Nasceu em Lisboa, a 19 de Novembro de 1894, e faleceu a 18 de Setembro
de 1987, em Cascais.
Filho de António Rodrigues Tomás e de Maria da Assumpção
Marques Tomás.
Casou, em 1922, com Gertrudes Rodrigues. Do casamento teve duas
filhas.
CARREIRA ACADÉMICA
Ingressou no Liceu da Lapa, em 1904, e concluiu a sua formação
secundária em 1911. Frequentou a Faculdade de Ciências
durante dois anos, entre 1912 e 1914.
CARGOS DESEMPENHADOS ATÉ À PRESIDÊNCIA
DA REPÚBLICA
Iniciou a sua carreira, em 1914, como aspirante no corpo de alunos da
Armada. Em 1916, ao terminar o curso da Escola Naval e durante a
I Grande Guerra, desempenhou funções no serviço
de escolta aos comboios que se dirigiam para a Inglaterra e Norte de França,
primeiro no cruzador Vasco da Gama, depois no cruzador auxiliar Pedro Nunes
e nos contratorpedeiros Douro e Tejo.
Comanda ainda durante este período o guarda-marinha Janeiro com
a missão de protecção aos navios de pesca que operavam
em alto mar.
Em 1918, promovido a l.º tenente, serve como oficial imediato
a bordo do contratorpedeiro Tejo.
A 3 de Outubro de 1919 é nomeado para a 3.ª Direcção-Geral
do Ministério da Marinha.
A 17 de Março de 1920, entra ao serviço do navio hidrográfico
5 de Outubro, onde serviu dezasseis anos, tendo sido nomeado comandante interino,
em 1924. Passou a comandante efectivo em 1931, desempenhando as funções
de chefe da Missão Hidrográfica da Costa Portuguesa.
Ainda, entre 1924 e 1936, exerceu as funções de vogal da
Comissão Técnica de Hidrografia, Navegação
e Meteorologia Náutica e do Conselho de Estudos de Oceanografia
e Pesca.
É o perito nomeado para exercer, no ano de 1932, o mandato junto
do Conselho Permanente Internacional para a Exploração do
Mar. Em 1936, é nomeado chefe de gabinete do ministro da Marinha.
Entre o período de 1936 a 1939 exerceu as funções
de vogal na Comissão Central de Pescarias, vogal na comissão
nomeada para estudar a mudança do Centro de Aviação
Naval e adjunto do presidente da Junta das Missões Geográficas
e de Investigação do Ministério do Ultramar.
Em 1940, altura em que frequentou o Curso Complementar Naval de Guerra
e é promovido a capitão-de-mar-e-guerra, ocupa a presidência
da Junta Nacional da Marinha Mercante.
Entre 1941 e 1944 é membro do Conselho de Promoções
dos Oficiais da Armada.
Em 1944, é chamado para ocupar o cargo de ministro da Marinha,
cargo que irá ocupar até 1958. Neste cargo tentou reabilitar
a Marinha de Guerra recorrendo ao apoio da NATO e impulsionou o desenvolvimento
da Marinha Mercante.
ELEIÇÕES PARA A PRESIDÊNCIA DA
REPÚBLICA
É nomeado, em 1958, como candidato pela União Nacional,
para disputar as eleições contra o general Humberto Delgado,
candidato da oposição, já que Arlindo Vicente, candidato
pelo PCP, tinha desistido no seguimento do "Pacto de Cacilhas".
A 8 de Junho de 1958, enquanto decorre o acto eleitoral, é publicado
um decreto-lei proibindo a oposição de inspeccionar o funcionamento
das assembleias de voto. Os números oficiais fornecidos pelo
Governo dão apenas 24% no Continente e Ilhas, 31,7% em Angola e
30% em Moçambique ao general Delgado. Os totais oficiais apurados
deram cerca de 75% dos votos expressos a Américo Tomás e
25% ao general Humberto Delgado, o que corresponde a 758 998 votos e
236 528 votos, respectivamente, para cada um dos candidatos.
É eleito o candidato da União Nacional, Américo
Tomás.
A 29 de Agosto de 1959 é alterado o texto constitucional, através
da Lei n.º 2100.
A Lei prevê que o supremo magistrado da Nação passe
a ser eleito por um colégio eleitoral restrito de 602 membros.
Esses membros são os deputados da Assembleia Nacional, membros da
Câmara Corporativa, representantes das estruturas administrativas
dos territórios ultramarinos e representantes das câmaras
municipais. O Colégio Eleitoral é o resultado das eleições
de 1958. Foi criado para evitar situações problemáticas
para o regime, como a hipótese de vir a ser eleito um candidato
da oposição.
Américo Tomás será reeleito para o cargo, em 1965
e 1972, por colégio eleitoral.
Ocupará o cargo de 9 de Agosto de 1958 até 25 de Abril
de 1974, altura em que é demitido.
PRINCIPAIS OBRAS PUBLICADAS
Sem Espírito Marítimo Não É Possível
o Progresso da Marinha Mercante, Lisboa, s.e., 1956.
