Homenagem a Manoel de Oliveira

Teatro Rivoli - Porto
11 de Dezembro de 1998


Estou muito contente por poder estar aqui, neste lugar mágico da cidade do Porto que é o Rivoli, para dizer, calorosamente, a Manoel de Oliveira duas palavras: parabéns e obrigado.

Parabéns, naturalmente, pelos seus esplêndidos 90 anos, que fazem dele, como gosta de dizer, o cineasta "mais jovem do Mundo". Parabéns pela sua extraordinária carreira, que começou no cinema mudo e continua cheia de vitalidade, de poder criador, de projectos novos. Parabéns pela sua fidelidade a um sonho de juventude e pela coragem e persistência com que o vem realizando, vencendo obstáculos e dificuldades. Por tudo isto, felicito-o muito e renovadamente.

Mas temos também de agradecer a Manoel de Oliveira. Dizer-lhe obrigado pelo seu exemplo de energia e lucidez, de insatisfação permanente, que o leva, apesar de todas as consagrações, a querer sempre fazer mais e melhor, como se estivesse no princípio. E a verdade é que, ao vê-lo trabalhar, ficamos com a sensação de que, pelo entusiasmo, pela entrega, pela modernidade, cada filme que faz é um novo começo.

Quero também dizer obrigado a Manoel de Oliveira pelo muito que tem prestigiado a nossa cultura e o nosso cinema, com a sua obra, ao mesmo tempo tão portuguesa e tão universal.

Galardoado com os mais prestigiados prémios mundiais, presença constante e aclamada nos grandes festivais internacionais de cinema, objecto de monografias, ensaios, estudos e artigos, em tantos e tantos países, Oliveira tem dado à nossa cultura uma projecção ímpar, que temos o dever de, neste dia de festa, lhe agradecer.

A sua fase mais intensa e criadora tem-se realizado nas últimas duas décadas, quando ele já tem mais de 70 anos, portanto depois do 25 de Abril - e não foi por acaso que assim pôde acontecer. Tem sido um privilégio assistirmos à construção desta obra, que não pára de nos surpreender e que, com uma sabedoria cinematográfica única, percorre todos os registos e revisita os grandes e pequenos mitos, ora distanciando-se ora aproximando-se. Manoel de Oliveira é o exemplo do artista que se recria permanentemente. Por isso, lhe agradecemos.

Meus amigos:

Quero saudar vivamente todos os que têm trabalhado com o Mestre, fazendo com ele uma grande equipa que não tem cessado de se renovar. Saúdo também todos aqueles que quiseram estar hoje, aqui, associando-se a esta homenagem tão justa, em boa hora promovida pela Câmara Municipal do Porto e pela Cinemateca Nacional. Seja-me permitida uma palavra especial de boas vindas para os que vieram de fora, trazendo o seu testemunho de apreço e amizade.

Este é um grande dia para a cultura portuguesa, que tem obtido um reconhecimento internacional que nos orgulha e responsabiliza. Como sabem, acabo de chegar de Estocolmo, onde assisti à entrega do Nobel a José Saramago, e pude verificar isso mesmo.

Seria natural que, nesta ocasião e em sinal de reconhecimento pelo muito que tem nos dado, eu entregasse a Manoel de Oliveira um daqueles símbolos que o Estado tem para agraciar os que servem e prestigiam o País. Era essa a minha intenção. Acontece, porém, que isso não é possível, por uma razão simples: é que Manoel de Oliveira já possui todas as grandes condecorações que lhe podiam ser atribuídas. Resta-me, assim, abraçá-lo e dizer-lhe com emoção: em nome de Portugal, peço-lhe que continue a sua obra, uma das mais originais do nosso tempo, e constitui uma referência da cultura portuguesa, europeia e universal.