Sessão Solene de Encerramento das Comemorações dos 150 Anos do Grémio Literário

Lisboa
13 de Março de 1997


É com imenso gosto e interesse que estou presente nesta sessão que encerra as comemorações dos 150 anos do Grémio Literário, instituição antiga e prestigiada, de ilustres tradições liberais e que é depositária de um riquíssimo património cultural e cívico.
Agradeço as palavras tão amáveis que o seu Presidente e meu Amigo, Dr. Sales Lane, teve a gentileza de me dirigir. Manifesto também o meu caloroso reconhecimento pela distinção que me quiseram conceder ao fazer-me sócio honorário desta Casa, na companhia de tão notáveis personalidades, que quero saudar vivamente. Tomo esta honra como uma responsabilidade maior na defesa dos valores da tolerância, do pluralismo e da convivência que o Grémio, desde sempre, assumiu como seus e que se traduzem na abertura ao espírito e à cultura, numa arte de viver e de conviver, numa elegância moral que o nosso tempo precisa de cultivar.
A história desta Casa é, em larga medida, a história dessa arte de convívio e de tolerância. Ao Grémio Literário têm estado ligados os maiores vultos do último século e meio. Mas não apenas figuras reais.
Também personagens inesquecíveis da nossa literatura que aqui tomaram chá, conversaram, receberam notícias tristes e alegres, graças ao génio dos que as criaram. Para todos, o Grémio foi um lugar de referência e uma marca de identidade cultural e social. Aqui, se aprendeu e ensinou, se concordou e se descordou, se leu e escreveu, se marcaram duelos e desforras, se tomaram iniciativas altruístas, se passou tempo à espera de aventuras e negócios do coração ou da fazenda. Aqui, se repousou das fadigas e das desilusões, se sonhou e se conspirou. Aqui, fizeram-se e desfizeram-se governos e reputações, planearam-se revoluções, glorificaram-se e destruíram-se livros e autores, seguiram-se e influenciaram-se acontecimentos, públicos e privados. O Grémio foi e é tudo isto.
Cenário tradicional da nossa vida cultural e política, situado nesta geografia única e mágica do Chiado que, embora sujeito a vicissitudes e desastres, renasce das suas próprias cinzas para voltar a ser o Chiado de sempre, o Grémio Literário quer enfrentar os novos tempos com confiança e sentido de renovação. As alterações dos gostos e dos hábitos quotidianos, a aceleração do tempo, as mudanças da vida exigem capacidade de inventar novas formas de relação. Se for preciso, devemos mesmo fazer uma pedagogia do convívio, do debate, da troca de opiniões, da paixão das ideias, da preocupação pelos destinos do País.
As comemorações destes 150 anos, feitas num momento de viragem, tiveram, penso eu, o tom justo : assumiram com orgulho a herança recebida, mas não se cumpriram ou esgotaram numa visão passadista ou nostálgica. Olharam o futuro com espírito de inovação e abertura à juventude e às novas correntes da arte e da cultura, aos movimentos da sociedade. Felicito, por isso, o seu dedicado Presidente e os restantes órgãos de direcção e saúdo todos os seus sócios. Esperamos muito do Grémio.
Renovo, a terminar, o meu agradecimento pela distinção que me foi conferida e desejo ao nosso Grémio Literário - julgo poder dizer assim - as maiores felicidades. Estou certo de que a Casa de Garrett, de Herculano, de Eça, de Almada, entre tantos outros, estará à altura da sua notável história, a qual será acrescentada e enriquecida com imaginação e ousadia, na fidelidade aos ideais de liberdade que, como sabemos, é sempre dinâmica, criadora e capaz de inventar novas respostas para as interrogações e os desafios de cada tempo.