Semana da Educação - Jantar com Associações de Professores e Representantes das Instituições de Formação de Professores

Palmela
23 de Janeiro de 1998


Estou na fase final de uma semana intensa dedicada à educação. Falei com centenas de professores e apercebi-me das suas inquietações e do trabalho que realizam muitas vezes em situações de extrema dificuldade. Como é evidente, não poderia terminar esta iniciativa sem receber as associações e as instituições de formação. Os meus últimos gestos são para os professores (hoje) e para os alunos (amanhã).
Permitam-me que retome duas ideias do discurso de abertura da Semana: a necessidade de celebrar compromissos concretos, nomeadamente no plano profissional; e a urgência de resgatar o prestígio social dos professores.
Gostaria de explicar, em primeiro lugar, o meu entendimento de compromisso profissional. Os professores construíram a sua identidade num tempo marcado por muitas certezas e por uma crença total nas potencialidades da Escola. Foram a referência principal de uma ideia de sociedade que prometia a educação, a cultura e o bem-estar social para todos os cidadãos. Às escolas de formação e às associações de professores coube a tarefa de consolidar um espírito de corpo e de promover o valor social da educação. Os mestres do princípio do século não enjeitaram as responsabilidades e os compromissos com os seus alunos. É verdade que nunca foram devidamente recompensados do ponto de vista económico, mas em contrapartida era altamente prestigiada a sua imagem social. Os tempos mudaram e os professores também. Mas os novos compromissos profissionais devem honrar este património. Nos últimos dias, ouvi professores falarem dos seus alunos com a consciência de quem sabe que a Escola tem de cuidar do seu presente e do seu futuro. Senti que a expansão do ensino e as novas formas de exclusão social voltam a conceder aos professores um papel crucial no destino de muitas crianças. É por isso que se torna necessário desenvolver uma cultura de exigência e de rigor. Não é justo que professores dedicados e competentes fiquem “reféns” de colegas menos conscientes e menos capazes. Mas esta cultura deve nascer no seio do próprio professorado, dando origem a modalidades de avaliação e de controlo, mas também a estratégias de apoio e de diversificação das carreiras docentes.
A segunda observação prende-se com a necessidade de resgatar o prestígio social dos professores. No decurso desta Semana visitei colegas vossos que trabalham em condições que provavelmente nenhum outro profissional aceitaria. Em escolas num estado deplorável, situadas em bairros difíceis ou em zonas isoladas, senti um entusiasmo que me tocou. E, no entanto, este trabalho é pouco reconhecido pela sociedade. Os professores são o receptáculo de todos os males sociais, mas a sua imagem degrada-se à medida que se lhes exige cada vez mais. Tive a preocupação de dar visibilidade a tarefas que ficam frequentemente no esquecimento: a luta contra a exclusão, o apoio a alunos com dificuldades, a prevenção da toxicodependência, a promoção da saúde, a integração de crianças deficientes. Neste esforço encontrei frequentemente mulheres (educadoras e professoras), que marcam com a sua presença os lugares onde a intervenção pedagógica, social e comunitária é mais difícil.
O reforço do prestígio dos professores passa, em grande medida, pela nova cultura profissional de que falei e por uma maior ligação às comunidades locais.
A terceira reflexão diz respeito à importância de compreender a nova missão dos professores. A homogeneização da cultura e a consolidação de uma cidadania nacional foram a razão de ser da profissão docente. Hoje, a ideia de que a escola deve ser devolvida à sociedade, responsabilizando a sociedade pela escola, provoca mudanças de grande significado. É um projecto do maior alcance político e cultural. Mas é bom lembrar que o êxito de qualquer dinâmica de colaboração passa pelo respeito de todos os intervenientes. A maior presença dos pais e das comunidades no espaço escolar deve contribuir para um reforço do prestígio, das competências e da autonomia profissional dos professores. Uma parceria eficaz implica que cada um saiba exactamente qual é a sua função e esteja disposto a prestar contas do trabalho realizado. Então, as vantagens da partilha e da cooperação tornar-se-ão evidentes. E cada parceiro aprenderá a tirar partido da acção do outro.
Os comentários anteriores têm incidências directas na formação de professores. Esta é uma área da maior importância, tanto pela aquisição dos conhecimentos e das competências que permitem uma adaptação constante às realidades da profissão, como pela apropriação dos valores que configuram uma nova atitude deontológica. As exigências que se fazem, hoje, aos professores implicam o desenvolvimento de modelos de formação que tenham em conta as missões que serão chamados a desempenhar na sociedade do futuro.
O associativismo docente e a formação de professores constituem aspectos essenciais para uma nova compreensão do trabalho docente. Compete-nos fundar uma cultura pedagógica humanista e uma cultura profissional responsável. São elas que legitimam um maior reconhecimento social da profissão docente.
Os professores são, dentro da Escola, as figuras de referência da actividade escolar e tudo depende, em larga medida, das suas competências e dos seus compromissos. Porque, como disse ontem em Abrantes, é da vossa felicidade e da vossa capacidade que os alunos aprendem. Pela minha parte, desejo que o país conceda aos professores a importância que merecem. Tudo farei para que assim seja.