Sessão de Encerramento do III Congresso de Arqueologia Peninsular

Vila Real
25 de Setembro de 1999


Este Congresso representa, como tem sido sublinhado pelos organizadores, uma forte mobilização da comunidade dos arqueólogos portugueses e espanhóis em torno de temas do domínio da sua actividade e da sua profissão. Encaro com o maior interesse os debates aqui efectuados e as orientações que delas virão a sair, e por isso agradeço à Associação para o Desenvolvimento da Cooperação em Arqueologia Peninsular e à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro o convite para também participar nesta iniciativa.
Tenho acompanhado algumas das principais intervenções da Arqueologia no território de Portugal e estou convencido de que se atingiram padrões de qualidade muito significativos. Por outro lado, a projecção mundial de algumas descobertas arqueológicas recentes, de que Foz Coa se tornou emblemática, ou dos trabalhos em profundidade e rigor no levantamento e estudo de espaços civilizacionais, como Mértola, permite verificar que a arqueologia portuguesa rompeu as barreiras tradicionais de um certo isolamento e deu passos no sentido duma internacionalização.
Congratulo-me com esse facto e por isso saúdo este Congresso, onde arqueólogos portugueses e espanhóis partilham problemas, descobertas, preocupações e hipóteses. Não tenho dúvidas de que este horizonte de cooperação e de desenvolvimento científico é muito importante e representa uma oportunidade que deve ser consolidada.
O entusiasmo que este Congresso suscitou, com um notável número de participantes, efectuando-se numa das Universidades situadas no interior do País, é indicador de que a arqueologia exerce um largo fascínio entre a juventude. Há que corresponder a esse entusiasmo e encontrar possibilidades consistentes de enquadrar na actividade jovens arqueólogos, que renovem, ampliem e reforcem as capacidades já disponíveis arqueologia é um domínio fundamental para o conhecimento do território, uma disciplina a cujo corpo de técnicas e de saberes se tem de recorrer para melhorar a qualidade das intervenções nos espaços moldados pelo homem. Acredito que o caminho da articulação entre instituições com responsabilidades nas políticas territoriais e, em paralelo, o caminho da interdisciplinaridade e da multidisciplinaridade, permitirão à arqueologia crescer, crescer quantitativa e qualitativamente.
Permitirão igualmente, segundo creio, tornar mais fluida e confiante a relação entre a arqueologia e a comunidade. A percepção que se tem da actividade dos arqueólogos, enquanto técnicos do património, evoluiu consideravelmente nas últimas décadas, mas pode ser melhorada se aumentarmos a capacidade e a eficácia das intervenções arqueológicas e a coordenação das políticas de preservação e valorização do património.
Quero, por fim, reafirmar a convicção profunda da importância estratégica do conhecimento sobre o território para o nosso futuro colectivo. Refiro-me não apenas ao plano da acumulação de conhecimentos que habilitem os responsáveis à tomada de decisão. Refiro-me sobretudo aos conhecimentos que ajudem a formar uma consciência pública mais atenta aos problemas e mais participante na sua solução, mais desperta para os riscos e mais empenhada na mudança de atitudes em direcção aos valores da sustentabilidade. O papel da Arqueologia, em cooperação com outras disciplinas que se ocupam igualmente do território, é realmente crucial.
Agradeço a todos vós o esforço realizado e faço votos pelo futuro da vossa actividade.
Gostaria, por último, de me dirigir à comunidade universitária de Vila Real, e peço licença à organização do Congresso para o fazer aqui, saudando a sua generosa mobilização em torno da causa do timorense, num momento particularmente difícil e dramático do longo combate do povo de Timor pela liberdade e independência.
Como em todo o País, Vila Real foi solidária e a sua juventude esteve na primeira linha da condenação da violência e da opressão.
Essa solidariedade vai continuar a ser posta à prova, sob outras formas estou certo. Estou igualmente certo de que saberemos continuar a corresponder aos novos apelos e exigências da paz e da reconstrução de Timor.