Sessão de Abertura do II Congresso do Desporto (Intervenção de Improviso)

Hotel Penta - Lisboa
15 de Novembro de 1997


Em primeiro lugar, saúdo a Confederação do Desporto de Portugal, entidade com a qual tenho mantido contactos diversos, concluindo que se trata de um ponto de encontro das diversas áreas do desporto nacional.
Exactamente por se tratar de um ponto de encontro, pode desempenhar, e julgo que o tem conseguido, um papel significativo: numa perspectiva realista, mas também optimista, a Confederação solidifica um conjunto de princípios importantes para a estabilidade do fenómeno desportivo em Portugal. Para que o desporto se dirija àquilo que importa e não, como muitas vezes acontece, a aspectos laterais que ocupam as atenções, mas que desfocam as mais importantes e essenciais.
Portanto, uma saudação muito sincera ao Congresso, pelo forum de discussão do tema da Alta Competição que propõe.
Não poderia deixar de me associar à circunstância de a Confederação do Desporto de Portugal e o Projecto Vida terem assinado um protocolo relativo à prevenção da toxicodependência. Felicito vivamente os signatários deste protocolo.
Com esta atitude, a Confederação do Desporto deu-se, primeiramente, conta da dimensão do problema da toxicodependência. De facto o problema está aí, e as Associações, as Federações, a Confederação, os desportistas em geral, têm um papel muito significativo na batalha da prevenção, da pedagogia, do esclarecimento, na criação de possibilidades para que, através da sua actividade, os mais jovens obtenham, desde as primeiras idades, uma estima especial por si próprios. É essa auto-estima que se revela um dos mais importantes antídotos para evitar a propagação do flagelo.
Se tivessem tido, como eu tive, por razões oficiais, a possibilidade de escutar todos os Presidentes da América Latina, verificariam qu‹o corrosivo é este fenómeno da toxicodependência. A tal ponto que já não é muito possível estabelecer, em algumas circunstâncias, as fronteiras da legalidade e da corrupção, quais as fronteiras entre países estabilizados do ponto de vista democrático e outros que, porventura, já não conseguem deter este flagelo, que acaba por condicionar decisivamente a vida das instituições.
Reside aqui pois nesta intenção razão de sobra para saudar efusivamente os subscritores do protocolo, acreditando que ele constitua mais uma pista para que o problema da toxicodependencia seja assumido como um problema com o qual estamos a viver todos os dias e que não está, pura e simplesmente, ao largo. Pelo contrário, ele está aí, requer uma atenção especial, necessita de todos os esforços, sejam eles modestos, complicados, mais científicos, menos científicos, organizados e avaliados. Sem dúvida que todos os desportistas, todas as instituições de desporto, vão dar, com certeza, um contributo muito importante nesse sentido.
A verdade, senhor Ministro, senhor Secretário de Estado e senhores congressistas, é que o desporto tem ocupado um lugar crescente na vida social dos portugueses, por variadíssimas razões. Não será estranho que algumas delas tenham a ver com a democracia e a consequente descentralização do fenómeno desportivo, realizado e suportado pelas várias associações e autarquias locais, que, de Norte a Sul do País, têm dedicado a esta tarefa, ao nível das infra-estruturas, significativos apoios e também, obviamente, por parte dos Governos, que consideram esta área de grande importância formativa.
Por isso, associados à crescente motivação que os órgãos de comunicação social, da especialidade e não só, têm dedicado ao tema, podemos perceber que o fenómeno desportivo, hoje, cruza a sociedade portuguesa em todas as direcções. A Confederação certamente se aplicará ao desenvolvimento das melhores razões, porque, quanto mais fortes elas forem, menos espaço haverá para as menos boas que, às vezes, como dizia, nos têm também preocupado.
Mas o essencial é a articulação entre o Desporto e a Escola, com programas permanentes, com descentralização assumida em cada momento. Isto permitirá que se formem atletas destinados à Alta Competição, e que isso, como dizia o senhor Ministro, funcione como um estímulo que dê força a todos aqueles que, às vezes, em condições também difíceis, procuram dedicar-se à sua modalidade preferida.
Queria, também, sublinhar uma referência anterior ao tema do mecenato. Estamos na altura de estudar formas de mecenato para a actividade desportiva. Embora o país se debate com a questão da justiça fiscal, o mecenato desportivo pode ter incidências positivas que cumpre estabelecer e desenvolver.
No que respeita ao tema do vosso Congresso, não vou, obviamente, abordá-lo, pois isso compete aos senhores congressistas e aos especialistas. A verdade é que a Alta Competição produz um orgulho nacional, é um difusor da prática desportiva é, nos seus exactos limites, e sem particulares exageros, uma forma de nos sentirmos profundamente felizes, quando as vitórias ocorrem. Mas também devemos sentir-nos felizes mesmo quando elas não ocorrem, como sempre tenho afirmado, porque a simples ideia do que representa de esforço, de determinação, de paciência, de luta contra tantas adversidades, que um atleta de Alta Competição precisa de percorrer, também merecem, em todos os momentos, a nossa avaliação criteriosa e não demagógica. Tudo quanto contribua para a clarificação e aprofundamento do regime da Alta Competição é bem vindo.
Senhores Congressistas
Há meses, no Estádio Universitário de Lisboa, durante a inauguração das Jornadas Europeias da Juventude Olímpica, estive ao lado do presidente do Comité Internacional Olímpico, senhor Juan António Samaranch, e tive ocasião de abordar esse tema centralíssimo da Alta Competição que é o “doping”. Julgo que não é possível discutir o assunto sem afrontarmos, claramente, a credibilização da prática desportiva, para que não restem dúvidas permanentes sobre o que está a acontecer quanto aos resultados desportivos. Certamente que este Congresso se debruçará sobre este tema, transformando-o num movimento generalizado. A ruptura a favor da credibilidade do desporto, é absolutamente indispensável.
Meus caros congressistas, desejo a todos um bom trabalho, que será, certamente, sereno e irá produzir frutos para todos aqueles que estão interessados no desporto em Portugal. Por isso, em boa hora o Congresso do Desporto se realiza.