Discurso do Presidente da República por ocasião da Cerimónia de Homenagem a Manoel de Oliveira

Paris
14 de Dezembro de 2001


Agradeço muito o amável convite que me fizeram para estar presente nesta marcante homenagem a Manoel de Oliveira. A minha presença significa que Portugal está reconhecido por este gesto muito amistoso de uma instituição francesa tão renomada como o Centro Pompidou para com o grande realizador e a cultura portuguesa. Significa também que nos orgulhamos do prestígio internacional que alcançou.

Para esse prestígio, a França contribuiu em primeira linha. Foi neste país tão atento à originalidade e ao valor que a obra de Oliveira teve o seu primeiro grande reconhecimento internacional. Aqui, os seus filmes foram vistos, apreciados, amados, compreendidos. Aqui, se sucederam notícias, críticas, estudos, ensaios, alguns de uma inteligência deslumbrante, que abriram novas perspectivas e novos caminhos de abordagem. A partir deste primeiro e sólido reconhecimento, o prestigio internacional do cineasta de “Le Soulier de Satin” não parou de se acrescentar e de se alargar.

Este amor da França por Oliveira é um amor feliz e correspondido. Na sua ampla filmografia estão presentes obras, temas, actores e actrizes, técnicos franceses. A presente homenagem – a que se associou tão significativamente o Maire da cidade de Paris – prolonga e culmina essa relação muito produtiva entre o realizador português e a cultura francesa.

Minhas Senhoras e Meus Senhores

A obra de Manoel de Oliveira é uma das grandes realizações artísticas e cinematográficas do nosso tempo. Obra pessoal de uma grande e renovada autenticidade, é também uma obra de linguagem inovadora e de uma enorme vitalidade de sentidos. Nos filmes de Oliveira, cruzam-se as grandes tradições culturais europeias e as metamorfoses da vida e da sensibilidade, num jogo de luzes e de sombras, de afirmações e de negações, que vai da tragédia mais inquietante ao humor mais esplendoroso. Obras do nosso tempo e que interrogam o nosso tempo, os seus filmes são um dos mais belos testemunhos que legamos às gerações futuras.

Ao dizermos, hoje, de novo, a Manoel de Oliveira que o admiramos muito e que amamos a sua obra, desejamos-lhe que possa continuar a dar-nos prova da sua magnífica energia criadora.

Renovo, em nome de Portugal, os meus agradecimentos aos promotores desta homenagem tão calorosa. A Europa que queremos construir é, em larga medida, a Europa do reconhecimento de que a singularidade e a diversidade cultural são a mais fecunda forma de lutarmos contra os riscos da homogenização e da massificação que nos cercam.

A obra de Manoel de Oliveira é, na sua autenticidade artística, uma obra portuguesa, europeia e universal. Por isso, nos reconhecemos nela.