A Arnaldo Sampaio (No acto de homenagem à sua memória prestada pela Direcção Geral de Saúde)

Lisboa
11 de Fevereiro de 1998


É com profunda emoção que participo nesta homenagem de
antigos e actuais colaboradores da Direcção Geral de Saúde ao Professor Arnaldo Sampaio, meu pai.
Pretendeu-se uma cerimónia sóbria e limitada àqueles que privaram com meu pai nesta instituição e, por isso, as minhas palavras serão tão só de agradecimento, enquanto filho, e de uma breve reflexão sobre a actualidade de preocupações antigas.
Reli o Livro de Homenagem a meu pai publicado em 1980 e lembrei, com a possível distância afectiva, o seu percurso profissional: médico com consultório em Sintra, médico da Direcção Geral de Saúde, “Master in Public Health” pela Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos da América, Chefe dos Laboratórios de Bacteriologia e Virologia, Inspector Superior de Saúde, Responsável do Instituto Superior de Higiene, Director do Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Saúde, Director Geral de Saúde, Professor da Escola Nacional de Saúde Pública.
Mas, provavelmente, houve três momentos na vida profissional de meu pai que, terão, ainda hoje, alguma actualidade e relevância:
O primeiro momento, consequência de uma opção individual determinada, correspondeu ao abandono de uma actividade liberal bem remunerada e tranquila, em Sintra, para se dedicar exclusivamente, ao planeamento, à administração, à investigação e ao ensino em Saúde Pública.
O segundo momento, configura já uma visão estratégica para a Saúde Pública, em Portugal e visava dotar o País de meios para prevenir, conhecer e tratar melhor as doenças.
Desta época - anos 50 e 60 - são bons exemplos o Programa Nacional de Vacinação e a proposta de criação de uma rede nacional de laboratórios públicos.
Finalmente a modernização das estruturas administrativas, de ensino, de investigação e de planeamento da Saúde, com a reestruturação do Instituto Superior de Higiene, a criação do Gabinete de Estudos e Planeamento, as novas competências atribuídas à Direcção Geral de Saúde, a criação da Escola Nacional de Saúde Pública.
Tudo isto se fez, em diferentes e complexos contextos políticos, com extraordinárias e conhecidas dificuldades, graças à determinação, ao empenhamento e ao apuro técnico de mulheres e homens de várias gerações, alguns aqui presentes. De outros, que nos deixaram, como Gonçalves Ferreira, Laura Ayres, Coriolano Ferreira, Aloísio Coelho, fica-nos o exemplo e a obra. Que esta homenagem se possa estender a todos eles, que têm o seu nome ligado às grandes realizações positivas do nosso Sistema de Saúde, é o meu desejo.
Na verdade melhorou consideravelmente a eficácia do sistema de saúde, que constatamos orgulhosamente na diminuição da incidência de muitas doenças transmissíveis e das taxas de mortalidade infantil e materna.
Porém, as causas de mortalidade e morbilidade são, agora, outras, que exigem do sistema de saúde um conhecimento e avaliação permanente dos resultados, de forma a prevenir e controlar os variados e complexos problemas de saúde dos Portugueses.
Quero, como Presidente da República, acompanhar os sucessos e as dificuldades por que passa a Saúde em Portugal. Terei, por isso, certamente ocasião de constatar a evolução positiva de alguns resultados em Saúde e de conhecer melhor os problemas que subsistem - na equidade, na eficiência, na qualidade do sistema, mas também na investigação, no ensino e na administração.
Esta é, também, a minha obrigação e seguramente uma forma adequada de homenagear quem, há décadas atrás, tinha as mesmas grandes preocupações que aqui, hoje, partilhamos.