Senhor Bispo de Dili, Excelência Reverendíssima,
 
 

Num referendo proclamado válido pelas Nações Unidas, os timorenses escolheram de forma serena a liberdade e a independência pela qual lutam há 24 anos. Sobre essa firme vontade os seus inimigos lançaram o terror, a morte e a destruição.

Temos vivido dias de angústia e luto.

Num gesto sem precedentes os Portugueses uniram-se de forma sentida e comovida para expressar a sua indignação e angústia por esse indescritível sofrimento.

O Bispo de Díli sempre foi, para todos nós, um símbolo indiscutível da coragem do Povo Timorense. Permito-me, em nome de Portugal, depositar nas suas mãos o sentimento de um povo que vos quer como irmãos, que sofre o vosso sofrimento e que tudo fará para manter a pressão internacional para que seja garantida a segurança dos timorenses e para que a sua vontade seja respeitada.

Quero exprimir a todos os portugueses o meu reconhecimento pelos gestos de solidariedade que têm tido lugar de Norte a Sul do país. A força desse sentimento é de grande importância para manter bem presente na comunidade internacional o sentimento de revolta perante uma tragédia que se abate sobre um povo que luta pela sua liberdade.

Ao longo destes dias, de forma sistemática e ininterrupta, os responsáveis políticos têm desenvolvido todas as diligências possíveis para que o povo de Timor receba a ajuda de que tão dramaticamente necessita. Eu próprio, o Governo, a Assembleia da República, todos temos concentrado esforços com um objectivo comum: salvar um povo da morte a que o querem condenar.

Infelizmente não depende só de nós. Temos de aliar à emoção medidas iguais de realismo e firmeza, indispensáveis para garantir a continuidade do caminho para a Independência, aberto pelos resultados da extraordinária consulta de 30 de Agosto.

O país inteiro está unido na solidariedade para com o povo de Timor. O vosso sofrimento é indescritível. Mas a vossa tenacidade é indestrutível. É uma Nação que quer ser livre. Que resistirá, mesmo quando os poderes permanecem indiferentes à chacina que sofrem. Que lutará, mesmo quando a esperança pareça ténue. Que lutará sempre pela liberdade da Independência consagrada pela livre escolha do povo.

Ao vosso lado, com orgulho pela enorme coragem e determinação dos timorenses, estará Portugal, unido num único propósito: tudo fazer para travar a onda de violência e fazer respeitar a vontade expressa dos timorenses.

A Independência já venceu o Referendo. A Liberdade vencerá a opressão em Timor Leste.
 
 

Palácio de Belém, 10 de Setembro de 1999