Sessão de Homenagem a Fernando Fernandes

Porto
02 de Outubro de 1998


Associo-me com todo o gosto, nesta oportunidade de uma deslocação à região, à homenagem que a Câmara Municipal do Porto e a cidade quiseram prestar a Fernando Fernandes.
Homenageamos um homem que iniciou uma carreira profissional, inteiramente ligada à actividade livreira, há 46 anos. Como foi referido, Fernando Fernandes foi um dos fundadores e principal responsável da Livraria Divulgação e, posteriormente, da Livraria Leitura (cuja gerência vai agora deixar).
As suas livrarias, tanto a Divulgação como a Leitura, nunca foram apenas lugares de compra e venda de livros.
No tempo da ditadura, forma locais de animação cultural e tertúlia de estudiosos, intelectuais e artistas – uns já consagrados, outros em início de carreira. Por isso, Fernando Fernandes teve de enfrentar perseguições da polícia política e das forças mais obscurantistas da cidade, com grande prejuízo pessoal e profissional.
Graças a um profundo e sempre actualizado conhecimento do panorama editorial nacional e internacional, Fernando Fernandes tornou-se um conselheiro incontornável para alunos e professores e outros criadores – uma espécie de caçador de “livros impossíveis”.
Ainda há bem pouco tempo, um dos seus gratos clientes, Vasco Graça Moura, o recordava num texto de jornal, em palavras de gratidão inesquecíveis.
Referência de enorme utilidade para estudiosos e instituições culturais quer do Porto, quer do resto do País.
Sem a Livraria Leitura e o apoio persistente de Fernando Fernandes na descoberta das rotas bibliográficas mais complicadas, muitas pesquisas literárias e científicas, porventura alguns romances, pinturas ou projectos de arquitectura teriam demorado mais tempo a ver a luz do dia.
E quem sabe se um ou outro não teriam mesmo ficado na gaveta.
A complexidade das tarefas de acompanhamento do mundo da edição livreira e as necessidades de dinamizar o apoio aos clientes levaram Fernando Fernandes a lutar tenazmente pelo alargamento e instalações e do corpo de colaboradores qualificados.
Entretanto, a Livraria Leitura cresceu, modernizou-se e está hoje mais apta do que nunca para servir a vida cultural da cidade do Porto, tanto mais quanto é certo ter voltado a uma actividade regular de animação e promoção literária e artística.
Fernando Fernandes mostrou vontade de se retirar. Tem de compreender-se que o cansaço provocado por uma carreira vivida com inexcedível profissionalismo tenha levado este benévolo e pacífico guerreiro dos livros a desejar algum descanso.
Espera-se, contudo, que a cidade lhe exija que continue a difundir, porventura em “part-time”, o amor dos livros e da cultura, ou seja, afinal, o amor da descoberta livre e inconformista do mundo.
Estou certo de que assim será.