Sessão Solene na Câmara Municipal de Ourique

Ourique
05 de Novembro de 2000


Agradeço, Senhor Presidente da Câmara, o convite tão insistente que me dirigiu para me deslocar a Ourique neste dia, a agradeço à população de Ourique a recepção que me dispensou.

Estou aqui por um dever de solidariedade – que faz parte integrante do meu modo de fazer política e do meu modo de entender a função que desempenho.

Estive neste concelho há 3 anos, precisamente por ocasião das cheias que trouxeram a desolação a diversas localidades do Alentejo.

Tenho bem presente na minha memória essas imagens dramáticas – que vi também nos Açores, e que já depois disso nos chegaram também de outras partes do Mundo.

Tenho também presente na minha memória as imagens da entreajuda, do movimento que de Norte a Sul do País se levantou para prestar socorro e ajuda às vítimas das intempéries.

Creio que é justo neste momento lembrar essa mobilização que envolveu inúmeras entidades, públicas e privadas, pessoas de todas as origens geográficas e sociais. E prestar a todos aqueles que cooperaram, generosamente, na obra de salvamento e reconstrução dos bens e das vidas, atingidas, público reconhecimento.

Na primeira linha desse movimento esteve o poder local democrático, os autarcas deste concelho e de forma especial o Senhor Presidente da Câmara de Ourique, que com o seu voluntarismo, e o seu inconformismo também, tudo fizeram para acudir às populações e restituir-lhes o conforto e as condições para retomar a sua vida e o seu trabalho.

Com determinação e com coordenação de meios e de esforços é possível hoje dar por concluída uma parte importante dessa tarefa. Terão existido neste processo algumas incompreensões, mas espero que, ultrapassado o pior das dificuldades, possamos celebrar todos o cumprimento dos objectivos a que todas as instituições envolvidas, locais e centrais, se propuseram.

Provações como aquela que se abateu sobre diversas localidades alentejanas há 3 anos, e que infelizmente também se verificam noutras países da Europa, representam um desafio para os sistemas de prevenção.
A cultura da prevenção no nosso País é insuficiente. Temos que inverter essa situação.

Ora sucede que a cultura da prevenção é por definição exigente com o conhecimento das situações, rigorosa com o diagnóstico dos problemas e com a respectiva terapêutica, e implacável com a alteração dos comportamentos de risco.

Estes conceitos aplicam-se ao ordenamento do território, às políticas de ambiente e de urbanismo.

Os cientistas dizem-nos que estão em curso alterações climáticas e que é preciso olhar para os problemas do ambiente com mais atenção e mais seriedade. Os técnicos dizem-nos que não agimos correctamente ao removermos determinados solos ou ao substituir certas culturas, e que o desrespeito de certas normas pode pôr em perigo a comunidade.

Temos que aprender com os erros e prevenir novos erros. Na implantação das habitações, na gestão dos recursos, tanto dos solos como das águas, em suma no ordenamento do território.

Não quis deixar de participar convosco – senhores autarcas, meus amigos, Ouriquenses – nesta cerimónia, e só lamento não poder ir até Garvão ver as novas casas que vão ser entregues.

Tenho exercido o meu mandato, como foi salientado, dentro de um conceito de proximidade, que os portugueses reconhecem. Entendo que é uma forma adequada de exercício das funções presidenciais: próximo das pessoas, acompanhando de perto os seus problemas e anseios e vivendo de perto as suas preocupações e as suas realizações.

E há muitas realizações! Por vezes ignoradas, por vezes esquecidas, por vezes mal avaliadas.

Procuro dar visibilidade a essas realizações, seja qual for o seu plano e dimensão (cultural, social, económico), contribuir para que sejam apreciadas e sirvam de exemplo e de estímulo.

Também quis estar aqui hoje para, uma vez mais, dar um sinal ao Alentejo, um sinal de esperança nas capacidades dos seus homens e dos seus valores de identidade fortes, e um sinal de que o País precisa de um Alentejo com futuro.

Estas são afinal as questões importantes, as que me importam e que importam aos portugueses.

Os tempos que vivemos convidam por vezes a privilegiar um certo espectáculo na política. Não faço, nunca fiz e nunca farei da política um espectáculo, sempre procurei dar o meu melhor naquilo em que acredito e a política só a compreendo se exercida por convicção e com convicção.

Respondi positivamente a apelos, em todos os pontos do país, para me inteirar de situações e conhecer de perto não só as dificuldades, mas as energias e capacidades colocados na sua resolução.

Por isso aqui estou, hoje, com todo o gosto, e amanhã estarei noutro qualquer ponto do País. Em nome do interesse nacional e da política como exercício concreto ao serviço dos meus concidadãos.

Caros Ouriquenses

A mensagem que quero deixar é de alguém que acredita nas vossas capacidades, nas de todos os portugueses, para continuar a diminuir o espaço que nos separa da Europa mais desenvolvida.

Não ignoro que há dificuldades e não as oculto. Sei também que ninguém se oferecerá para fazer o nosso trabalho.

Quando ouço reclamar contra diversos aspectos do funcionamento do Estado, percebo que há razões para exigir que o Estado cumpra melhor as suas funções: a justiça e a segurança, a educação e a saúde, por exemplo. Mas nada disto é com os outros. É connosco, é sempre connosco.

Temos de participar na vida pública, dar a nossa opinião, e ser tão rigorosos na exigência como no cumprimento da nossa parte de responsabilidade.

Todos somos responsáveis.