Declaração feita na Conferência de Imprensa Conjunta dos Presidentes de Portugal e de Moçambique

Palácio da Ponta Vermelha - Maputo
03 de Maio de 1997


Parto, sentido já a nostalgia, sofrendo já a saudade. A Saudade de um país que de novo me encantou, de novos amigos que se juntam aos muitos que vim reencontrar. Saudade de um povo que me recebeu, a mim e à minha Mulher, por todo o lado, de braços abertos, de maneira inesquecível, com comovente carinho e alegre e contagiante amizade.
Mas parto, Senhor Presidente Joaquim Chissano, seguro de que os nossos dois países solidificaram, em novas bases, uma relação antiga. Cheguei a Moçambique, como afirmei desde o primeiro dia, com os olhos postos no futuro, virando uma página da história e tendo o grato prazer de consigo, e entre os nossos governos, ver escrever um novo capítulo nas nossas relações.
É nele que importa apostar todas as nossas energias e toda a nossa imaginação. Parto com a certeza de que consolidámos as bases de uma confiança mútua alicerçada no respeito pela identidade própria de cada país.
Neste momento de profunda transformação das relações entre os nossos povos, cabe a todos nós, dar continuidade a este novo relacionamento. Importa intensificar a cooperação política e diplomática, desenvolver a cooperação científica e técnica, aprofundar a cooperação empresarial, consolidar a cooperação cultural e expandir a cooperação entre as Organizações não Governamentais de ambos os países.
Estamos todos conscientes de que o reforço das relações bilaterais e a dinamização de acções de cooperação multilateral são essenciais para conferir solidez ao futuro que queremos construir para as relações entre os nossos povos. Essas relações são hoje também caminhos de encontro e contacto com espaços económicos, mercados e oportunidades mais amplos, que se afirmam no quadro multilateral em que cada um dos nossos países se insere.
O projecto da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa funda-se, necessariamente também neste quadro de mútuas convergências e de recíprocos interesses - económicos, culturais e diplomáticos.
Senhor Presidente,
Estamos disponíveis para apoiar o esforço de Moçambique na construção do seu futuro. Queremos dar apoio de forma amiga e desinteressada à determinação sagaz com que Moçambique tem sabido percorrer os caminhos da Paz, procurando consolidar a estabilidade política e lançar as bases do desenvolvimento económico.
Portugal deverá faze-lo, insisto nestes dois pontos, quer a nível oficial, reforçando, na medida do possível, os instrumentos de cooperação, quer a nível privado, procurando observar sempre os mais estritos padrões éticos de comportamento, e privilegiando a formação profissional dos moçambicanos como prioridade associada a qualquer investimento ou a qualquer acção de cooperação.
Esta é uma política que deve ser seguida com firmeza e determinação porque o nosso empenho e o nosso compromisso para com Moçambique têm de assentar na disponibilidade para propiciar, na medida das nossas possibilidades, as oportunidades que o futuro irá seguramente abrir às novas gerações de moçambicanos.
A cooperação de Portugal com Moçambique, no plano institucional, deverá encontrar um campo de actuação cada vez mais vasto, norteando-se, sempre, pelo reforço das capacidades institucionais a promoção e consolidação da democracia e do estado de direito, do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais.
Moçambique prepara-se para a realização das suas primeiras eleições autárquicas. Para este processo, que conduzirá ao amadurecimento do edifício do estado moçambicano, fortalecerá o espírito de reconciliação e de unidade nacional a será um elemento de renovado envolvimento dos cidadãos no regime democrático - a disponibilidade de Portugal é total. Na medida da nossa experiência e das nossas capacidades apoiaremos a implementação do Poder Local em Moçambique, se tal for considerado útil e nos for solicitado.
O desafio do futuro é o desenvolvimento e a estabilidade. Quero testemunhar, uma vez mais na presença de Vossa Excelência, a minha admiração pelo esforço que todos os agentes políticos, económicos e sociais têm desenvolvido para, com grande sentido do quadro regional, garantir as condições que permitam assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento económico.
É necessário persistir no caminho. Portugal tudo fará para apoiar a continuidade do apoio da Comunidade Internacional a este notável esforço. Também nesta perspectiva não deixaremos de continuar a desenvolver esforços para a realização próxima da Cimeira Euro-Africana que como se sabe partiu da iniciativa portuguesa.
Quero que Moçambique saiba que Portugal estará presente, amigo e solidário, sempre que necessário.
Senhor Presidente,
É um velho amigo que, uma vez mais, se despede de si. Hoje, porém, é também o Presidente da República Portuguesa que se despede de si. Por isso, à estima e ao afecto do velho abraço junto hoje, com enorme prazer, o abraço da admiração e do respeito do Chefe de Estado, que é, no fundo, o abraço da admiração e do respeito de Portugal com Moçambique. Conhecemo-nos há muito, Senhor Presidente, e há muito mais tempo se conhecem os nossos povos, há tanto tempo que o passado é já uma longa história. É, todavia, através dela, em toda a sua complexidade, que chegamos aqui. E isso é o que importa. Hoje reafirmamos o abraço entre o futuro de dois povos.