Jantar oferecido em honra do Bispo D. Ximenes Belo

Palácio de Belém
10 de Setembro de 1999


Senhor Bispo de Dili, Excelência Reverendíssima,
Num referendo proclamado válido pelas Nações Unidas, os timorenses escolheram de forma serena a liberdade e a independência pela qual lutam há 24 anos. Sobre essa firme vontade os seus inimigos lançaram o terror, a morte e a destruição.
Temos vivido dias de angústia e luto.
Num gesto sem precedentes os Portugueses uniram-se de forma sentida e comovida para expressar a sua indignação e angústia por esse indescritível sofrimento.
O Bispo de Díli sempre foi, para todos nós, um símbolo indiscutível da coragem do Povo Timorense. Permito-me, em nome de Portugal, depositar nas suas mãos o sentimento de um povo que vos quer como irmãos, que sofre o vosso sofrimento e que tudo fará para manter a pressão internacional para que seja garantida a segurança dos timorenses e para que a sua vontade seja respeitada.
Quero exprimir a todos os portugueses o meu reconhecimento pelos gestos de solidariedade que têm tido lugar de Norte a Sul do país. A força desse sentimento é de grande importância para manter bem presente na comunidade internacional o sentimento de revolta perante uma tragédia que se abate sobre um povo que luta pela sua liberdade.
Ao longo destes dias, de forma sistemática e ininterrupta, os responsáveis políticos têm desenvolvido todas as diligências possíveis para que o povo de Timor receba a ajuda de que tão dramaticamente necessita. Eu próprio, o Governo, a Assembleia da República, todos temos concentrado esforços com um objectivo comum: salvar um povo da morte a que o querem condenar.
Infelizmente não depende só de nós. Temos de aliar à emoção medidas iguais de realismo e firmeza, indispensáveis para garantir a continuidade do caminho para a Independência, aberto pelos resultados da extraordinária consulta de 30 de Agosto.
O país inteiro está unido na solidariedade para com o povo de Timor. O vosso sofrimento é indescritível. Mas a vossa tenacidade é indestrutível. É uma Nação que quer ser livre. Que resistirá, mesmo quando os poderes permanecem indiferentes à chacina que sofrem. Que lutará, mesmo quando a esperança pareça ténue. Que lutará sempre pela liberdade da Independência consagrada pela livre escolha do povo.
Ao vosso lado, com orgulho pela enorme coragem e determinação dos timorenses, estará Portugal, unido num único propósito: tudo fazer para travar a onda de violência e fazer respeitar a vontade expressa dos timorenses.
A Independência já venceu o Referendo. A Liberdade vencerá a opressão em Timor Leste.