Visita ao Centro Português de Macaracuay

Caracas
11 de Novembro de 1997


Queria antes de mais começar por agradecer as amáveis palavras que me foram dirigidas e sublinhar o quanto sinceramente me gratifica poder estar hoje convosco nestas magníficas instalações do Centro Português de Caracas.

A Comunidade Portuguesa na Venezuela, que se estima actualmente em mais de quatrocentas mil pessoas, incluindo os luso-descendentes e aqueles que possuem dupla nacionalidade, encontra-se espalhada por toda a Venezuela, mas é aqui em Caracas que ela se encontra mais concentrada. Este é, por consequência, um local apropriado para dirigir uma calorosa palavra de saudação, de apreço e de estímulo a todos os portugueses que vivem na Venezuela.
Os êxitos alcançados pela Comunidade Portuguesa neste país, assim como as suas exemplares qualidades de relacionamento e integração na sociedade de acolhimento - êxitos e qualidade que registo e acentuo com muito apreço e orgulho - estão na origem do respeito que os venezuelanos e as suas autoridades sempre manifestaram pelos portugueses, assim reconhecendo a sua contribuição para o desenvolvimento e modernização da Venezuela.
Alguns exemplos dessa contribuição são visíveis na importância e peso económico que a Comunidade Portuguesa usufrui em numerosos sectores da economia, tais como as áreas dos serviços de distribuição alimentar, dos transportes, da construção civil, dos têxteis e da metalo-mecânica, destacando-se inclusivamente alguns grupos económicos e financeiros de dimensão verdadeiramente nacional, que constituem uma flagrante demonstração do sucesso alcançado pelos portugueses neste país.
Todavia, como não poderia deixar de ser, a Comunidade Portuguesa na Venezuela também conta com algumas situações menos felizes. Daí que, para além dos esforços que a própria Comunidade vem meritoriamente desenvolvendo no sentido de encontrar soluções para os problemas de natureza social que se vão colocando, foi recentemente firmado um importante protocolo entre a Secretaria de Estado das Comunidades e a União das Misericórdias para a criação de núcleos de solidariedade social com o objectivo de apoiar os nossos nacionais mais desfavorecidos.
Convido-os a participar neste projecto, que, para além de reforçar o sentimento de auto-estima da própria Comunidade, não deixará igualmente de contribuir para fortalecer os laços de solidariedade entre todos os portugueses residentes na Venezuela, independentemente da geração ou do estatuto social a que pertençam.
Portugal - é necessário acentuá-lo - deve às Comunidades Portuguesas radicadas no estrangeiro uma parte significativa do seu prestígio internacional, consequência directa do respeito, estima e consideração de que gozam os portugueses residentes além fronteiras, cujas qualidades profissionais e humanas são uma demonstração viva e quotidiana do que de melhor tem o nosso país.
Cumpre-me, portanto, assinalar e exaltar este precioso contributo, não somente daqueles que sempre mantiveram a nacionalidade portuguesa, como também dos representantes das novas gerações de luso-descendentes, sempre solidários com as gerações que os antecederam na sua ligação profunda às raízes pátrias.
Ser português é condição que, para quem nasce e vive em Portugal, se afigura perfeitamente óbvia e natural, mas constitui sinal de diferença e sentimento de saudade para quem, sendo igualmente português, vive longe e afastado da Terra Mãe que é a matriz da sua própria identidade.
É por isso que importa reforçar os laços de solidariedade entre todos os portugueses, residentes em Portugal e residentes no estrangeiro, a todos sem distinção empenhando no presente e no futuro do seu país. Recordando um dos mais ilustres representantes da nossa plêiade de poetas, eu diria que importa que “ o mar una e já não separe “ quantos para longe foram, mas que tão perto sentimos.
A recente revisão da Constituição da República veio colocar em pé de igualdade todos os portugueses, tanto os residentes em Portugal como os residentes no estrangeiro, no que se refere ao exercício de direitos políticos, nomeadamente os que se prendem com a eleição do Chefe de Estado. Todos os portugueses sem excepção passam agora a estar mais perto das decisões que lhes dizem respeito, podendo participar democrática e activamente na formulação dos destinos do seu país.
Nestes últimos tempos, aliás, muito se tem progredido em matéria de aproximação e participação democrática dos portugueses radicados além fronteiras ao processo de decisão política em Portugal, sendo a criação e entrada em funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas um exemplo indubitavelmente importante e inovador. Com as eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas reforçou-se efectivamente a igualdade entre todos os cidadãos e aprofundou-se a própria democracia portuguesa.
Quero terminar reiterando quanto aprecio os vossos méritos, sentimento este no qual sou acompanhado pela generalidade dos vossos compatriotas em Portugal, apreço tanto mais justificado quanto é certo que o vosso indelével patriotismo, tantas vezes manifestado no vosso associativismo, faz hoje também parte da nossa própria identidade nacional.
A todos o meu abraço de solidariedade!