Cerimónia do 1º de Dezembro


01 de Dezembro de 1998


Excelências,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
   
Quero agradecer as palavras que o Sr. Presidente da Sociedade Histórica quis ter a amabilidade de me dirigir. Sei que ao agradecer a hospitalidade com que nos acolhe estou a exprimir não apenas o meu reconhecimento, mas também o de todos os representantes de órgãos de soberania e demais convidados, que convosco, anualmente têm acorrido a estas salas para celebrar a Independência de Portugal.
   
Aproveitou V.Exa para apontar, na sequência do apelo que lancei no dia 10 de Junho, a necessidade de olhar também com espírito moderno para esta comemoração do feriado nacional do dia 1 de Dezembro. As suas palavras são um estímulo à criatividade necessária à renovação da nossa tradição comemorativista.
   
De facto essa renovação é necessária. Porquê? Não seguramente por estarem erradas as comemorações que com esforço e dedicação se têm feito nos últimos 25 anos nos feriados nacionais. Importa todavia reconhecer que as sociedades modernas socializam os seus sentimentos e interiorizam os valores colectivos de forma bem diferente de há um quarto de século atrás. A forma, ganhou uma maior relevância e é factor determinante da capacidade de atracção e de mobilização quer da "notícia" quer das camadas mais jovens da população.
   
As palavras de V.Exa não podem deixar de encontrar, por isso, um eco claro nos titulares dos Órgãos de Soberania aqui presentes.
   
É necessário inovar. Abrir à sociedade de forma apelativa e explicar as novas condições políticas, à luz das quais é necessário olhar para a celebração da Independência de Portugal.
   
A data do 1 de Dezembro invoca historicamente um episódio específico do nosso relacionamento com os nossos vizinhos espanhóis. Esse foi sem dúvida um dos momentos em que Portugal jogou tudo na sua determinação de ser um Estado Soberano. Mas, em boa verdade, a Independência de Portugal não depende apenas deste ou daquele episódio individualmente considerado, mas sim de um longo processo de afirmação de autonomia de uma comunidade nacional.
   
Por isso, o que se deve celebrar hoje são as modernas condições das quais depende a continuação de Portugal como Estado Independente. Os nossos desafios, não decorrem hoje de qualquer ameaça territorial vinda da parte dos nossos vizinhos ibéricos, com os quais partilhamos um projecto europeu que se desenvolve num espaço, felizmente, cada vez mais aberto e comum.
   
Os desafios a que temos de prestar a maior atenção vêm precisamente dessa tendência europeia, e mundial, de integração crescente a que se chama globalização. Em si própria essa tendência é positiva. Mas ela obriga as comunidades nacionais, agora expostas aos efeitos da globalização e ao permanente desenvolvimento das condições de integração dos espaços nacionais em espaços regionais - e na Europa a moeda única é um passo histórico do maior significado -obriga, dizia eu, a um esforço cada vez maior de valorização e de afirmação dos factores de identidade das comunidades nacionais.
   
Já não é apenas a história que importa valorizar. São factores que antes se julgavam subsumidos na comemoração da história, mas que hoje têm de ser autonomizados como discurso identificador e distintivo da nossa comunidade nacional.
   
Em primeiro lugar a língua portuguesa, pelo importantíssimo papel que cada vez mais pode e deve desempenhar internacionalmente.
   
Em segundo lugar ao património cultural, a todo ele, por que temos de valorizar todos os seus múltiplos aspectos como forma de manter as formas identitários das comunidades que afirmam as suas tradições distintivas ao longo do território continental e insular. Em terceiro lugar, "o conhecimento", como património que permite a uma sociedade vencer os desafios que se colocam no seu tempo. O domínio do saber, e destaco hoje em particular o saber técnico e científico, são essenciais para manter as condições de independência de um país num mundo globalizado.
   
Não quero ser exaustivo. Pretendo apenas ilustrar que é necessário pegar nos elementos de que efectivamente depende hoje a nossa independência como país, para centrar neles o trabalho que se faça em torno da comemoração deste dia.
   
Tal como julgo necessário procurar outras sedes para o fazer. Universidades, do interior e do litoral, locais que evoquem outros momentos históricos, ou sejam elementos distintivos da nossa cultura, outras formas, que atraiam a juventude, que a cativem e lhes permita debater essa diferença que corre o risco de lhes parecer cada vez imperceptível entre espaços com forte integração regional e estados nacionais com forte sentimento de identidade das suas comunidades nacionais.
   
Com o apelo que aqui deixou, Sr. General, creio que partimos daqui hoje, Presidente da República, Assembleia e Governo, com a responsabilidade de para o ano, dar outra perspectiva e forma as comemorações da Independência de Portugal.
   
Uma coisa é certa. A forma é apenas um atributo de comunicação de um valor. O que importa é que todos nós, seja a forma aquela que for, sejamos capazes de transmitir às novas gerações o mesmo amor a Portugal que todos sentimos.
   
Estou certo que a esse objectivo dedicaremos o melhor dos nossos esforços.
   
Viva Portugal!