|
|
|||
A Mário Soares (No acto do seu agraciamento com o Grande Colar da Ordem da Liberdade)
Palácio Nacional de Queluz
Este acto — que quis fosse o primeiro do meu mandato — representa, no seu sóbrio mas intenso simbolismo, um testemunho veemente de gratidão e o preito de homenagem prestado a uma grande figura da democracia e da liberdade, ao combate que travou por estes ideais, à sua acção moral e política para os realizar.
A presença aqui de tão ilustres convidados, dignatários de tantos países amigos, que nos dão a honra de estar connosco, confere a esta cerimónia a projecção e o alcance dignos da personalidade ímpar que homenageamos e do reconhecimento tão vasto que lhe é dedicado. Vossa Excelência, Senhor Doutor Mário Soares, vai receber o Grande Colar da Ordem da Liberdade, grau que, como é sabido, se destina a agraciar exclusivamente Chefes de Estado em exercício de funções. A circunstância, que se reveste de carácter extraordinário, de esta condecoração lhe ser entregue na hora em que deixa de exercer o cargo de Presidente da República, quer pôr justamente em evidência os méritos excepcionais da sua personalidade e a grandeza da obra que tem realizado, como tal considerada nacional e internacionalmente. Criada na sequência da Revolução dos Cravos, em 1976, por decisão de um Governo presidido por Vossa Excelência, a Ordem da Liberdade destina-se a «galardoar serviços relevantes pres tados à causa da Democracia e da Liberdade», distinguindo cidadãos que se notabilizaram «pela sua devoção à causa dos Direitos Humanos e da Justiça Social, nomeadamente na defesa dos ideais republicanos e democráticos». Ninguém mais do que Mário Soares merece, por isso, esta distinção, no seu mais alto grau. A sua vida confunde-se com a luta pela Liberdade, pelos Direitos Humanos, pela Solidariedade. Ele é, aos olhos do mundo, pelo seu combate, antes e depois do 25 de Abril, símbolo da democracia portuguesa. Dotado de invulgar coragem e determinação, resistiu e combateu heroicamente a ditadura, durante décadas de «combate desigual». Foi preso, exilado, deportado, perseguido. Nunca desistiu, nunca transigiu, nunca se acomodou. Depois do 25 de Abril, foi em boa medida graças a ele que a democracia portuguesa encontrou o seu rumo, por entre tantos perigos e tentações ilegítimas. Em todos os altos cargos públicos que desempenhou, a Liberdade foi sempre o sentido último da sua acção e do seu magistério. Homem de convicções, Mário Soares é um humanista, um homem universal, com uma cultura de abertura ao que é diferente e novo, curioso de tudo, um homem que ama a vida. Antes de ser o homem de liberdade que todos reconhecemos e saudamos, ele é, como poucos, um homem livre e insubmisso. Seja-me permitido uma nota pessoal: Nada me é mais grato do que este acto de justiça e de homenagem. Conheço Mário Soares há trinta anos. Sou seu velho amigo e admirador. Fomos e somos companheiros de combates pelas mesmas causas. Compreende-se, por isso, que à honra que tenho de lhe suceder como Presidente da República, por escolha livre dos Portugueses, junte a emoção que sinto por lhe poder, aqui e neste momento, manifestar perante tão altas personalidades, o reconhecimento e a homenagem por tudo o que tem feito pelos grandes ideais da liberdade, da democracia, da justiça e da paz, constituindo-se como um exemplo e uma referência que passam as fronteiras de Portugal.
|