A Óscar Lopes (Na entrega do Prémio «Vida Literária» da APE)

Porto
17 de Maio de 1996


E´ com muito gosto e interesse que participo neste justíssimo acto de homenagem ao Prof. Óscar Lopes. Mas para além dos sentimentos pessoais de estima e apreço que, só por si, justificariam a minha presença, considero também ser meu dever, como Presidente da República, estar presente nesta cerimónia de entrega de um tão importante prémio literário que, nesta sua edição, é atribuído a uma personalidade muito marcante da nossa cultura, acrescentando assim o conjunto ilustre dos nomes, distinguidos em ocasiões anteriores, de Miguel Torga, José Saramago e Sophia de Mello Breyner.
Foi muito feliz a ideia de criar este Prémio destinado a consagrar uma vida dedicada à literatura. Saúdo a Associação Portuguesa de Escritores e a Caixa Geral de Depósitos, sem a qual esta iniciativa não seria possível. É um exemplo de mecenato cultural que é muito justo pôr em evidência e louvar.

Os prémios literários não são tudo, como é sabido. Mas servem para expressar gratidão, para distinguir o trabalho feito e a obra criada, para chamar a atenção para um livro, para homenagear um autor, para honrar a dedicação e o talento. Têm essa valia, sobretudo num meio como o nosso em que, por razões várias, tantas vezes a informação cultural não tem a divulgação e o
relevo que lhe compete por direito.

O Prémio que hoje é entregue a Óscar Lopes tem o sentido da homenagem, da gratidão, do louvor e do respeito. A obra do grande mestre é uma referência da nossa crítica e dos nossos estudos literários. A sua História de Literatura Portuguesa, escrita com António José Saraiva, formou, como toda a gente sabe, gerações sucessivas de estudantes e de estudiosos. Os seus ensaios sobre autores, obras e temas literários são modelares.

Professor de uma dedicação inteira aos seus alunos, personalidade rigorosa e exigente consigo própria, que alia uma enorme competência a uma impressionante capacidade de trabalho, Óscar Lopes é uma grande figura, como tal reconhecida e apreciada.

A sua profunda formação nas disciplinas linguísticas e literárias, a sua experiência de leitor minucioso e informado, a sua abertura a novas metodologias científicas e a novas concepções filosóficas, fazem da sua vasta obra, realizada ao longo de mais de meio século de labor infatigável, um exemplo de fecundidade e de honradez intelectual.

O Prémio Vida Literária cabe-lhe, por isso, com inteira justiça e propriedade. Nele, a vida e a literatura confundem-se. Nestes cinquenta anos, esteve atento a tudo o que foi publicado, ajuizando, interpretando, situando. Nunca escondeu as suas ideias filosóficas e políticas, assumindo-as sempre com clareza e frontalidade.

Como Presidente da Associação Portuguesa de Escritores que também foi e no desempenho de outros cargos de natureza cultural, nacionais e internacionais, deixou uma memória de probidade, dedicação e empenhamento.

Agradeço as palavras gentis que me foram dirigidas e felicito calorosamente o Prof. Óscar Lopes por esta distinção tão merecida. Desejo-lhe as maiores felicidades para que possa continuar o seu tão importante trabalho, como todos desejamos.