|
|
|||
Discurso de SEXA PR por ocasião do Sessão de Encerramento da Iniciativa Presidencial sobre "Envelhecimento e Autonomia"
Fundação Cidade de Lisboa
Durante quatro dias contactei directamente as realidades complexas do envelhecimento e da dependência. Foi uma oportunidade para tomar consciência, uma vez mais, das alterações do padrão demográfico no nosso País, do acentuado envelhecimento da nossa população e dos esforços realizados para que esse facto se traduza em novas potencialidades para os cidadãos e para dar combate às grandes dificuldades que ele também origina.
Duas dificuldades maiores forma identificadas. Primeira: o envelhecimento desenvolve-se, em associação de causa-efeito, com uma baixa da natalidade, como se o aumento do número de idosos em vez de contribuir para a aposta da sociedade no seu próprio futuro gerasse antes uma atitude geral de retraimento e desconfiança perante a vida. Segunda: a ocorrência significativa de situações de dependência e de isolamento, num contexto de insuficiência de medidas preventivas e de respostas adequadas e estas debilidades. Precisamos de inverter o círculo vicioso do primeiro problema. O aumento da esperança de vida tem de se repercutir também num aumento de esperança na vida. Certamente que esta é uma alteração de fundo das nossas sociedades, que não se obtém por um passe de mágica ou uma medida localizada. Mas temos que a colocar no horizonte das nossas políticas sociais. Dar conteúdo ao chamado envelhecimento activo será uma forma de também combater o problema. Uma valorização das pessoas idosas e do seu papel na sociedade constituirá um contributo de grande efeito para uma mudança da percepção que temos do envelhecimento. Envelhecimento activo pressupõe uma sociedade verdadeiramente activa e solidária. Activa na acção quotidiana, na busca da criatividade, na promoção da dignidade humana e da experiência como elemento de ligação entre as diversas gerações.
Mas testemunhei também o imenso trabalho por fazer, para que todos tenham as condições para enfrentar a doença grave, a pobreza, o isolamento, a incapacitação permanente. É para estas situações que vai a minha preocupação e o meu apelo. Apelo para que as possamos conhecer melhor e reunamos os meios para sobre elas actuar, de forma a repor a equidade e a solidariedade em todos os espaços sociais do nosso País. Do que pude constatar, gostaria de distinguir algumas situações que exigem particular atenção: 1ª – O isolamento de pessoas idosas nos grandes centros urbanos, em especial na Grande Lisboa e no Grande Porto, que nos deve levar a uma reflexão muito séria sobre a forma como estamos a tratar a cidade e os objectivos norteadores do urbanismo. As insuficiências nas acessibilidades, nas qualificações das zonas mais antigas, a desestruturação familiar e a quebra dos laços de vizinhança, a solidão e o isolamento, os ritmos de vida são aspectos que o urbanismo não pode ignorar sob pena de também por essa via acentuarmos as dificuldades do envelhecimento. Só em Lisboa vivem aproximadamente 44 mil idosos sós. 2ª – O envelhecimento em paralelo com a desertificação humana do interior. Este fenómeno, cujas causas são conhecidas, não pode deixar de nos interpelar quanto ao grande tema da equidade territorial e das oportunidades de desenvolvimento para as diversas regiões do País. Ora é também aqui que os serviços para idosos, as respostas com base na itinerância e no apoio domiciliário são fundamentais para aumentar a qualidade de vida dos cidadãos mais velhos.
4ª – Envelhecimento activo, a que atrás me referi. É preciso integrar uma mudança de paradigma de organização social com origem no aumento da esperança média de vida: maior capacidade efectiva de intervenção dos mais velhos na vida social e desenvolvimento de serviços específicos para pessoas idosas. Toda a Europa está a despertar para este paradigma, gizando um conjunto de políticas que permitam aos idosos uma melhoria significativa da sua qualidade de vida. Refiro-me a medidas como o turismo sénior, o trabalho a tempo parcial, o voluntariado, a formação ao longo da vida. Não devemos esquecer que daqui a 20 anos as pessoas idosas terão uma formação mais avançada, provavelmente rendimentos mais elevados e distintas necessidades culturais. Temos que antever essa evolução e prepará-la, promovendo iniciativas que vão no sentido de um envelhecimento positivo e saudável, que previna a dependência e dê significado à vida. 5ª – Revigoramento da sociedade civil, na lógica da responsabilidade e solidariedade cidadãs e cooperação entre instâncias públicas e privadas num regime de parcerias. Finda esta minha Jornada num espaço da Fundação Cidade de Lisboa e no quadro das Universidades da Terceira Idade (UTI), um exemplo de cooperação entre diversas entidades para apoiar actividades de grande relevo de pessoas mais velhas. Congratulo-me com esta feliz coincidência e aproveito para sublinhar o papel das UTIs na activação da esperança das pessoas idosas. De facto a sua intervenção não se resumirá a proporcionar um espaço de entretenimento ou mera ocupação de tempo ou mesmo de partilha de saberes – que já seria muito importante. As UTIs contribuem para o conhecimento da sociedade e dos seus problemas, entre os quais os próprios problemas do envelhecimento. Quero exortar-vos a que aprofundem esse caminho, contribuindo com propostas de solução e participando na respectiva concretização. Espero que este trabalho se itensifique e desejo que as UTIs se difundam por todo o País, pólos dinamizadores de um envelhecimento activo, exemplos vivos do princípio da aprendizagem ao longo da vida e impulsionadores da solidariedade intergeracional. São estes os meus votos finais, ancorados numa forte razão de esperança.
|