Cerimónia de Entrega do Prémio BIAL

Porto
04 de Abril de 1997


Tenho-me referido frequentemente aos grandes problemas que se colocam a Portugal e não tenho escondido alguma preocupação perante situações complexas como a integração europeia, o emprego, o desenvolvimento equilibrado do espaço nacional, mas reafirmo, também, a minha enorme confiança na determinação dos Portugueses em desenvolver mecanismos e potencialidades que permitirão dar resposta a esses e a tantos outros problemas.
Disse-vos há cerca de um ano, na sessão de abertura do 1º Simpósio da Fundação BIAL dedicado ao tema “Aquém e Além do Cérebro” que o grande desafio que hoje se coloca às sociedades é o da sua capacidade para investirem na educação, na ciência e na cultura. É isso que distingue as sociedades que querem e podem desenvolver-se daquelas que ficarão presas, como uma fatalidade, a um atraso crescentemente irrecuperável.
Nos últimos vinte anos conseguiram-se importantes resultados na saúde dos portugueses e indicadores significativos como a taxa de mortalidade infantil e a taxa de mortalidade materna apresentam hoje valores semelhantes aos dos países da Europa mais desenvolvida.
O País alcançou estes resultados através de um conjunto de medidas, política e tecnicamente sustentadas, de planeamento familiar, de assistência pré-natal, de protecção à maternidade e infância, de vacinações, de universalização do parto hospitalar, que honra quem as decidiu, enquanto legislador mas, em especial, permitam-me sublinhar, os médicos e outros profissionais de saúde que as praticaram no dia-a-dia com inexcedível competência, empenhamento e determinação.
Devemos, portanto, ter orgulho nos resultados do Serviço Nacional de Saúde, mas também constatar que o modelo desenhado no final da década de 70 já não responde de uma forma eficiente e equitativa às expectativas dos Portugueses.
Persistem problemas com a equidade e a qualidade do Serviço Nacional de Saúde, de que são preocupante exemplo as listas de espera em muitos hospitais públicos para consultas, intervenções cirúrgicas, meios complementares de diagnóstico.
Estou certo de que o debate, já iniciado, sobre o Sistema de Saúde Português será centrado no cidadão, começando por saber quais são os problemas de saúde dos Portugueses, qual é a sua dimensão, qual a prioridade nacional que lhes é atribuída, quais os métodos mais efectivos para os resolver.
Por isso, a investigação em Medicina é desde logo necessária para a elaboração de inventários criteriosos e de modelos explicativos para os problemas que afectam a comunidade.
É por isso que me associo com muito gosto a esta cerimónia de atribuição do Grande Prémio BIAL de Medicina e do Prémio BIAL de Medicina Clínica.
Estamos aqui perante exemplos marcantes da compreensão desse problema. Compreensão, desde logo, por parte do Grupo BIAL que, há mais de uma década, atribui prémios a obras relevantes de investigação nesta área.
Aliás, a criação da Fundação BIAL, em conjugação com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, constitui, também, um sinal importante e positivo no relacionamento necessário, na concertação estratégica, entre a Universidade e a Indústria.
Mas é aos investigadores, e em especial aos que hoje premiamos, que quero expressar um agradecimento e um apelo.
Um agradecimento pela sua dedicação em favor da investigação científica, quer permite ultrapassar uma visão exclusiva do imediato, absorvida por problemas de natureza económica, em favor de uma visão mais ampla de desenvolvimento social sustentado.
Um apelo para que os resultados da sua investigação possam contribuir para assegurar à generalidade dos portugueses maior qualidade de vida e para que as usas capacidades possam ser utilizadas para dar resposta às exigências do presente e do futuro que se adivinha.