Discurso de SEXA o PR por ocasião da Inauguração da Exposição "Cinco Artistas da Modernidade Portuguesa"

Barcelona
16 de Fevereiro de 2004


Porque numa exposição o que é importante é ver, apenas umas palavras de agradecimento, saudação e apresentação. A primeira delas dirijo-a à Fundatió Caixa Catalunya que, com tanta e tão generosa hospitalidade, organizou e acolhe esta mostra no magnífico espaço da sua sede, permitindo um novo encontro entre os nossos países e as nossas culturas. Agradeço às autoridades da Catalunha a sua presença neste acto inaugural e saúdo vivamente todos os convidados. Felicito o Comissário da Exposição, Dr. Pedro Lapa, pelo projecto e pela sua concretização, agradecendo às instituições portuguesas que o apoiam e aos coleccionadores que emprestaram as suas obras.

Esta exposição dá-nos uma imagem do itinerário da arte portuguesa do século XX, através de cinco grandes artistas que o marcaram. Amadeo de Souza-Cardoso, cuja obra não pára de surpreender aqueles que só agora a conhecem melhor, como aconteceu recentemente nos Estados Unidos da América, a propósito de uma exposição que ai teve lugar e que constituiu uma verdadeira revelação amplamente referida nos mais importantes jornais. Ou na Rússia, país onde se realizou uma exposição, no Museu Puschkin, por ocasião da minha visita de Estado àquele país, e que também foi comissariada por Pedro Lapa. Amadeo viveu apenas trinta e um anos, mas viveu-os intensamente, entre Paris e o Norte de Portugal. Amigo de Modigliani, a sua obra foi de uma contemporaneidade extraordinária e merece ser reconhecida como pertencendo ao grupo daquelas que, nos princípios do século XX, iniciaram a arte moderna.

Almada Negreiros é uma grande personalidade artística. Pintor, desenhador, vitralista, romancista, dramaturgo, cenógrafo, bailarino, é no conjunto das suas facetas várias que pode ser conhecido inteiramente. Integrando o grupo do Orpheu e amigo de Fernando Pessoa, viveu em Espanha e foi dos artistas mais intervenientes da nossa história recente.

Maria Helena Vieira da Silva viveu exilada em Paris, a cuja escola é costume associá-la, mas a sua obra representa também uma memória das referências visuais da sua infância e adolescência portuguesas. Pintora que alcançou uma grande projecção internacional, os seus quadros de ateliers, bibliotecas, xadrez, gares e cidades, voluntariamente indecisos entre o abstracto e o figurativo, representam um diálogo entre o visível e o invisível e uma reflexão experimental sobre as relações entre a pintura e o espaço.

Joaquim Rodrigo é autor de uma obra pessoalíssima, com uma forte carga política e representando uma investigação sobre as funções da arte e o carácter das relações entre as culturas. Marcada pela situação vivida por Portugal desde o fim dos anos 20, submetido a uma ditadura que desembocou numa guerra colonial, é uma obra marcada pelo protesto contra um mundo fechado e anacrónico, pela vontade de abertura a outros lugares e a outros tempos, a outros mundos, a outras culturas e a outras civilizações.

Paula Rego está entre nós, na plena pujança do seu génio criador. Vivendo em Londres, mantém todavia intacta a ligação a Portugal e a sua obra alimenta-se de uma mitologia pessoal fortíssima de raízes portuguesas. Representada em grandes museus e colecções do internacionais, a obra de Paula Rego, nas suas várias e esplêndidas fases, é um motivo de grande orgulho para Portugal. Ainda recentemente, Paula Rego realizou graciosamente para a capela do Palácio de Belém, em Lisboa, residência oficial do Presidente da República Portuguesa, um ciclo de quadros sobre a vida da Virgem Maria, que constituem uma verdadeira obra prima e um marco fundamental. É, além disso, uma velha e querida amiga que saúdo afectuosamente.


Minhas Senhoras e meus Senhores,

Renovo os meus agradecimentos à Fundació Caixa Catalunya e a todos vós. Estou certo de que o público acolherá esta exposição - e o Festival de Artes e Letras que em paralelo se realiza - com um interesse que reforça a amizade entre os nossos povos. A Europa que queremos construir na diversidade terá de ser cada vez mais uma Europa de encontros, aproximações e de um maior conhecimento mútuo entre todos. Creio que esta exposição é um contributo para esse desígnio fundamental.