Renovação e Expansão da Frota Mercante Nacional,
prefácio de Jerónimo Henriques Jorge, Lisboa, s.e., 1958.
Citações, Lisboa, República, 1975.
Últimas Décadas de Portugal, l.º e 2.º vols.,
Lisboa, Fernando Pereira, 1980 e 1981.
Personalidade curiosa a deste homem de Estado.
A sua carreira iniciou-se na Marinha.
No início de carreira deu o seu contributo para o conhecimento
da costa portuguesa. Com os anos vai-se apercebendo da necessidade de renovação
da Marinha. Os navios eram antigos, tecnologicamente atrasados e
numa quantidade irrisória, incapazes de dar qualquer resposta em
casos de emergência.
A Marinha começa a evoluir a partir dos anos 30. Vai
crescendo em termos de eficácia, no sentido de uma certa qualidade,
sem grandes ambições de quantidade. Planos mais reais
e exequíveis dos que entretanto eram apresentados pelo Exército.
Américo Tomás alcança entretanto cargos de chefia.
Nomeado para a pasta da Marinha, usará a experiência adquirida
para a desenvolver. É célebre o seu Despacho 100. Nele
definia um plano de renovação da Marinha Mercante e dava
incremento a uma indústria de construção naval.
Com o aumento da construção de navios tornou possível
o incremento de carreiras entre o Ultramar e o Continente, tornando-as
regulares, o que por sua vez incentivou e possibilitou a expansão
do comércio interno e externo.
Mas não foi só a Marinha Mercante que se desenvolveu.
Como já foi dito, também a Marinha de Guerra encetou um vasto
programa de modernização, em particular no que diz respeito
às instalações de construção e preparação
de técnicos, primeiro com a ajuda da Inglaterra e depois dos Estados
Unidos. Este programa tornou-se mais acelerado e concreto com a entrada
de Portugal na NATO (OTAN- Organização do Tratado do Atlântico
Norte) em 1949.
E, não há dúvida, que neste vasto programa muito
é devido a Américo Tomás. A sua actuação
revelou-se positiva pelos resultados práticos e eficácia
que se foi obtendo, apesar de muitas das medidas serem fortemente contestadas
por vários sectores da vida nacional, nomeadamente possíveis
ligações preferenciais com personalidades do meio político
e económico quanto a atribuições de prerrogativas
de exploração.
Se na Marinha a sua actuação se saldou positiva, como
Presidente da República a sua actuação pautou-se pelo
cumprimento escrupuloso das funções atribuídas pela
Constituição. Uma atitude moderadora, o guardião
das instituições, um apagamento das actividades a favor do
Governo e do Presidente do Conselho.
Escolhido pela União Nacional, em 1958, para substituir no cargo
o Presidente Craveiro Lopes, assegurava o equilíbrio na sucessão
dos diferentes ramos das Forças Armadas e a manutenção
do apoio que estas sempre deram ao regime do Estado Novo. Teve que
se defrontar em eleições com o general Humberto Delgado.
Este candidato da oposição não se retirou como era
hábito nas anteriores eleições presidenciais e ameaçava
destituir o chefe do Governo, caso fosse eleito.
Naturalmente que as eleições foram ganhas pelo candidato
oficial, mas o regime passou por um grande susto. Estas eleições
tinham polarizado o descontentamento popular. Era preciso alterar
a natureza do acto eleitoral de forma a que se evitasse de futuro novas
situações idênticas.
Assim, pela Lei n.º 2100, de 29 de Agosto de 1959, o Presidente da República
passa a ser eleito por um colégio eleitoral restrito.
Este colégio eleitoral elegeu pela primeira vez o Presidente
da República, por sufrágio indirecto, a 25 de Julho de 1965.
Américo Tomás, candidato oficial, foi esmagadoramente "eleito"
sem concorrência. Voltará a ser eleito para um segundo
mandato, a 25 de Julho de 1972, este último mandato deveria prolongar-se
até 1979.
Exerceu os mandatos presidenciais durante a conturbada década
de 60 e início dos anos 70.
Uma só situação o obrigou a agir e a ter que fazer
uso das suas prerrogativas presidenciais: tratou-se da substituição
de Oliveira Salazar e a indicação, para o seu lugar, de Marcelo
Caetano.
A escolha de Marcelo Caetano nunca foi muito de seu agrado. O
novo Presidente do Conselho era demasiado reformista. A preocupação
com o futuro do Ultramar e a sua manutenção era algo que
reportava de fundamental e tinha a consciência que dessa manutenção
dependeria a sobrevivência do regime. Por isso, obrigou Marcelo
Caetano a estabelecer um compromisso: o de não colocar a política
ultramarina em causa.
Com o 25 de Abril de 1974 é demitido do cargo e expulso da Armada,
preso e conduzido à ilha da Madeira parte depois para o exílio
no Brasil.
Regressou a Portugal por consentimento do então Presidente da
República general Ramalho Eanes, em 1980, uma vez que nunca lhe
tinha sido instituído nenhum processo-crime. Apesar de ter
solicitado o seu reingresso na Armada, tal nunca lhe foi concedido.