera e muito amiga de estímulo para que prossigam sem desânimo os projectos de redinamização do Clube.

Ao longo dos seus cem anos de vida, nem sempre foi fácil ao Clube Fenianos Portuenses concretizar os desígnios que os seus associados e dirigentes se propuseram.

Tempos houve, de facto, em que a vida associativa e a vontade de intervenção cívica, ainda que sob a forma de festa de rua, eram, no nosso País, objecto de desconfiança por parte dos poderes instalados, e só com muito empenhamento e persistência foi possível, a partir do movimento associativo, romper silêncios e propor alternativas de futuro na sociedade fechada que então éramos.

Felizmente, voltou a correr, depois disso, o fio de água esperançoso da democracia. Caíram as barreiras absurdas que nos inibiam a voz e nos tolhiam os movimentos – e o associativismo pôde respirar de novo em liberdade.

O certo é que nem por isso cessaram as suas dificuldades. Ora por razões que entroncaram nas dinâmicas político-partidárias que se foram desenhando, ora por força de conjunturas económicas desfavoráveis, ora por ausência de políticas culturais atentas às potencialidades do moiovimento associativo – mas também, ou sobretudo, porque na sociedade portuguesa se alteraram, entretanto, substancialmente, os padrões de vida e de valores e os próprios meios de exprimir e veicular as aspirações dos cidadãos - , por tudo isto, dizia eu, novos e difíceis problemas foram sendo colocados às instituições que, como esta, sempre fizeram da união de esforços e de energias cívicas o seu motor e razão de ser.

Perante este novo quadro, foram muitas as associações que soçobraram e muitas mais ainda aquelas que recuaram para níveis de actividade extraordinariamente modestos ou de mera sobrevivência.

Ainda assim, a extensão e densidade do tecido associativo português, nomeadamente em meio urbano – e os casos da Cidade e do Distrito do Porto são paradigmáticos -, não deixam de surpreender os observadores mais atentos e constituem, sem dúvida, um precioso activo com que se deve contar sempre que estejam em causa a recuperação integrada de espaços económica e socialmente desvitalizados, a democratização cultural e a própria renovação de políticas e medidas de protecção social à escala local.

Sei que o Clube Fenianos Portuenses está atento às questões que referi, e que decidiu, com a bonita idade de cem anos, não cruzar os braços perante os obstáculos reais com que se defronta.

As responsabilidades, que passaram a ter dimensão secular, são muitas e os meios disponíveis necessariamente escassos. Nessa medida, importa ir buscar forças ao exemplo de sucessivas gerações de associados e dirigentes que por aqui passaram, honrando a instituição e a cidade, e voltar a conquistar para o Clube, com fundamentado ímpeto reivindicativo, a notoriedade e influência que já teve noutras épocas.

Não se trata, evidentemente, de replicar figurinos de intervenção ou de retomar fórmulas organizativas do passado. Trata-se, sim, de beber na experiência de outros tempos para recriar, com originalidade, formas de estar - na Cidade, no País, na Europa e num Mundo que pode ser cada vez mais nosso – a que não faltem sentido crítico, espírito solidário e vontade de intervenção em cooperação com outros agentes e instituições.

Sei que, para apoiar a renovação do belo edifício em que nos encontramos – passo fundamental para dinamizar o Clube, mas também para requalificar o emblemático coração da Baixa Portuense –, muito contribuíram os esforços financeiros conjuntos do Poder Central, da Autarquia e do mecenato empresarial. É um bom exemplo do muito que a cooperação interinstitucional pode dar ao País em termos de recuperação do património e de qualidade de vida citadina.

Desejo, sinceramente, ao Clube Fenianos Portuenses, no início do seu segundo século de existência, um futuro pleno de iniciativas e de sucessos. Faço votos para que este belo edifício continue, sem qualquer esmorecimento, a ser palco principal da afirmação cívica e cultural dos portugueses.

Todos temos de aprender a ultrapassar, pela ambição, os limites aparentes da acção; todos temos de aprender a ultrapassar, pelo empenhamento na acção, os limites aparentes da ambição.