|
|
|||
Discurso de SEXA o PR por ocasião das iniciativas programadas no âmbito do programa "Ambiente e Desenvolvimento Sustentável"
Alcochete
No ano em que celebramos trinta anos sobre a restauração das liberdades democráticas em Portugal, considero essencial levar os Portugueses a reflectir sobre os grandes desafios que afectam a comunidade nacional.
Mais do que nunca, a vida pública nacional necessita de se voltar para o que é fundamental para o conjunto do país, em vez de se deixar enredar no acessório, ou de ser vítima do empolamento e da distorção que impedem a consideração das coisas, sobretudo das mais graves, na sua justa e ponderada medida. O tema do "Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável" é, na perspectiva do Presidente da República, um verdadeiro ponto de encontro para o debate necessário que os Portugueses têm de travar sobre o seu futuro colectivo. Se é verdade, como já foi dito por um grande pensador, que uma nação é uma comunidade de destino, não é menos verdade que só haverá destino comum se houver capacidade de o desenhar, visão dos meios indispensáveis para o atingir, e vontade determinada para superar as dificuldades que sempre surgem no caminho da sua realização.
Em primeiro lugar, quando falamos de desenvolvimento sustentável queremos significar uma visão ampla e solidária do Portugal moderno. Uma solidariedade que tem numa concepção alargada de território a sua base de apoio. Num território que não esquece as nossas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, que inclui a vastidão, riqueza e beleza do nosso mar territorial e da nossa Zona Económica Exclusiva. Pretendemos uma consideração do território que olhe de frente para os problemas da agricultura e das florestas, que reconheça a necessidade de estudar e proteger a nossa diversidade biológica, conservando a nossa fauna e flora, bem como os nossos rios e a variedade das nossas paisagens, como tão bem as soube descrever o grande geógrafo e português que foi Orlando Ribeiro. Essa solidariedade só será efectiva quando implicar uma visão de Portugal tanto no espaço como no tempo. Tal perspectiva, envolve, por um lado, o combate ao subdesenvolvimento, à exclusão, ao abandono a que tantos lugares e tantos portugueses se encontram expostos, mas também, a inteligência generosa de olharmos para os compatriotas que ainda não nasceram, os nossos filhos e o nossos netos. Num mundo com tantas identidades fracturadas ou fictícias, os Portugueses sabem quem são e de onde vieram, mas o nosso natural orgulho pelos quase nove séculos de história não nos deve convidar ao repouso, mas sim ao esforço de nos mantermos sempre à altura de uma tradição que nos enobrece. A solidariedade que se encontra associada aos valores do ambiente e do desenvolvimento sustentável implica, assim, um adequado ordenamento do território, abrindo caminho para uma boa distribuição das actividades económicas, das vilas e cidades, que nos permita o correcto uso dos recursos naturais, do solo, da água, do ar, de uma forma racional, sensata, duradoura, numa perspectiva de equidade social e regional, não esquecendo o nosso dever de deixar às gerações futuras um Portugal de que, também elas, se possam orgulhar. Mas, para isso, é preciso mudar velhos hábitos e vencer preconceitos. É preciso pensar no longo prazo. É preciso reconhecer o papel da ciência e do conhecimento na ponderação das grandes opções públicas e privadas. É indispensável repensar a coordenação das diferentes políticas públicas. É preciso desenvolver uma cultura cívica do diálogo e da cooperação, vencendo a nossa tradicional propensão para a quezília mesquinha e paralisante. A segunda razão que me leva a chamar a atenção para o papel fundamental que deve ser conferido ao ambiente e ao desenvolvimento sustentável deriva do nosso lugar no mundo. Dos riscos e das possibilidades associadas a esse lugar. Sabemos crescentemente que a nossa civilização apresenta um verso e um reverso na sua face técnica e científica. Os instrumentos do progresso podem ser também factores de risco. Só a mobilização da comunidade internacional numa nova agenda comum, que faça da sustentabilidade um eixo aglutinador, poderá enfrentar riscos de grande magnitude, como é o caso das alterações climáticas. Nesse sentido, tanto a União Europeia como as Nações Unidas estão empenhadas em levar a cabo estratégias nacionais e regionais que promovam