Cerimónia de Imposição de Insígnias das Ordens Honoríficas a Empresários, Investigadores e Académicos (Jornada da inovação e da competitividade)

Salão Nobre do Paço Ducal de Guimarães
06 de Fevereiro de 1997


Visitei, nos últimos dias, um conjunto de empresas e centros de investigação, procurando assim chamar a atenção do País para a importância que a modernização das estruturas produtivas nacionais tem na definição do nosso futuro colectivo. Pretendi trazer para primeiro plano duas ideias mobilizadoras: a da necessidade de estimular as atitudes de inovação e os factores de competitividade das empresas e a necessidade de promover uma mais forte e diversificada ligação entre as empresas e a investigação.
Assim, visitei unidades produtivas e de pesquisa tecnológica ou científica que ilustram as virtualidades dessa ligação. Contactei em diversos pontos do País com situações em que foi possível criar uma dinâmica inovadora sustentada. Testemunhei casos exemplares de empresas que souberam vencer obstáculos e atingiram altos níveis de competitividade.

Como já tive ocasião de referir, na actual fase de integração da economia portuguesa na Europa Comunitária — em que está em jogo a possibilidade de darmos um salto qualitativo que atenue conhecidas vulnerabilidades e dependências económicas —, um dos trunfos fundamentais que temos de ter à nossa disposição e impor na concorrência internacional é o da capacidade de mobilizar conhecimentos avançados em todos os domínios do saber que, directa ou indirectamente, se relacionam com o desenvolvimento da base tecnológica e com a mudança organizacional das empresas.

É hoje claro que sem inovação, empresarial ou tecnológica, sem a conquista de posições numa concorrência internacional acrescida, não há futuro para e economia portuguesa.

Mas inovação científico-tecnológica e competitividade empresarial devem ser vistas sempre em relação com o grande objectivo do desenvolvimento, e este tem de se referir não apenas à componente do crescimento económico, mas ao aperfeiçoamento global das condições de existência das mulheres e dos homens concretos que, dia-a-dia, vão forjando o sentido da nossa História.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Pretendi, com este meu gesto, manifestar igualmente o meu vivo apreço por todas as iniciativas que se traduzam em estímulo à criação de um clima favorável à inovação e, de forma particular, as que visam apoiar a actividade científica no País.

A criação de um Ministério da Ciência, que se propõe fazer subir os índices da investigação em Portugal, deve ser aplaudida. Contra a ciência não há futuro.

Pretendi também manifestar à Universidade portuguesa o quanto valorizo as suas iniciativas orientadas para um entrosamento aberto e franco com o mundo empresarial.

Pretendi, por fim, exortar as empresas a reforçarem o seu envolvimento na inovação, a sua percepção das implicações geradas pela globalização dos mercados, e a prestar uma atenção nova aos temas da investigação científica.

Tenho a consciência de que a todos é necessário pedir que redobrem os seus esforços.

O Governo sabe que contará com a cooperação institucional do Presidente, e neste plano específico, uma inequívoca manifestação de apoio a todas as medidas que visem melhorar a investigação e favorecer um clima propício à inovação.

A Universidade sabe igualmente que não desistirei de apoiar o seu trabalho, como insistentemente o tenho feito, sem deixar de pôr em evidência que tal caminho a todos exige uma redobrada atenção à qualidade do ensino ministrado e da pesquisa efectuada.

Os empresários sabem que jamais deixarei de louvar as suas iniciativas sempre que elas visem adequar as actividade das suas empresas às exigências da inovação e da competitividade, em detrimento da procura duma vantagem imediatista num mercado sem horizontes.

A todos, porém, não deixarei de expressar sempre uma convicção profunda. Acredito que a construção do nosso futuro colectivo depende, em grande medida, de combatermos, em vez de contemporizarmos, com as soluções mais fáceis, ou mais cómodas.

