Declaração sobre o referendum

Declaração sobre o referendum

30 de Agosto de 1999

0 dia 30 de Agosto é um dia histórico.

É um dia histórico para Timor-Leste.

Hoje, numa consulta organizada pelas Nações Unidas, os Timorenses exerceram o seu direito inalienável à autodeterminação, pelo qual lutaram heroicamente durante 23 anos. Quero prestar a minha homenagem sentida aos nossos irmãos Timorenses, cuja história é uma lição de coragem.

Os Timorenses demonstraram a sua vontade de exercer os seus direitos contra todas as tentativas de intimidação, primeiro durante o processo de recenseamento, agora com a participação na consulta. A sua confiança prevaleceu contra o terror e a violência.

É um dia histórico para Portugal.

Portugal sempre lutou pelo exercício livre e democrático do direito de autodeterminação do povo irmão de Timor-Leste, como era sua estrita obrigação perante os Timorenses e a comunidade internacional. Nenhuma dificuldade, nenhuma pressão externa, nos fez desistir.

Hoje, ao escolherem entre a independência ou a sua integração na Indonésia, os Timorenses deram um passo decisivo na definição do seu futuro colectivo. Pela nossa parte, cumprimos e continuaremos a cumprir todas as nossas obrigações no quadro do acordo de Nova York.

É um dia histórico para a comunidade internacional.

0 Conselho de Segurança e o Secretário-Geral das Nações Unidas demonstraram a sua capacidade de cumprir o seu mandato, para fazer prevalecer a justiça e o direito internacional na procura de uma solução honrosa e digna para a questão de Timor-Leste.

Em condições extremamente difíceis, a Missão das Nações Unidas em TimorLeste pôde completar o recenseamento, organizar a campanha e assegurar a participação dos Timorenses na consulta que hoje se realizou sob a sua responsabilidade.

Hoje é o primeiro dia do futuro de Timor-Leste.

Tudo, ou quase tudo, está por fazer. É indispensável garantir a libertação do Presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense e de todos os presos políticos timorenses. É urgente restaurar as condições de uma efectiva segurança, para evitar a continuação das tensões e da violência, provocada, tantas vezes, pela intervenção de interesses externos à comunidade timorense. É preciso traduzir as promessas da consulta na formação de uma democracia livre e plural garantindo os direitos cívicos e políticos dos Timorenses.

Portugal está e estará ao lado do povo irmão de Timor-Leste na construção de um futuro de paz, de liberdade e de desenvolvimento.

 

 

Jorge Sampaio