Jantar oferecido pelo Conselho Federal Suiço

Berna (Visita de Estado à Confederação Suiça)
08 de Setembro de 1999


Quero agradecer, antes de mais, a tão cordial hospitalidade que Vossa Excelência nos dispensou, a minha mulher, à comitiva que me acompanha e a mim próprio, desde a nossa chegada a este belo país.
Foi com grato prazer que aceitei o convite que me foi dirigido pelo Conselho Federal para efectuar esta visita; um convite tanto mais honroso quanto é tradição da Confederação Suiça limitar as visitas de Estado que anualmente recebe.
Este é pois um momento simbólico que vem realçar os antigos laços de amizade e entendimento que unem os nossos dois países.
Suíços e portugueses conhecem-se há muito. Somos dois povos que mutuamente se estimam e se respeitam. Percorremos, naturalmente, nos avatares e encruzilhadas da história, diferentes caminhos. E é também nessa diferença, como no que nos é comum, que nos reconhecemos e admiramos.
Ancorado no extremo ocidental da Europa, Portugal esteve, através da sua aventura marítima, na origem do mundo global em que hoje vivemos; abrindo-se, abriu à Europa outros mundos, outros horizontes, outros mercados.
A Suíça, situada na confluência de algumas das mais marcantes culturas do Continente, viveu sempre no cerne das muitas convulsões por que passou a Europa, afirmando uma forte identidade plural, que é uma das suas grandes riquezas.
Os nossos países deram um contributo valioso, de que temos justificado orgulho, para a história e a cultura da Europa. João Calvino, Le Corbusier, Herman Hess, Carl Gustav Jung, como Damião de Góis, Luis de Camões, Henrique o Navegador e Fernando Pessoa são nomes que, no seu tempo e para além dele, constituem referências incontornáveis da nossa cultura e da nossa história europeia comuns.
O diálogo cultural luso-suíço tem antigas raízes e prolongou-se ao longo dos séculos. Evoco, por exemplo as ligações de Damião de Góis aos humanistas de Basileia, o eco da obra de Madame de Stael em autores da importância da Marquesa de Alorna, Alexandre Herculano ou Almeida Garrett, as leituras educativas que Luís António de Verney fez de autores suíços, os ilustres naturalistas deste país que se fixaram em Portugal na primeira metade deste século, a recepção helvética da obra de Pessoa.
Suíços e portugueses partilhamos uma tradição de abertura e de permeabilidade aos outros. Uma tradição enriquecedora que não é demais valorizar numa altura em que, um pouco por todo o lado, vemos aflorar fenómenos de intolerância, de perseguição, de segregação, que julgávamos pertencerem a um passado que não queremos recuperar.
O generoso acolhimento prestado pela Suíça aos portugueses que aqui se fixaram ao longo dos tempos é um exemplo dessa abertura, que naturalmente muito prezamos.
Senhora Presidente,
Senhores membros do Conselho Federal
Estamos, suíços e portugueses, activamente empenhados na construção de uma Europa que queremos mais próspera, mais coesa, mais solidária e que desejamos seja também, cada vez mais, um espaço de paz.
São valores e anseios que os nossos povos compartilham, para além das distintas formas de participação política e económica na Europa que cada um legitimamente escolheu.
A grandeza da Europa reside na diversidade de que é feita. A sua vitalidade não pode reconduzir-se a um coro de vozes concordantes, nem se esgota no projecto político e económico da União Europeia, em que Portugal participa activamente.
Queremos uma Europa capaz de fazer face à exclusão social e à marginalização; queremos uma Europa dos cidadãos e não apenas dos consumidores; queremos uma Europa que faça da diversidade cultural e humana uma riqueza; queremos uma Europa aberta ao mundo e com respostas para quantos anseiam por segurança e por progresso; uma Europa cujas fronteiras sejam as da democracia e da liberdade; em suma, queremos uma Europa de paz, que gere e promova a estabilidade e o desenvolvimento e que seja capaz de agir face aos grandes desafios que o presente nos convoca.
Nesta Europa que desejamos e somos seguramente capazes de construir, a Suíça e Portugal têm, não o duvido, muito para dar e muito para receber.
No plano bilateral, mantemos hoje excelentes relações de amizade, sólidas e confiantes, tanto a nível político como económico.
Com certeza que é sempre possível fazermos mais e melhor. É também este estímulo e esta vontade que aqui quero deixar.
Senhora Presidente,
Senhores membros do Conselho Federal
Tenho a lamentar que esta visita, que desejava fosse uma ocasião festiva para os nossos dois países, decorra num momento em que toda a sociedade portuguesa está absorvida pela tragédia que se abateu sobre o povo de Timor Leste, à qual já tive ocasião de me referir públicamente esta tarde.
Nos encontros que hoje mantivemos, as autoridades suiças tiveram a bondade de me manifestarem a sua solidariedade para com o povo de Timor e a sua compreensão pelos motivos que me levaram a encurtar esta viagem. Queria por isso exprimir-lhes aqui o meu reconhecimento.
Esta é mais uma prova do bom entendimento e da amizade existentes entre os nossos dois países, que esta viagem serviu, sem dúvida, para reforçar.
Estou certo de que os nossos dois países continuarão a encontrar, no futuro, inúmeras ocasiões para aprofundaram os laços de cooperação e entendimento mútuo que os unem. É com esta certeza que aqui viémos e é com esta certeza que daqui partimos.
Peço a todos que me acompanhem num brinde pelas felicidades pessoais de Vossa Excelência, dos Senhores membros do Conselho Federal, à prosperidade crescente do Povo suíço, e ao fortalecimento da cooperação entre a Suíça e Portugal.