Alocução aos Militares das Forças Armadas e Elementos dos Contingentes da PSP, Destacados na Bósnia-Herzegovina

Viktovice — Bósnia-Herzegovina
08 de Junho de 1996


E´ com particular emoção que me dirijo a todos vós, militares e elementos da PSP que prestam serviço na Bósnia ao serviço da paz.
Quis estar convosco nesta data, sob o signo do dia de Portugal.

Quis testemunhar, aqui, o reconhecimento da Nação pelo valor, pelo alto profissionalismo, pela forma como todos os soldados portugueses estão a cumprir as suas missões no quadro de operações internacionais de paz na Bósnia, em Angola e em Moçambique.

O modo exemplar como têm desempenhado as vossas missões, tantas vezes em situações de alto risco, honra Portugal e os Portugueses.

Sois todos representantes de Portugal, dos valores essenciais da paz, da liberdade e da solidariedade que definem a nossa identidade e a nossa maneira de estar no mundo.

Estou hoje também aqui para sublinhar a importância da nossa presença nos esforços para restabelecer a paz e garantir a segurança nesta terra martirizada, ao lado dos nossos Aliados e parceiros.

É a primeira vez que Portugal volta a intervir num conflito europeu desde a I Grande Guerra. O destino permitiu-nos não sofrer os horrores da II Guerra Mundial e a Aliança Atlântica, de que somos membros fundadores, pôde assegurar, durante quarenta anos, a paz na Europa.

O regresso da guerra, com a decomposição da antiga Jugoslávia, marcou uma viragem e constitui uma ameaça real à segurança e à estabilidade da Europa a que não poderíamos ficar indiferentes.

A nossa segurança é de facto indissociável da segurança europeia e a defesa nacional é inseparável da defesa colectiva dos nossos aliados da comunidade transatlântica. Tudo o que diz respeito à segurança e à estabilidade da Europa diz respeito à segurança e à estabilidade de Portugal.

A vossa presença na Bósnia traduz esta realidade e assinala a nossa determinação em cumprir, solidariamente, os deveres inalienáveis de Portugal como membro responsável da comunidade internacional.

Somos uma velha nação e um Estado antigo, para quem o cumprimento das obrigações internacionais é um dever de honra indiscutível.

Mas para além destas obrigações, existe um dever moral que se nos impõe: a defesa dos ideais de justiça, de liberdade, de convivência pacífica entre homens e culturas, de respeito intransigente pelos direitos humanos, dos valores que constituem, afinal, a base do projecto europeu que defendemos e que são a condição essencial da verdadeira paz e do progresso.

É também este o sentido da vossa presença na Bósnia.

É necessário voltar a acreditar na paz.

Portugal e os Portugueses têm os olhos postos em vós. Sei que podem contar convosco, já que estou certo que continuarão a cumprir esta difícil missão com o profissionalismo, a dedicação e o sentido do dever que é o vosso.

A todos, um grande e reconhecido abraço.