Abertura da Conferência sobre Televisão Digital Terrestre

Lisboa
17 de Fevereiro de 2000


No momento em que Portugal exerce a Presidência da União Europeia, a realização em Portugal desta conferência sobre "Televisão Digital Terrestre" reveste-se de um duplo significado.

Por um lado, ela é significativa do interesse com que vemos esta aposta nas tecnologias de informação e comunicação por outro pela necessidade de criar as condições para que a inovação tecnológica possa desempenhar o seu papel de motor económico e de contributo para uma melhor cidadania na Europa.

Importa salientar, no entanto, que quando falamos de inovação tecnológica devemos pensar em influências e não em impactos. Com isto, pretendo afirmar que devemos recusar a ideia de que basta existir inovação tecnológica para que se dê a sua adopção generalizada. Importa definir políticas e estratégias que tenham presente que as escolhas, das empresas actuantes no mercado e dos próprios utilizadores, dependem igualmente das forças que actuam ao nível cultural e social, as quais contribuirão decisivamente para o sucesso da adopção da "Televisão Digital Terrestre".

Numa altura em que assistimos à digitalização sucessiva de um conjunto de media , a "Televisão Digital Terrestre" constituí uma inovação tecnológica com possibilidade de repercussões não apenas ao nível dos operadores do audiovisual mas também junto do todo que constituem os cidadãos da União Europeia.

Podemos assim dizer que a introdução da "Televisão Digital Terrestre" poderá representar uma gestão mais económica dos recursos disponíveis, nomeadamente do espectro de frequências, permitindo a sua disponibilização para novas utilizações, seja no domínio do audiovisual seja no domínio das telecomunicações.

Também para os telespectadores a "Televisão Digital Terrestre" se apresenta como uma forma possível de redução das desigualdades culturais, levando àqueles que hoje, por razões económicas ou de infra-estrutura, não têm acesso à televisão por cabo ou satélite uma oferta mais alargada de programas e serviços.

Por último, salientaria o papel que a digitalização poderá representar para as empresas do sector audiovisual, nomeadamente na previsível diminuição dos custos de difusão, na criação de novos mercados para a produção de equipamento e no estimulo à produção de conteúdos europeus.

Quero terminar deixando-vos uma pista para reflexão: no sector do audiovisual é fundamental não esquecer que a par das possibilidades de desenvolvimento tecnológico importa assegurar a qualidade e a diversidade dos conteúdos.

O sistema audiovisual é um todo; ele é passível de ser repartido para facilidade de análise. Necessita de ser visto como um todo para que as políticas na área do audiovisual possam atender às três responsabilidades que hoje lhe cabem no contexto da globalização: elemento de manutenção da identidade de um povo, elemento de valorização da cidadania e elemento dinamizador da economia.

O nosso desafio comum é assim o de procurar desenvolver uma abordagem da política audiovisual europeia que realce a noção de audiovisual enquanto Indústria Cultural a par das políticas de promoção da Identidade e Cidadania.

Jorge Sampaio