Acredito, sim, que o nosso futuro colectivo depende de sermos capazes, com coragem, e também, por vezes, com sacrifícios, de aumentar os padrões de exigência, de rigor, de profissionalismo. Em tudo: no governo da res publica, na aprendizagem dos nossos jovens, na qualificação profissional dos nossos trabalhadores e na modernização dos nossos sectores produtivos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Tenho procurado ao longo destes meses de mandato, vincar os aspectos positivos da nossa vida colectiva: os casos onde se ilustra a possibilidade de superar vulnerabilidades e eliminar as desvantagens comparativas, ultrapassar atavismos, vencer a inércia, o atraso e a dependência; onde se exprimiram novas dinâmicas e novas determinações, onde se trilharam caminhos novos, com vista a um desenvolvimento que tome o cidadão como centro e alvo das preocupações de melhoria.

Quero dar a conhecer a todos os portugueses a força, a motivação e confiança nas suas capacidades, que ressaltam dessas situações exemplares.

Mas ninguém se iluda: o Presidente está informado e atento à realidade portuguesa, na sua globalidade e não ignora a extensão dos seus problemas, designadamente a extensão do fenómeno da exclusão social.

Em cada gesto em que exprimo o apoio a um caminho possível, ao êxito de uma iniciativa, a um exemplo que pode ser transposto, deixo também, associada, uma mensagem clara que, permitam--me, realce hoje de novo.

Não podem nunca aqueles que puderam vencer esquecer aqueles que continuam a experimentar sérias dificuldades no seu quotidiano.

Quero exaltar, como o faço nesta cerimónia de condecorações, a afirmação do mérito, mas não podemos perder de vista os valores do humanismo e da solidariedade. São eles que assinalam a diferença para uma meritocracia sem ética nem valores sociais.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

O combate à exclusão social não é uma responsabilidade exclusiva dos governos. Espero que a esse respeito não restem dúvidas a ninguém.

Nenhum governo será capaz, por si só, dispondo apenas dos recursos financeiros do Estado e por sua exclusiva iniciativa, de conter e combater as múltiplas formas da moderna exclusão.

Compete a todos, do Governo aos agentes económicas e sociais, das instituições aos cidadãos, na Administração Pública, no sistema de ensino, no sistema judicial, tomarem a solidariedade como valor capaz de combater a exclusão, de diminuir a possibilidade de dramáticas tensões sociais, de evitar a fragilização de grupos sociais, mantendo assim condições indispensáveis ao desenvolvimento harmonioso do País.

A modernização tecnológica e organizacional do tecido produtivo, a preservação do meio ambiente, a articulação entre empresas e inovação são, entre outros, factores cruciais de desenvolvimento sustentado.

Mas as condições sociais do desenvolvimento são igualmente decisivas.

Sobre elas, contudo, parecem cair menos as atenções. Nada pode ser mais errado. A manutenção ou o aumento dos actuais
padrões de exclusão social condicionarão fortemente o desenvolvimento de Portugal. Ninguém ficará incólume às suas consequências.

Não faltarão, ao Presidente da República, em futuras iniciativas, oportunidades para abordar directamente este tema das dimensões sociais da exclusão, parareflectir sobre as condições de superação de muitas dessas condições, de sublinhar exemplos, que felizmente os há, de experiências que provam que é possível fazer mais do que aquilo que até agora se tem feito. Tudo tem o seu tempo.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Ficaram, naturalmente, muitos sectores de actividade por abordar, e tantos outros exemplos onde se garantiu o êxito desta ou daquela empresa com apostas fortes na inovação e na competitividade. Todavia, estendo através dos sectores que nesta minha deslocação foi possível abordar, o testemunho a todos os outros e manifesto o empenho do Presidente da República em apoiar todos as iniciativas que sustentem e melhorem a competitividade das nossas empresas.

Tenho procurado conhecer o passado histórico de Portugal. Julgo conhecer profundamente as circunstâncias e condicionalismos do presente. Sei que há estrangulamentos e debilidades estruturais. Mas espero, sinceramente, que o caminho que julgo possível para o País, se torne realidade.

Tenho encontrado, em todas as minhas deslocações, sinais claros da possibilidade de construir esse caminho. Mas que a ninguém restem dúvidas. Esse caminho não reside na história, que apenas nos ajuda a compreender como chegámos até aqui. Ele terá que ser uma construção. Uma construção colectiva, quotidiana, feita com muita determinação e exigência. Feita enfim com o esforço solidário, a participação e a tolerância de todos. Feita com amor por Portugal e amor, afinal, pelo futuro dos Portugueses.

Viva Portugal!