Discurso de SEXA PR por ocasião da Visita à Sinagoga de Neve Shalom


18 de Setembro de 2003


Senhor Rabino Chefe da Turquia
Senhor Presidente da Comunidade
Excelências
Minhas Senhoras e meus Senhores

Agradeço-vos as vossas amáveis palavras de boas vindas e a gentileza com que se prontificaram a me receber. Sinto-me emocionado por estar neste local, que é o ponto de referência para a comunidade judia de Istambul, simultaneamente um local de culto, de memória e de confraternização.

Sinto-me emocionado, dizia, porque, como português, encaro a minha a presença aqui como um reencontro simbólico entre Portugal e uma comunidade que, pela língua que falou durante séculos, pelos nomes que muitos dos seus membros ostentam, pelas memórias que guardam das suas origens, mantêm nestas paragens uma ligação ao nosso país.

Foram ilustres portugueses muitos dos que, compelidos pelo fanatismo religioso a abandonar uma terra que foi sua durante séculos, encontraram nestas paragens uma nova pátria. Não esquecemos o seu contributo para a história de Portugal. Sabemos hoje avaliar, em toda a sua dimensão, a tragédia que constituiu a conversão forçada dos judeus portugueses, a saída do reino daqueles que não se submeteram e as perseguições implacáveis pela Inquisição de que foram vítimas muitos dos que ficaram.

Todas as histórias nacionais têm as suas luzes e sombras. Assumimo-las integralmente, tirando de umas e outras lições para o presente e para o futuro. A democracia portuguesa revê-se numa tradição de tolerância e em valores universalistas que inspiraram os melhores momentos da história de Portugal. Este reencontro é feito em nome desses valores. A minha presença aqui quer sublinhar a nossa amizade recuperada. Espero que a interpretem como uma homenagem à vossa comunidade e à memória de Portugal que soube conservar.

Ao visitar-vos hoje, não pretendo apenas deixar uma mensagem de reconciliação em relação ao passado. Quero também encorajar-vos a descobrirem o Portugal moderno e a forjarem laços renovados com o meu país.

Portugal é hoje um país aberto e democrático, plenamente integrado na Europa, com uma economia desenvolvida e uma vida cultural dinâmica. A Turquia, por seu lado, está firmemente em empenhada na sua candidatura de adesão à União Europeia. Se ela for bem sucedida, como desejo e espero, turcos e portugueses, sem prejuízo da suas respectivas identidades nacionais, partilharão uma nova cidadania, a cidadania europeia, que muito contribuirá para os aproximar. Tenho a certeza que tal facto contribuirá também para este reencontro que desejo promover entre a vossa comunidade e o meu país.

No mundo em que vivemos, todos os dias assistimos, horrorizados, a actos de terrorismo, inspirados pelo puro ódio, cujo objectivo é semear a discórdia entre os povos. Para além da condenação e espontâneo repúdio que esses actos nos inspiram, considero ser dever de todos os homens de boa vontade procurar, com espírito ecuménico, promover a paz e dissipar o clima de crispação entre fés e culturas que hoje em dia se faz sentir e que não podemos permitir que se instale. Por pequenos que sejam, todos os gestos que vão nesse sentido são importantes. É esse também o sentido da minha visita.

Para terminar, quero, mais uma vez, agradecer-vos a vossa hospitalidade. Dirijo também uma palavra muito especial de agradecimento aos "Pássaros Sefarditas", que têm a gentileza de nos oferecer, em seguida, um concerto de música ladina. Em nome de todos os que me acompanham, o meu sincero muito obrigado.