Visita à Central Atómica de Chernobyl (Visita de Estado à Ucrânia)

Chernobyl
15 de Abril de 1998


Alguns de vós poderão interrogar-se sobre as razões desta minha visita a Chernobyl.
De uma forma sucinta, direi que esta minha visita prossegue as seguintes finalidades:
Em primeiro lugar, testemunhar a nossa solidariedade face ao drama humano que aqui teve a sua origem, às vítimas de um acidente para sempre marcado na nossa memória de europeus, e a todos os que têm trabalhado para minorar as consequências e resolver os problemas que se levantaram.
Em segundo lugar, assumindo a questão nuclear um tão importante papel na cooperação que se estabelece entre a Ucrânia e os outros países europeus, e um papel também tão decisivo no seu próprio desenvolvimento económico e social, é natural que desejasse conhecer, em maior detalhe, as perspectivas das autoridades ucranianas relativamente a esta questão central.
De facto, Chernobyl coloca questões da maior importância não apenas em termos das soluções tecnológicas eficazes - nos planos da produção energética e da resolução definitiva das sequelas do desastre -, como das condições do próprio desenvolvimento da Ucrânia e, por conseguinte, da sua plena afirmação no quadro regional onde se encontra inserida.
Finalmente, é necessário sublinhar que, num mundo crescentemente globalizado, a afirmação legítima das nossas identidades passa também pelo desenvolvimento de uma capacidade nacional em termos científicos e tecnológicos e pelo reforço constante da cooperação internacional.
Só um desígnio, um projecto, é capaz de dar aos homens uma visão optimista de si próprios e do seu relacionamento com os outros.
Nenhum de nós tem à partida as soluções miraculosas que nos garantirão um futuro seguro.
Mas temos o dever de encontrar as soluções adequadas à nossa sobrevivência colectiva, no decurso de um processo participativo, partilhado, solidário, em que todos sejamos interlocutores válidos, capazes de tornar as questões que nos são próprias em temas interessantes e relevantes para toda a humanidade.
Vivemos uma época em que de uma forma aguda se colocam os problemas da sustentabilidade, envolvendo questões que têm a ver também com o nível de utilização dos recursos naturais e da energia, e com a relação com o meio ambiente que nos rodeia e nos acolhe.
Chernobyl é um exemplo desse vector primordial do esforço de cooperação.
Desejo frisar aqui, hoje, a importância da ciência e da tecnologia como bases constitutivas essenciais do esforço de cooperação internacional, pela universalidade dos problemas, pela identidade da linguagem, pelos benefícios comuns da procura de novas soluções.
É preciso favorecer uma atitude científica face aos grandes problemas do quotidiano. Uma sociedade que abdica de procurar os vectores da sua racionalidade é uma sociedade que vai morrendo sem esperança.
No limiar do IIIº milénio não há soluções reais que não sejam partilhadas.
O futuro constrói-se todos os dias na cooperação e no diálogo, criando e verificando ideias, propondo acções possuidoras de fôlego capaz de nos fazer sobreviver colectivamente e em paz sobre o nosso planeta.