Jantar em honra do Imperador Akihito do Japão

Palácio Nacional da Ajuda
24 de Maio de 1998


É com o maior prazer que, em nome do Povo Português, em meu nome pessoal e no de minha Mulher, exprimo a Vossa Majestade e a Sua Majestade a Imperatriz as minhas mais sinceras e calorosas saudações de boas-vindas.
A presença entre nós de Vossas Majestades é bem demonstrativa da vitalidade dos seculares laços de amizade que ligam as nossas duas velhas nações. Laços que remontam ao longínquo ano de 1543, quando uma nau portuguesa, acossada por mares tempestuosos, encontrou um providencial refúgio na legendária ilha de Tanegashima.
Fernão Mendes Pinto, nessa obra ímpar da literatura europeia do século XVI que à a “Peregrinação”, logrou imortalizar o fascínio desse primeiro encontro da Europa com a civilização japonesa. A mútua descoberta de duas visões do Mundo e o diálogo, então encetado, entre duas culturas distintas, marcado pela curiosidade quanto ao que é diferente, pela tolerância e pela abertura de espírito constitui deveras um momento singular da História da Humanidade.
Aquele primeiro contacto entre duas civilizações geograficamente tão distantes foi, como se sabe, um dos resultados da histórica viagem de Vasco da Gama, cujo meio milénio se comemora este ano. A Expo´98, que Vossas Majestades nos dão a subida honra de amanhã visitar, tendo como lema «Os Oceanos – um património para o futuro », é também evocativa da odisseia marítima dos navegadores portugueses que, dando novos mundos ao Mundo, abriram as portas à presente era da globalização em que vivemos.
O facto de o Japão estar representado com um dos maiores pavilhões na Expo´98 enche-nos de compreensível regozijo, pois é demonstrativo do interesse japonês pela temática da preservação do meio ambiente e da natureza, temática que, aliás, irá ser retomada por ocasião da exposição mundial a realizar-se em 2005 na cidade de Aichi e à qual Portugal deu prontamente too o seu apoio.
Igualmente o facto de na Expo´98 se exibir, em primeiríssima estreia mundial a preciosa colecção de conchas marinhas de seu augusto Pai, o Imperador Hiroíto, constitui para todos nós, Majestade, motivo de particular reconhecimento, pois testemunha um apreço pelo nosso país que muito nos sensibiliza.
Majestade,
Portugal, país que se orgulha da sua longa história, faz hoje em dia parte integrante da União Europeia, um dos polos de maior desenvolvimento mundial que recentemente deu um passo decisivo no sentido da sua união económica e monetária. Por sua vez, o Japão, país cujas legítimas aspirações no quadro do sistema das Nações Unidas são apoiadas por Portugal, é uma grande potência no contexto internacional, desempenhando um papel da máxima relevância numa área em profundo e acelerado processo de transformação.
Tendo como base o nosso secular relacionamento, estou seguro de que os nosso dois países saberão encontrar as melhores vias para levar a cabo o reforço das suas relações bilaterais em todos os domínios, nomeadamente o político, o económico, o cultural e o cientifico. Acresce que, partilhando ambos os mesmos ideiais de Paz, democracia, Liberdade e de respeito pelos Direitos do Homem, os nosso dois países dão efectivamente contributo importante para o estreitamento das relações, por todas as formas e em todos os níveis, entre os dois grandes espaços regionais em que se inserem.
Essa comunhão de valores e ideiais incita-me, majestade, a evocar a dramática situação prevalecente em Timor-Leste, certo da compreensão dos países que se norteiam pelo primado da Lei e na expectativa da influência que possam exercer sobre a Indonésia. Quer, por conseguinte, sublinhar que as permanentes violações dos direitos humanos em Timor-Leste estão na origem de um clima cada dia mais insuportável para as suas matrizadas populações. Não temos quaisquer interesses egoístas em relação àquele Território. Por isso, no âmbito das Nações Unidas, continuaremos, serena e perseverantemente, a envidar todos os esforços e a pelar à Comunidade Internacional, particularmente aos países que connosco compartilham dos mesmo ideiais, no sentido de se garantir o exercício, livre e democrático, do direito à auto-determinação e o respeito pelos direitos humanos do Povo Timorense.
Majestade,
Neste dealbar do terceiro milénio, a Humanidade terá necessariamente de intensificar os seus esforços na procura de novas formas de organizar o Mundo, em termos que garantam o progresso, a justiça, a estabilidade e a paz.
Neste contexto, não será demais referir que os nosso dois países partilham idênticas preocupações no respeitante à problemática da proliferação de testes nucleares, armas estas de que o Japão, aliás, foi a vítima dos seus efeitos devastadores.
Ambos os nosso países estão conscientes de que só no aprofundamento dos ideiais e valores humanistas, na paz e na liberdade, na tolerância e no diálogo solidário entre povos e culturas, se poderão encontrara os caminhos seguros para fazer face aos novos desafios que se nos colocam.
A nossa época exige sentido do universal e consciência da unidade do Mundo, mas exige também capacidade de preservar o que distingue, assim como a percepção da riqueza da diversidade.
O Japão e Portugal, países que se orgulham da sua história secular e da sua cultura riquíssima, saberão prosseguir o seu diálogo encetado em Tanegashima, em beneficio, não só do reforço das suas relações bilaterais, como também da própria Comunidade Internacional.
Peço a todos que me acompanhem num brinde pela saúde e felicidades pessoais de Sua Majestade o Imperador Akihito, de Sua Majestade a Imperatriz Michiko, pela prosperidade do Povo Japonês e pela amizade entre os nossos dois Povos, de que foi tão eloquente intérprete Wenceslau de Morais, o grande escritor português apaixonado pelo Japão.