Homenagem ao Prof. Ferrer Correia


09 de Março de 1999


Na altura da minha visita a Estremoz, à Biblioteca Gulbenkian, anunciei a minha intenção de assinalar o termo do mandato do Prof. Ferrer Correia à frente da Fundação Calouste Gulbenkian, condecorando-o, como forma de assim lhe significar o reconhecimento do País.

Faltava apenas escolher a ocasião e a Ordem Honorífica mais adequada. Num caso e noutro, o destino encarregou-se de escolher por mim.
Quanto à ocasião, a homenagem que, um grupo de amigos e admiradores anunciou, numa iniciativa tão feliz, que ia ser prestada, pareceu-me, naturalmente, o ensejo mais apropriado.

Quanto à Ordem, o facto do Prof. Ferrer Correia possuir quase todas as mais altas condecorações nacionais, levou a que a escolha recaísse sobre a que lhe faltava: a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, que se destina a distinguir serviços prestados à cultura portuguesa e à sua divulgação no Mundo, o que, no caso, tem toda a propriedade e é da maior justiça.

De facto, toda a vida, toda a sua acção, toda a obra do Prof. Ferrer Correia foram dedicadas a prestigiar Portugal, a nossa cultura, as nossas instituições.

Como eminente jurista de renome internacional, como professor distintíssimo, como administrador e Presidente da Fundação Gulbenkian, como homem público, em todos estes domínios Ferrer Correia honrou e prestígiou o País de forma exemplar, pondo os seus dotes e talentos ao serviço da cultura, da ciência, da universidade. A presença aqui de Jacques Delors, que saúdo, é o melhor símbolo do prestígio internacional de que desfruta.

Conheci o nosso homenageado há muitas décadas, na minha vida de advogado, já ele era uma referência insubstituível como jurista. Recebi sempre dele as provas mais tocantes de gentileza e deferência. Aprendi, desde então, a apreciar as suas extraordinárias qualidades humanas - o rigor ético, o sentido de serviço à comunidade, a visão ampla, a vasta cultura humanista, a solidez da sua ciência jurídica.

Ferrer Correia é, para todos os que o conhecem, um verdadeiro Mestre, no sentido mais nobre e elevado da palavra.

A presença nesta sala de tantos e tão ilustres personalidades que se reivindicam de seus discípulos - e entre as quais eu, modestamente e sem direito especial, me incluo - é a prova da fecundidade única do seu magistério.

Portugal deve ao Prof. Ferrer Correia a maior gratidão. A sua acção como jurista, na instituição da Fundação Gulbenkian, com sede em Lisboa, foi fundamental e decisiva. O papel que, ao longo dos anos, nela desempenhou foi também sempre da maior importância. Tendo substituído o Dr. Azeredo Perdigão, como Presidente, num momento delicado da instituição, soube com uma rara prudência, lucidez e equilíbrio evitar escolhos e pôr o barco a navegar em mar aberto e sereno.

Como professor e reitor da Universidade de Coimbra, prestigiou como poucos a Alma Mater e formou gerações sucessivas de juristas que têm marcado a vida portuguesa.

Homem bom, generoso e íntegro, com uma conversa cheia de encanto e uma finura psicológica ímpar, conviver com o Prof. Ferrer Correia é uma das mais fascinantes experiências humanas e intelectuais que se podem ter.

Neste dia de festa, quero desejar-lhe a si, Senhor Professor, e à sua família, as maiores felicidades. Muito obrigado por tudo o que tem feito e continua a fazer pelo País. Em nome de Portugal e como merecedíssima homenagem e testemunho de gratidão, vou condecorar o Prof. Ferrer Correia com a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.