Discurso de SEXA PR por ocasião da Sessão Solene de Entrega dos Prémios e Diplomas no XXV Aniversário da Faculdade de Economia da Universidade de Lisboa

Lisboa
28 de Novembro de 2003


É com muito gosto que participo nesta cerimónia de entrega de prémios e diplomas, este ano integrada nas comemorações dos 25 anos da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Faço-o na qualidade de Presidente da República, desde sempre interessado nas questões do ensino e, também, como pai de um dos diplomados, o que para mim acrescenta compreensível emoção, que afinal partilho com os familiares dos premiados e diplomados aqui presentes.

As minhas primeiras palavras são, pois, para felicitar vivamente todos os que hoje receberam os prémios que distinguem o mérito e os diplomas que reconhecem o trabalho e a aptidão académica para exercer a profissão na área da economia e da gestão. Estendo também as minhas amigas felicitações aos familiares, especialmente aos pais, que acompanharam de perto a vida académica dos filhos, por vezes talvez – sabemo-lo bem - com tanta ou mais preocupação do que os próprios.

A minha segunda nota é para saudar os responsáveis e demais trabalhadores da Faculdade de Economia, na pessoa do seu actual Director, o Professor Campos e Cunha, pelo excelente trabalho que aqui vêm realizando em prol da investigação científica e do ensino superior.

A Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa é, actualmente, uma das escolas de referência de economia e gestão do País, e isso deve-se, sem dúvida, ao empenho e à dedicação de todos os que nela trabalharam e trabalham – professores, alunos e funcionários. Nunca é demais salientar a importância das pessoas porque são estas, afinal, as passadas e as actuais, que determinam a qualidade das instituições.

Gostaria, por isso, de aproveitar a ocasião para prestar a minha homenagem a um dos fundadores da Faculdade de Economia, o saudoso Professor Alfredo de Sousa, homem de grande humanismo, a quem esta Escola ainda hoje muito deve, designadamente no que respeita a uma concepção diferente de escola, assente na criação de instrumentos de trabalho inovadores e no recurso a uma avaliação dos professores participada pelos alunos.

Desde a sua entrada em funcionamento, em 1978, a Faculdade de Economia teve sempre notória preocupação com a qualidade da investigação científica e do ensino que ministrava e com a ligação da Escola à vida real da economia e das empresas. Esta foi hà muito uma orientação bem patente na composição do corpo docente, juntando académicos de reconhecido valor e profissionais com provas dadas nos seus sectores de actividade.

Quero felicitar também a Faculdade por ter sido pioneira no desenvolvimento de estratégias de internacionalização, quer no âmbito dos intercâmbios com outras Universidades Europeias em projectos ERASMUS/SÓCRATES, quer no MBA frequentado por alunos nacionais e estrangeiros, evidenciando um significativo poder de atracção internacional da Escola.

Ao longo de 25 anos de vida da Faculdade de Economia, o rigor e a exigência, bem como a importância atribuída à investigação científica, foram-se consolidando e fizeram com que os cursos ministrados nesta Faculdade ocupem hoje um lugar de merecido reconhecimento, não só nos cursos de economia e gestão das universidades portuguesas, mas também entre as suas congéneres estrangeiras.

Aos licenciados aqui presentes quero, pois, dizer-lhes que valeu a pena o estudo e o trabalho que tiveram para obter o conhecimento e a formação que o diploma lhes reconhece; e adiantar-lhes que faço votos para que a qualificação que aqui adquiriram lhes abra um caminho de sucesso na sua futura vida profissional.

No entanto, lembro-lhes também que, num mundo em rápida e profunda transformação, não há saberes definitivos, pois os conhecimentos desactualizam-se depressa. Portanto, por melhor que seja a formação universitária de base, é preciso manter uma constante preocupação com a actualização do que pudemos adquirir durante a escola, promovendo constantes aprendizagens ao longo da vida.

Porque venho insistindo neste tema, conhecem decerto a minha preocupação com o desenvolvimento de atitudes de permanente estudo e aperfeiçoamento não só pessoal, mas também com a formação dos trabalhadores e dos quadros do nosso país. Considero que a qualificação dos portugueses e, em particular da população activa, constitui a nossa principal fragilidade, cuja correcção deve ser assumida como uma aposta decisiva para o nosso futuro. Por isso, atendendo à particular oportunidade de formação que tiveram. Espero que possam prestar durante a vossa vida profissional uma indispensável cooperação neste aspecto determinante para o nosso desenvolvimento.

