Banquete oferecido pelo Governador do Estado de São Paulo,

Palácio dos Bandeirantes - São Paulo
09 de Setembro de 1997


Hoje à tarde quebrando as regras naturalmente estabelecidas pelo protocolo decidi regressar a pé da FIESP, onde tive o prazer de almoçar, ao hotel. Escassas dezenas de metros, é certo, mas o único momento que tive para, com a minha comitiva, percorrer um pouco da Avenida Paulista, sentir o vibrar desta impressionante cidade, o seu ritmo e as pessoas que ininterruptamente a cruzam.
Ao dobrar de uma esquina, uma venda de água de coco. Parei entre um tumulto de fotógrafos e durante aqueles momentos em que fiquei ali á conversa senti que a um Chefe de Estado no estrangeiro o mais difícil de realizar é talvez aquilo que mais ambiciona: o contacto directo com o povo com que quer estreitar uma relação e um afecto.
E senti, por um momento, que estando no Brasil eu tinha saudade do Brasil. Creio que todas as enormes distinções que me foram conferidas, todo o caloroso afecto com que fui sempre envolvido por todos, toda a enorme importância política de que se têm revestido os contactos feitos; creio que tudo o que me aconteceu desde então tenha estabelecido para a minha relação com o Brasil o limite desmedido da ambição.
Pois bem, Senhor Governador,
Excelências
O Presidente de Portugal não renunciará nunca à ambição de querer que as relações entre os nossos povos e Estados sejam cada vez mais fortes, calorosas e objectivas.
Perante uma plateia de convidados tão ilustres e perante V.Exa, Senhor Governador, permitam-me que deposite em vossas mãos uma mensagem sentida, que peço que recebam como um testemunho pessoal da minha gratidão, por me honrarem, a mim e à Maria José, com a vossa companhia, mas também que através de todos vós, nas vossas diversas qualidades, a transmitam a este vibrante povo do Estado de S. Paulo: o povo português, tal como eu próprio, quer conhecer melhor este Brasil moderno, quer preencher essa ambição, quer dedicar-lhe, em nome do passado, a maior atenção e em nome do futuro estabelecer um maior convívio e intercâmbio. Mas digam, por favor, aos paulistas que os portugueses também querem que o Brasil conheça melhor Portugal e que neste cruzar de mares onde nos encontrámos a primeira vez, nos encontremos uma vez mais, nos encontremos sempre, como se o mar que nos separa tivesse apenas sido feito para nos juntar.
Brindo, por isso, senhor Governador, à ousadia e à Razão. Á ousadia da descoberta, onde vinculámos o nosso destino. Á ousadia onde alicerçamos a vontade de reafirmar, em moldes inovadores, a nossa relação. À Razão porque é ela que nos faz sempre reconhecer, ao fim de cinco séculos, que o património dessa relação antiquíssima se constitui como uma Pátria comum. E para com a Pátria o nosso compromisso maior é o de garantir a sua continuidade. Hoje ao apostarmos de novo no futuro estamos a honrar esse compromisso maior.
Viva o Brasil.
Viva Portugal.