Cerimónia de Inauguração das Lápides com o nomedos Militares falecidos ao serviço de Portugal

Torre de Belém
05 de Fevereiro de 2000


Agradeço, reconhecido, aos promotores desta iniciativa o gesto de deferência que tiveram para comigo ao adiar esta cerimónia, permitindo-me, assim, estar aqui hoje convosco.
O Estado Democrático, ao assentar os alicerces do novo regime, saído do 25 de Abril, na Declaração Universal dos Direitos Homem, permitiu ao Estado democrático resolver as causas políticas da Guerra. Mas até hoje, estava por prestar a homenagem devida aqueles que morreram lutando sob o Estandarte de Portugal. Era tempo de o fazer.
Sinto, ao curvar-me em respeito perante a memória destes homens, a mesma comoção que sempre sinto quando, em visita a unidades militares, o clarim soa o toque de silêncio e de homenagem àqueles que ao longo de décadas e séculos tombaram ao serviço do seu país.
Seja-me permitido presumir que talvez eu, pelas funções que desempenho como Presidente da República e por todo o meu passado político, possa deixar hoje, a todos os portugueses, uma mensagem e um apelo.
A nossa responsabilidade maior, aquela pela qual seremos invariavelmente julgados, é para com o futuro de Portugal, garantindo a sua perenidade. É para isso importante, entre tantas outras coisas, naturalmente, que os portugueses aprendam e sintam orgulho em amar e a servir o seu País.
Para o amar têm que o conhecer. Conhecer o território em que vivem e a História que nos permitiu chegar aqui. Uma História com oito séculos. Sobre ela, sobre cada um dos seu momentos mais relevantes, existem sempre, diversas interpretações, por vezes polémicas. Ainda bem, a diversidade de leituras interpretativas é importante.
A grande virtude dos regimes democráticos, em relação às ditaduras, é que a democracia não impõe uma leitura da história excluindo todos aqueles que não se reconhecem numa interpretação oficial. A vitalidade histórica de um povo reside na sua capacidade de compreender essa diversidade e, ao debaté-la, não fazer dela um território de desencontros e de rupturas com a própria história.
Compreendo que a jovem democracia portuguesa tenha tardado em realizar esta cerimónia. Mas ainda bem que assim foi. Feita muito mais cedo, ela não teria encontrado condições para se transformar num gesto verdadeiramente nacional, porque se teria deparado, inexoravelmente, com um contraditório de sentimentos sobre a Guerra em África que só o tempo permite colocar no seu devido contexto. Estaríamos então a debater se está era uma homenagem às causas da guerra, dividindo-nos nisso, e não, como é nossa obrigação a prestar uma homenagem aos portugueses que serviram o seu país.
Só é possível estimular os portugueses a saber servir Portugal, se todos soubermos, devidamente homenagear aqueles que o serviram e por ele morreram. Apelo, por isso, aos portugueses para que saibam sempre servir e amar o seu país e aos poderes públicos para que saibam sempre elevar-se acima das polémicas e homenagear devidamente aqueles que o serviram.
Longe dos juízos da história, ao percorrer o silêncio irreversível daqueles nomes e o drama, irreparável, de quem perdeu a vida, evoco o sentimento e a angústia de quem perdeu os seus familiares. Não há palavra de conforto que minore esse sofrimento. Que este monumento e estas lápides fiquem, por isso, como um testemunho perene desse sacrifício feito sob a Bandeira Nacional.