Educar para a Educação

Henrique Cayatte
Designer
 
 

    A minha participação nesta mesa redonda é o resultado de um amável convite da Presidência da República. Apesar de dirigir um Seminário Avançado em Design de Comunicação não tenho a experiência de debate ou a informação necessária sobre os grandes desafios do nosso sistema educativo.
É como pai, que arrisco algumas contribuições dispersas que, espero, possam contribuir para esta oportuna reflexão.

    Quando uma criança nasce terá o Estado para com os pais, o bebé e o resto da família um conjunto de respostas que possam suprir as dúvidas e deficiências?

    Que preparação têm os pais, oriundos de níveis culturais e económicos diferentes, para fazer face aos problemas que se avizinham? Leram, debateram ou assistiram a programas especiais que os preparem para responder a problemas de saúde, pedagógicos ou, mais tarde, de cidadania? Que experiência têm? Quem os ensinou? Sabemos que os pais têm uma capacidade de dar ternura e criar um ambiente familiar únicos mas estaremos de acordo que isso é uma base indispensável mas que não resolve tudo. Filhos há, infelizmente demais, que nem essas condições têm. E esses, estarão condenados a uma exclusão definitiva e sem alternativa?

    Por pressão social, informativa e cultural as assimetrias entre os dois sexos vão sendo lentamente superadas. Que papéis estão no entanto reservados a cada um deles na futura educação dos filhos?

    Nos nascimentos, o pai continua a ter um acesso mitigado à sala de partos, na sua maior parte não vai com a mãe às consultas que antecedem o nascimento da criança, depois, quando a criança está doente contam-se pelos dedos das mãos os pais que realmente apoiam. Vemos que começa a repartir, ainda que insuficientemente as tarefas domésticas e relacionadas com a educação do filho, no entanto é a mãe com pouco mais de três meses de licença de parto dados pela lei, que tem de se preparar para conciliar uma vida profissional com um acompanhamento permanente às crianças.

    Três meses! Corresponde aproximadamente ao período de total dependência da criança.

    E o pai? Quando terá a lei flexibilidade para aumentar significativamente a permanência em casa não só da mãe mas também do pai. As políticas para a educação terão de ir ao princípio. Países que concentraram verbas substanciais na educação não se deram mal com a experiência. Estímulo à natalidade, formação especializada antes do nascimento da criança, mais tempo de licença de parto - países há que dão um ano - repartido entre os dois pais, orientação pedagógica de apoio aos casais que os ajudem a compreender e a ajudar as crianças. A escolaridade obrigatória - conquista da liberdade - é apenas um dos lados. Quando a criança vai para casa que estímulos recebe? Faz os seus trabalhos de casa. Quem a ajuda? Vai brincar ou praticar desporto, aprender música ou informática com os amigos. Onde? A maior parte vai ver televisão, primeiro sózinha depois com o resto do agregado familiar transformando Portugal no país da Europa com maior consumo de televisão.

    Tudo isto - mais haveria seguramente - para perguntar se o Estado, e os órgãos por nós eleitos nestes quase vinte e cinco anos de democracia têm cumprido com as suas obrigações estudando as tendências, fazendo prospectiva, propondo hipóteses. Grupos de reflexão, universidades e investigadores têm levantado estes problemas. O poder terá ouvido? Terá criado mecanismos para um efectivo debate com os interessados? Estarão eles, todos nós, preparados? Experimentem-nos.