IX Congresso Nacional de Educação Médica


30 de Janeiro de 1999


As minhas primeiras palavras são de saudação aos participantes neste Congresso, à sua organização e a todos os profissionais com responsabilidades na Educação e Investigação Médicas.

Permitam-me que partilhe convosco três breves reflexões.
A primeira corresponde à minha convicção de que os problemas que se colocam, de uma forma geral, no Sistema de Saúde, são cada vez mais problemas éticos, sem desvalorizar, naturalmente, a importância da tecnologia.

A medicina é uma tecnologia, mas é também uma arte de aliviar o sofrimento dos Homens.

Temo que, em algumas circunstâncias, se esteja a perder a perspectiva da consideração pela pessoa, pelo seu sofrimento e mesmo pela compaixão. A comunicação, a empatia e a consideração constróem a confiança que os doentes e a sociedade depositam nos médicos. É dever de todos nós evitar que essa relação de confiança, estruturada ao longo de muitas gerações e que constitui, provavelmente, a maior riqueza da personalidade médica, se esbata ou se anule por situações de tensão conjuntural.

A minha segunda reflexão é sobre os riscos em medicina. As intervenções no Homem implicam cada vez mais riscos e o médico pode errar. Mas ao doente deve ser dada a informação necessária para ele avaliar o risco e decidir. O que implica que o médico conheça o risco de cada intervenção e, mais uma vez, se estabeleça sempre a comunicação com o doente.

Mas existe outra dimensão dos riscos. É que a medicina - sabem-no muito melhor do que eu - é uma profissão cheia de dificuldades, de dilemas éticos e o contacto com a morte, a doença, a tragédia, provoca um sério desgaste. Um desgaste que não deve fazer perder a esperança: o médico tem que apostar sempre na esperança, mesmo que ela esteja do lado da menor probabilidade. É isto que define, do meu ponto de vista, o vosso empenhamento.

A minha terceira reflexão é ainda sobre a relação interpessoal e sobre a riqueza dessa experiência que, estou certo, contribui decididamente para que tantos médicos sejam grandes exemplos de homens da ciência e da cultura o que eu quero aqui também homenagear.

Conheço o processo de estudo da formação médica no Serviço Nacional de Saúde e dos modelos de articulação entre as Instituições de Ensino e o S.N.S. Estou certo de que utilizarão os vossos saberes, a vossa experiência e o vosso empenhamento de forma a encontrar os consensos que, em cada momento, a sociedade portuguesa nos exige.