Jantar oferecido pelo Presidente do México

Cidade do México (Visita de Estado ao México)
12 de Novembro de 1999


Quero, em primeiro lugar, agradecer as tão amáveis palavras que, em nome do Povo mexicano, me dirigiu e que muito me sensibilizaram. Quero, igualmente, dizer quanto nos penhora a calorosa hospitalidade que Vossa Excelência e sua Excelentíssima esposa nos dispensaram, a minha mulher, à comitiva que me acompanha e a mim próprio, desde a nossa chegada a esta terra amiga e acolhedora.
É para mim muito grato estar hoje aqui, acompanhado por uma expressiva comitiva, retribuindo a visita que Vossa Excelência efectuou a Portugal no passado ano. Trata-se, naturalmente, de uma ocasião que reveste, para mexicanos e portugueses, um alto significado, ao salientar os fortes e antigos laços de cooperação, de entendimento e de amizade que nos unem.
México e Portugal marcaram com cunho próprio a história da América e da Europa, participando nas suas mudanças decisivas, nas suas etapas conturbadas, nas suas grandes realizações. Ao longo dos anos, foi valioso e determinado o nosso contributo para o relacionamento tão especial que existe entre os nossos dois continentes, muito particularmente entre a América Latina e os velhos Estados peninsulares da Europa.
Os portugueses habituaram-se a reconhecer nos mexicanos o valor de um Povo que lutou sempre tenazmente pela sua dignidade, pela sua identidade e pela sua liberdade, que soube conquistar corajosas reformas políticas e sociais, que deu inexcedíveis provas de solidariedade para com tantos cidadãos que, perseguidos nos seus países de origem, aqui procuraram refúgio.
Terra imensa, situada na encruzilhada das grandes culturas e civilizações pré-colombianas, Olmecas, Toltecas, Aztecas, Maias, entre outros, forjaram a forte personalidade e o nobre carácter dos mexicanos. A chegada dos europeus, com os encontros e desencontros que acarretou, não apagaria os traços perenes das antigas culturas autóctones, que se transformaram mas não se perderam. No génio dos grandes criadores mexicanos ecoa e fermenta a poderosa dialéctica e a feliz síntese desta fecunda herança, a par de um espírito sempre aberto à modernidade que, em muitos momentos do século XX, inscreveu este grande país na vanguarda da cultura mundial.
Na nossa história e na nossa cultura, vários são os contactos que mutuamente nos enriqueceram. Evoco, por exemplo, a fascinante figura de Luís de Carvalhal, que aqui se fixou no século XVI- como tantos cristãos-novos lusos - vindo a fundar o Reino de Nuevo León. Recordo igualmente a divulgação por Octavio Paz da obra de Fernando Pessoa, que tanto contribuiu para o conhecimento do genial poeta português no mundo de língua espanhola, a quem esta noite prestámos, também por isso, merecido tributo. Quero ainda homenagear a memória de Pavel, o histórico resistente antifascista português, que nesta terra generosa viveu um longo exílio.
Adoptando o nome de Antonio Rodriguez, privou com as maiores figuras da cultura deste país e ganhou, através da sua obra multifacetada e da sua cativante personalidade, a admiração e a estima dos mexicanos.
Senhor Presidente,
Mexicanos e portugueses respeitam-se e estimam-se mutuamente e são hoje animados pelo comum afã de estreitar ainda mais os laços que nos unem. O notório aumento do intercâmbio de visitas ao mais alto nível verificado nos últimos anos diz bem da nossa vontade em fortalecer as relações bilaterais, alargando-as a um número crescente de áreas de interesse recíproco. As corajosas reformas políticas, económicas e financeiras que o México levou a cabo nos últimos anos vieram, sem dúvida, criar condições para desenvolver ainda mais este relacionamento.
Queremos aproveitar plenamente as potencialidades e complementaridades das nossas economias, aumentando os investimentos recíprocos e o volume das trocas comerciais, queremos atrair mais turistas mexicanos a Portugal e trazer mais portugueses a terras mexicanas, queremos intensificar e diversificar os intercâmbios culturais, queremos, em suma, melhorar o nosso conhecimento mútuo. O programa desta minha visita e a comitiva que me acompanha testemunham bem estes nossos anseios.
Portugal é hoje uma democracia moderna, um país comprometido com os grandes desafios do nosso tempo. 25 anos após a revolução de Abril, podemos dizer, com legítima satisfação, que a nossa voz é ouvida e respeitada na cena internacional. O nosso contributo para a construção de uma sociedade global mais justa e mais humana é firme e continuado.
Paralelamente, a nossa economia acompanhou as profundas mutações que o país conheceu nos últimos anos, modernizando-se e internacionalizando-se de forma irreversível. Em 1998, facto inédito na nossa história, o investimento português no exterior superou o investimento estrangeiro em Portugal.
No mesmo ano, fomos o sexto investidor, de entre os países da União Europeia, no conjunto da América Latina, dado este que revela uma nova e muito positiva dinâmica de diversificação dos destinos do investimento português.