os amplos objectivos do desenvolvimento sustentável. Já em 2005 essas estratégias deverão estar em marcha. O nosso país não pode ficar indiferente a esse repto e a essa obrigação. Assim, ao longo deste ano, terei ocasião de me deslocar no País, visitando e discutindo a nossa realidade e as nossas percepções em termos do ambiente e do desenvolvimento sustentável. Hoje, no início do programa, neste belo quadro que o estuário do Tejo nos proporciona, devemos lembrar-nos do valor da água como fonte da vida. Esta é uma das questões centrais que quero trazer à reflexão dos portugueses e que nos acompanhará ao longo do ano. Mas a vida e a sustentabilidade assumem-se sobretudo nas dimensões económica, social, ambiental, e cognitiva. As nossas instituições traduzem a resposta que formulamos em conformidade com as convicções que nos motivam a pensar o futuro. Depois de visitar Alcochete e de me inteirar dos problemas ligados ao seu desenvolvimento urbano, passaremos pelas Salinas do Samouco evocando a importância da memória para o saudável equacionamento do presente. E, seguidamente, visitando três Laboratórios Nacionais com atribuições e competências de especial significado nas áreas do ambiente e da sustentabilidade, nomeadamente o IPIMAR/INIAP, o Instituto do Ambiente e o INETI, quero chamar a atenção de todos para a absoluta necessidade de estimular uma atitude científica no tratamento e na tomada de decisões sobre as grandes questões do desenvolvimento sustentável. Estas instituições, os Laboratórios do Estado, são imprescindíveis na certificação da competência técnica e científica das nossas infra-estruturas, bem como na dos procedimentos e actividades do quotidiano. É sobre eles que repousa a legitimidade da nossa posição de parceiros credíveis na construção de uma nova Europa. Em Fevereiro, visitarei o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros e, como seu complemento, discutirei os temas da utilização racional da energia e da produção de energias renováveis. Terei também ocasião de me referir à importância crescente das relações e das parcerias entre as instituições do sistema de ensino superior e a indústria. Em Abril, na visita dos Parques Naturais do Tejo Internacional e de São Mamede, procurarei ligar os temas da agricultura e da floresta ao seu contributo para a sustentabilidade. Naturalmente, este debate integrar-se-á na avaliação que então farei dos programas de recuperação da floresta após os devastadores incêndios do Verão passado. Em Julho visitarei o Parque Natural da Arrábida e a Reserva Natural do Estuário do Sado. Estarão também em causa a necessidade de conseguirmos níveis sustentáveis para a qualidade do ar que respiramos, bem como de formularmos políticas adequadas para a gestão dos resíduos e para a construção em áreas protegidas. Em Setembro deslocar-me-ei ao Parque Natural da Ria Formosa, igualmente com o propósito de promover uma reflexão sobre as implicações das alterações climáticas, bem como de ponderar a problemática do ordenamento do litoral e dos recursos marítimos nesse quadro prospectivo. Em Outubro visitarei o Parque do Douro Internacional, estando aí em causa, naturalmente, os temas específicos da água e da biodiversidade, bem como os da gestão das bacias hidrográficas e da cooperação internacional. Finalmente, no prazo de um ano, concluirei esta reflexão promovendo uma Conferência Internacional onde, com o auxílio de convidados e especialistas estrangeiros, possamos fazer um balanço e avaliar a esperança de nos encontrarmos no caminho certo para construir um Portugal melhor, mais capaz de criar riqueza útil, mais consistente da sua posição no mundo, mais coeso como sociedade plural e mais solidário com os outros povos. É este o desígnio que me anima. A sustentabilidade é, sem dúvida alguma, uma das mais fundamentais, e mais prementes, questões que se põem às gerações que entraram neste novo século. A sustentabilidade é um compromisso de honra que assumimos face às gerações vindouras. É uma afirmação de confiança na capacidade criativa e na inteligência dos portugueses e de todos os seres humanos. Há muitas décadas, o Papa Paulo VI afirmou que "o desenvolvimento é o novo nome da paz". Com igual razão poderemos hoje dizer que o respeito pelo ambiente e a concertação nacional e internacional em torno do desenvolvimento sustentável constituem o novo nome da modernidade e o novo rosto do progresso. |