Gostaria de partilhar convosco uma breve reflexão neste dia em que estamos a comemorar o termo dos vossos cursos e as bodas de prata da vossa Faculdade. Ela tem a ver com a formação dos licenciados, no caso em economia e gestão, e com as relações entre a universidade e as empresas .

Uma questão inicial consiste em saber se as escolas de economia e de gestão devem formar licenciados privilegiando as necessidades mais imediatas das empresas, atribuindo assim mais importância às capacidades técnicas que facilitem a rápida integração dos seus diplomados no mercado do trabalho; ou, se devem antes privilegiar uma formação mais geral, proporcionando conhecimentos sólidos sobre o que é essencial, bem como competências que habilitem os seus licenciados a aprender e a enfrentar a mudança sem esquecer a cultura geral e a educação para a cidadania.

A este respeito, poder-se-á salientar que os cursos de economia e gestão, como os restantes, são uma forma de preparação profissional, mas um curso superior não deve ser apenas uma licença para o mercado de trabalho. Penso que têm que ser bem mais do que isso. Os quatro ou cinco anos passados na universidade também devem dar ao licenciado cultura científica e capacidade para pensar com rigor e coerência sobre os problemas da vida em geral e da sua área de conhecimento e actividade em particular.

As licenciaturas devem ter naturalmente disciplinas de formação mais técnica e especializada da área a que respeitam, mas não podem descurar uma sólida formação geral que prepare o licenciado para continuar a aprender e para ter a capacidade necessária para adquirir as inovações técnicas que forem aparecendo.

Um curso superior, para servir bem os licenciados e as entidades para quem vão trabalhar, deve fornecer conhecimentos e técnicas relevantes no domínio do curso, mas também tem de exercitar e desenvolver as capacidades de adaptação dos licenciados a novas realidades da economia e da sociedade.

Caberá recordá-lo, pois, uma estreita ligação entre as universidades, como centros que produzem e transmitem conhecimentos, e as empresas, como entidades que utilizam os recursos humanos aí formados, é fundamental para uma boa formação dos licenciados e cidadãos e para um melhor e mais rápido desenvolvimento económico e social do País.

Aliás, entramos num tempo em que o nosso país e a Europa enfrentam hoje novos desafios que exigem outras missões às universidades e novos processos de cooperação com as empresas para que se possa vencer o desafio da produtividade e da competitividade na presente economia globalizada. E, também, por isto, temos todos de fazer o que estiver ao nosso alcance para melhorar o trabalho e o funcionamento das universidades e das empresas, através de um melhor conhecimento recíproco das suas necessidades e de uma melhor exploração conjunta das suas potencialidades.

Por outro lado, a investigação feita pelas universidades portuguesas é escassa e não está ainda suficientemente orientada para as necessidades da economia e da sociedade. Sem prejuízo de alguma "investigação pura", julgo que deveria haver mais "investigação aplicada", em função das necessidades das empresas e do desenvolvimento do País. É preciso investigar menos para exposição e arquivo e mais para o mercado, para as empresas e para os consumidores, o que implica naturalmente valorizar a capacidade de transformar os resultados da investigação em produtos úteis e rentáveis, se assim me posso exprimir. E isto designadamente, em termos de inovação e progresso tecnológico, bem como de empreendedorismo, como se verifica nas melhores universidades americanas e europeias.

Insisto: Se as universidades têm a obrigação de puxar pelas empresas, estas, especialmente as de maior dimensão, também têm o dever de saber identificar e pedir às universidades o que realmente precisam. E se esta tarefa não é fácil para pequenas e médias empresas, é também para ajudar a vencer essas e outras dificuldades que existem e servem as associações empresariais, que podem e devem desempenhar um importante papel de catalisador e de intermediário na cooperação entre as universidades e as empresas.

Apelo, assim, aos responsáveis, tal como noutras ocasiões já o fiz, aos empresários para que – com espírito de abertura, capacidade de inovação e explorando as potencialidades da autonomia universitária – procurem e encontrem formas de cooperação entre as universidades e as empresas mutuamente vantajosas e benéficas para o desenvolvimento da sociedade.

Termino reafirmando a minha esperança na capacidade das actuais e das novas gerações de académicos e de empresários, desejando a todos os jovens licenciados e premiados aqui presentes felicidades nas suas vidas pessoais e sucesso nas suas carreiras profissionais.

O país bem precisa do vosso empenhamento como profissionais e como cidadãos.