Sessão de Abertura do Colóquio “A Transição Democrática em Espanha”

Lisboa
26 de Setembro de 1998


Se me permitem, minhas Senhoras e meus Senhores, Excelências, quero saudar em primeiro lugar a Fundação Mário Soares e em especial o seu ilustre Presidente e caro amigo, pela oportunidade e importância do tema “a transição democrática em Espanha”, e quero saudar muito em especial todas as personalidades espanholas que vieram até nós dar o seu testemunho. Penso que Portugal lhes fica particularmente grato por esta disponibilidade, por este interesse em debater connosco momentos e factos históricos de tão grande importância.
A história ou as histórias de Portugal e Espanha quaisquer que sejam as suas leituras, têm de ser permanentemente conhecidas, discutidas para fortalecer um indispensável e sadio relacionamento entre os dois estados e os povos que os constituem. Será do conhecimento aprofundado de tudo isto que concerteza poderemos construir com forte personalidade e força um relacionamento cada vez mais decisivo.
Quero prestar aqui hoje as minhas homenagens, dizer do meu grande apreço, da minha cordialidade, e também, permitam que o diga, do meu grande afecto por todos aqueles que em momentos tão decisivos para Espanha e com serenidade, tenacidade e moderação ajudaram a construir a Espanha democrática e estando hoje a vê-los aqui entre nós devemos, como portugueses agradecer-lhes o seu empenhamento e a sua lucidez na construção desse grande país que é a Espanha democrática moderna.
Não posso deixar também, e faço-o com grande respeito e amizade, saudar Sua Majestade o Rei de Espanha. Sua Majestade o Rei de Espanha conhece Portugal muito bem e julgo que esse conhecimento tem permitido também consolidar uma relação entre Portugal e Espanha que é de grande importância para o futuro da Europa. As lições a extrair da experiência e do percurso da transição democrática em Portugal, de que se ocupará mais tarde uma outra conferência, foram certamente muito importantes para Espanha.
Tal como a transição em Espanha e em Portugal foram importantes para a América Latina, e depois em toda a evolução posterior na própria Europa. Mas lembrando-nos disso, quero saudar aqui hoje também com simplicidade os constituintes espanhóis, bem como os constituintes portugueses.
Permitam-me que faça uma saudação dupla. Porque uns e outros em momentos diferentes e com experiências internas também diferenciadas souberam arranjar plataformas de extrema importância para o futuro dos dois países. Porque souberam combinar a pluralidade e ao mesmo tempo a necessidade de consensos constitucionais básicos. Hoje ambos os países são sociedades democráticas, estão na Europa, chegaram ao euro, convivem no diálogo ibero-americano, estão activos na cena internacional no quadro da cena internacional no quadro das organizações a que pertencem, e desenvolvem entre si um relacionamento aprofundado e importante.
Em momento tão importante como o do dia de hoje, aqui neste colóquio julgo que é importante também ver o que a transição trouxe para o relacionamento entre os dois países. E o que se apresenta desse relacionamento como exigência para o futuro próximo. Na actualidade sabemos bem o que permitiu a chegada de ambos à Europa democrática, digamos assim. Países centro europeus afastados do movimento europeu por ditaduras que conhecemos bem, a verdade é que este regresso à normalidade permitiu afinal de contas que nos abríssemos uns aos outros.
E ao mesmo tempo que tudo isso se solidificou nomeadamente na vertente económica e na vertente cultural, a verdade é que hoje perante nós na sequência natural dos dois processos de transição, Portugal e Espanha têm dado um contributo forte, dão, estão a dar para a construção dum verdadeiro projecto europeu na sua dimensão politica, económica, social, de modo também a termos uma dimensão em matéria de politica externa de defesa e salvaguardando o principio da igualdade dos Estados em todas as discussões inclusive na reforma institucional que se irá proceder mais ano menos ano e também fundamentalmente defendendo um contexto de coesão económica e social de grande importância para a solidificação das democracias e ao mesmo tempo para que isso constitua uma força suplementar decisiva para a própria coesão europeia e para a sua dimensão da paz.
Mas ao mesmo tempo que a dimensão europeia do nosso próprio relacionamento entre Portugal e Espanha, o que é que há de fundamental e a meu ver em todos os níveis. A todos os níveis. E quero exprimir o gosto, o desejo e a força que ponho também nesse relacionamento a todos os níveis. Entre os nossos povos como coisa normal, permanente, diária. Sobretudo nas novas gerações que em Portugal e em Espanha hoje se conhecem melhor do que a minha geração conhece a idêntica geração espanhola.
Relacionamento profundo a todos os níveis das organizações não governamentais à sociedade civil em geral, às Universidades, aos programas de investigação em comum, ao conhecimento da força identitária que existe dum lado e do outro, ao desenvolvimento destas fortes culturas que existem em Portugal e em Espanha, ao grande desenvolvimento que têm tido e que é fundamental que continuem a ter as relações entre as cidades, entre as cidades de Portugal e de Espanha nas geminações nos projectos comuns, em tudo aquilo que pode fazer conhecer, digamos assim, aquilo que é Portugal e aquilo que é a Espanha na sua diversidade. Nas cooperações trans-fronteiriças que muitas vezes levantam algumas interrogações aos mais medrosos, mas que são fontes dum aprofundamento da relação no contexto europeu de grande importância. Fala-se muito pouco delas aos níveis dos poderes centrais, mas a verdade é que as cooperações trans-fronteiriças são hoje de grande importância como elementos também elas próprias de coesão económica e social. Na articulação das vias de comunicação, na política da água, no êxito das cimeiras, entre os governos de Portugal e Espanha.
Há uma realidade extremamente positiva, há um longo caminho a percorrer para afastar e digo-o com muita serenidade e também com algum conhecimento, para afastar todos os complexos, todos os desconhecimentos e todos os lamentáveis saudosismos. Estamos hoje felizmente, no mesmo barco democrático, a minha esperança, e saudando uma vez mais todos aqueles que fizeram, aqui estão aqui presentes a transição em Espanha e a transição em Portugal, renovo a confiança que todos temos nos valores democráticos e civilizacionais como ponto de encontro fundamental para seguirmos com confiança nestes tempos de incerteza. Com confiança.
Muito obrigado pela vossa presença.