Discurso de SEXA PR por ocasião da Cerimónia comemorativa do Círculo Católico de Operários

Vila do Conde
03 de Julho de 2005


Minhas Senhoras e Meus Senhores:

A minha presença na Sessão de Comemoração do Centenário do Círculo Católico de Operários, nesta bela e sempre surpreendente Cidade de Vila do Conde, significa, antes de mais, um grande apreço do Presidente da República pela persistência, dinamismo e criatividade do associativismo no nosso País.

No caso concreto desta agremiação, há vários aspectos que gostaria de realçar.

Registo, em primeiro lugar, a capacidade que, através da iniciativa e acção dos seus dirigentes, ela demonstrou para ajustar o seu modelo de intervenção às mudanças económicas, sociais e culturais que o País atravessou ao longo de cem anos.

Tendo nascido no seio de um movimento que tinha por objectivo preciso difundir os princípos de Doutrina Social da Igreja Católica consagrados na Encíclica “Rerum Novarum” do Papa Leão XIII, o Círculo Católico de Operários foi capaz de sobreviver nas novas condições que, desde os anos sessenta, mas sobretudo após 1974, marcaram a sociedade portuguesa.

A vida económica, o mundo das profissões, a estrutura social, o acesso à instrução, as oportunidades culturais modificaram-se significativamente em Portugal nos últimos 40 anos. Teria sido opção insensata e porventura fatal, tentar desenvolver o movimento associativo neste novo enquadramento permanecendo agarrado a projectos de intervenção e modelos organizativos pensados originariamente para um mundo que mal entrava na era da industrialização.

Felizmente, em Vila do Conde, o Círculo de Operários decidiu enveredar por outros caminhos.

Assim, sem pôr em causa objectivos antigos de fomentar a convivialidade e a participação cívica, o Círculo abriu-se ao movimento cultural da região e do País, não temendo difundir e fomentar, junto dos seus associados e dos cidadãos em geral, as formas mais elaboradas da criação intelectual e artística. Por outro lado, procurou encontrar formas de atrair públicos de extracção social e etária muito diversificada, tornando os seus espaços mais acolhedores e animados. Chegar aos cem anos não foi então, neste caso, uma benesse da providência – foi o resultado de decisões inteligentes e esforços bem direccionados.

Outro aspecto que quero sublinhar diz respeito à capacidade demonstrada pelo Cìrculo para dialogar e actuar de forma conjugada com outras instituições, sejam elas da administração pública local e nacional, da Igreja ou do tecido associativo da comunidade, assim reforçando as dinâmicas culturais e as energias cívicas da Cidade e dos cidadãos.

Não me canso de insistir neste ponto: para podermos todos usufruir de níveis elevados de bem estar, de qualidade de vida e de fruição cultural temos de interiorizar atitudes e métodos de trabalho que privilegiem parcerias e o interrelacionamento aberto com os outros – temos de inventar fórmulas que potenciem os recursos (sempre escassos) ao nosso alcance, temos que fazer das fraquezas forças, temos que ambicionar ir mais além, inventando colectivamente soluções não rotineiras, nem conformadas com quotidianos medócres.

Minhas Senhoras e Meus Senhores:

Desejo reservar as minhas últimas palavras para realçar, mais uma vez, a importância do trabalho desenvolvido pelas equipas técnicas e dirigentes que sustentam a vida de organizações como esta.

Sei bem até que ponto é difícil, hoje, conciliar a vida profissional e familiar com tais exigências. De facto, só com grande abnegação e profundo sentido de serviço e respeito pelo bem comum é possível continuar a lutar pela sobrevivência e recriação do associativismo.

Por isso, quero deixar uma palavra de profundo reconhecimento e gratidão a todos os que, no País, e obviamente em Vila do Conde e no seu Cìrculo de Operários, insistem em demonstrar, quotidianamente, que a cidadania não é uma palavra vã e pode ser reavivada, mesmo em circunstâncias globalmente adversas.