Centenário do Pintor Lino António


04 de Dezembro de 1998


A homenagem ao pintor leiriense Lino António, na passagem do seu centenário, é inteiramente justificada e dignifica os seus promotores. As intervenções anteriores dos Professores José Mattoso e Raquel Henriques esclarecem aspectos essenciais do percurso deste artista e ajudam a compreender melhor o lugar da sua obra na arte portuguesa do século XX. Foi um privilégio poder escutá-las.
   
Quero felicitar a Câmara Municipal de Leiria por esta iniciativa, e o conjunto de entidades que a motivaram e apoiaram.
   
No empenho e entusiasmo posto na evocação do artista Lino António estão os sinais de uma atitude de grande responsabilidade perante o património de criação cultural da comunidade.     Com todo o gosto estou aqui para o testemunhar e, se mo permitem, também sublinhar.
   
Registo aliás, uma marcada preocupação de Leiria, expressa pelas suas organizações, com o reforço das suas competências culturais.
   
É um registo obtido por observação directa, nas diversas vezes que me desloquei à cidade, a convite de instituições como a Câmara Municipal, o Orféon, a Casa-Museu João Soares, o Núcleo Empresarial da Região de Leiria, ou o Senhor Bispo de Leiria-Fátima.
   
A atenção prestada à valorização das competências culturais é certamente um dos traços salientes das tendências urbanas dos finais deste século. Ilustram essa atenção os novos temas das cidades como o património e a sua preservação, a requalificação dos espaços degradados ou envelhecidos, o desenvolvimento de políticas municipais de educação e de cultura e a sua articulação com as políticas nacionais nos mesmos domínios.
   
Acompanho com interesse este movimento de renovação urbana, que desempenha um papel crucial na vitalização da sociedade portuguesa. É cada vez maior o número de portugueses que vivem nas cidades e é nas cidades que se concentram os elementos mais dinâmicos e mais jovens do país.
   
Não parece possível contrariar tal tendência, embora se possa e deva combater a anomia da sociedade rural e a desertificação do interior.
   
O país precisa das cidades como Leiria, conscientes de si próprias, preocupadas com a melhoria dos seus recursos de integração social, apostadas em melhorar as suas capacidades de atracção  e melhorar a sua inserção nacional e até internacional.
   
Este desígnio é essencial. Envolve um entendimento do passado histórico, ao mesmo tempo que implica uma percepção, uma avaliação do futuro, uma abertura às novas gerações e aos seus valores e aspirações.
   
Mas creio que é igualmente essencial que as cidades como Leiria explorem as complementaridades com outras cidades num quadro regional consistente. As mudanças operadas no sistema de comunicações e da mobilidade das populações justificam-no amplamente. O funcionamento em rede, como agora se diz, é provavelmente o grande desafio que enfrenta o nosso sistema urbano, num quadro tão exigente como é o da internacionalização e da globalização da nossa economia. O crescimento muito rápido nas últimas duas décadas das cidades portuguesas criou naturalmente também grandes expectativas, mas creio que é altura de consolidar esse crescimento e de forma realista desenvolver a partilha de estruturas e a complementaridade de funções entre núcleos urbanos.
   
Trouxe aqui estas duas breves notas sobre os caminhos da renovação urbana no Portugal da transição do século, acreditando que Leiria está a fazer e a debater alguns desses mesmos caminhos. Fi-lo numa ocasião em que a cidade se revê na obra de um dos seus filhos que, tendo alcançado justa projecção no panorama das artes portuguesas, deixou perpassar em muitas das suas criações um conjunto de referências ao território onde nasceu. Por outro lado, esta ocasião é uma evocação centenária, portanto uma consagração de valores - e Lino António bem o merece - mas também um momento de balanço, de avaliação, de visão de conjunto.
   
Vamos então agora procurar essa visão de conjunto, na visita à Exposição.
   
Muito obrigado.