Nos últimos anos, a cultura portuguesa conheceu igualmente uma notória projecção, nas mais diversas áreas, contribuindo poderosamente para a afirmação do país no mundo. A esta irradiação da nossa literatura, do nosso cinema, das nossas artes plásticas, da nossa música, da nossa arquitectura, correspondeu naturalmente um renovado interesse pela língua portuguesa, pátria de Fernando Pessoa e de mais de duzentos milhões de luso-falantes.
Temos pois um amplo campo de acção para o reforço das nossas relações bilaterais.
No quadro das relações externas da União Europeia, a América Latina tem vindo a assumir crescente importância, confirmando uma aposta estratégica que Portugal sempre apoiou com vigor. Naturalmente que continuaremos empenhados em contribuir para o fortalecimento destas relações durante a nossa próxima presidência da União.
Acreditamos que para aproveitar de forma positiva o presente fenómeno da globalização é fundamental fortalecer os distintos processos de integração regional e aumentar a complementaridade entre eles.
Neste sentido, não posso deixar de saudar os resultados alcançados na Cimeira do Rio, assim como os esforços do México - que partilhou a sua presidência com o Brasil - para que esta histórica reunião significasse um importante passo em frente no sentido de uma parceria cada vez mais consistente e objectiva entre a América Latina e a Europa. Escusado será dizer que Portugal nisso se empenhou de forma activa e entusiasmada.
Espero, por outro lado, que a negociação em curso com vista à conclusão do Acordo de Livre Comércio entre a UE e o México chegue a bom termo, o que, a concretizar-se, viria, sem dúvida, permitir encetar uma nova etapa nas nossas relações.
Quero igualmente sublinhar a acrescida utilidade e projecção internacional que vem tendo o diálogo político e a cooperação entre os países ibero-americanos, no quadro dos nossos encontros anuais de Chefes de Estado e de Governo.
Dentro de dias, em Havana, prosseguiremos a reflexão tão proveitosa que iniciámos no Porto, debatendo a situação financeira internacional numa economia globalizada. Estou certo de que, mais uma vez, a partir de um debate franco e aberto, lograremos reforçar o entendimento comum sobre uma matéria que a todos nos diz respeito, identificando os desafios que se nos deparam e apontando as respostas que estes nos exigem.
É necessário aumentar a cooperação política entre países e espaços regionais, é preciso concertar esforços no sentido de corrigir as assimetrias que cada dia vemos acentuarem-se quer no interior dos estados menos prósperos, quer entre estes e os mais desenvolvidos. É indispensável encontrarmos um equilíbrio entre a lógica do mercado e os valores da equidade, que precisamos de defender através de um impulso político firme e decidido. É necessário ponderar quais as reformas do sistema financeiro internacional que permitam melhor adaptar as instituições de Bretton Woods às novas realidades e exigências dos nossos dias.
Senhor Presidente
Muitos são os desafios que o tempo presente nos convoca. Muitas são as dúvidas e as interrogações para as quais teremos de saber encontrar as respostas adequadas. Muitas são as esperanças por cumprir.
Permita-me que de entre essas muitas esperanças aqui destaque uma: a esperança de um dia podermos ver garantido pela Comunidade Internacional o valor inalienável da dignidade da pessoa humana; a esperança de um dia podermos confirmar que, nas relações internacionais, o respeito dos princípios constitui condição de legitimidade dos interesses.
O caso de Timor Leste, que Vossa Excelência bem conhece, forneceu-nos, infelizmente, a ocasião para demonstramos que é difícil mas possível concretizar a esperança de construir uma sociedade internacional comprometida com a salvaguarda dos valores e dos princípios em que diz rever-se. Assim a sua resolução - para a qual as Nações Unidas e tantos países vêm prestando um inestimável contributo - possa constituir um passo firme no caminho para uma nova sociedade internacional.
Ciertamente que los mexicanos y los portugueses tienen un papel que desempeñar en la tarea conjunta – y que debe movilizar a todos los países – de construir un mundo más solidario, más justo, más humano, más equilibrado, más desarrollado. En las organizaciones internacionales y regionales de que formamos parte, en nuestras relaciones bilaterales con otros Estados, tengo la seguridad de que sabremos corresponder a los ideales comunes que nos animan.
Señor Presidente,
En el transcurso de esta visita, tendremos la oportunidad de conocer mejor este gran país y también, de darnos mejor a conocer. El rescaldo de este primer día nos brinda la seguridad de que de él saldrán fortalecidos los lazos de amistad y de cooperación que nos unen, asi como nuestro conocimiento mutuo.
Quiero reiterar a usted y a Su Excelentísima Señora Esposa mi muy sincero agradecimiento por la calurosa acogida que nos han dispensado a mí, a mi esposa y a la comitiva que me acompaña. Les pido que me acompañen en un brindis por su felicidad personal Señor Presidente, por la prosperidad creciente del pueblo mexicano y por el refuerzo constante de la cooperación entre México y Portugal.
Muchas Gracias