Discurso de SEXA o PR por ocasião do Banquete oferecido em sua honra por S.A.R.o Príncipe Haakon e S.M. Sonja

Noruega
03 de Fevereiro de 2004


Majestade
Alteza Real
Excelências
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Constitui para mim uma grande alegria efectuar esta visita à Noruega, a primeira de um Chefe de Estado português desde 1980. Agradeço a Suas Majestades o honroso convite que tiveram a bondade de me dirigir e a generosa hospitalidade com que me acolhem em vossa casa. Agradeço também a S.A.R. o Princípe Haakon, a S.M. a Rainha e a toda a família real as inúmeras atenções de que me têm rodeado e às quais sou muito sensível. Que me seja igualmente permitido, nesta ocasião, formular votos pelo pronto restabelecimento de S.M. o Rei Harald e desejar à jovem Princesa Ingrid Alexandra as maiores venturas.

Encaro esta visita com grande entusiasmo, pelo respeito e admiração que o vosso país nos inspira e pela importância que atribuímos às nossas relações bilaterais. Apreciamos nos noruegueses a sua seriedade, que se conjuga com bom humor e simpatia, e o seu espírito prático e realizador, mas também generoso e solidário. Ciosa da sua independência, a Noruega marca presença activa no plano internacional, realizando um trabalho muito meritório a favor da prevenção e resolução de conflitos, de que é símbolo a cerimónia de entrega do prémio Nobel da paz que todos os anos se realiza nesta capital. O papel desempenhado pela Noruega em conflitos como o do Médio Oriente, do Sri Lanka ou do Sudão mostra que todos os países, independentemente da sua dimensão, podem exercer influência no plano internacional.

Apesar de situados em pontos extremos da Europa, a Noruega e Portugal têm uma relação de sólida amizade e forte cooperação. Essa relação não é de hoje. As sagas noruegueses referem que, no longínquo século XII, quando Portugal se estava a formar, o Rei Sigurd ajudou a conquistar as praças de Sintra, Lisboa e Alcácer do Sal. Em tempos mais recentes, fomos levados a uma crescente aproximação, primeiro como aliados na NATO, depois como parceiros na EFTA, e hoje como dois povos que partilham os valores da democracia e se integram no Espaço Económico Europeu.

Esta visita é uma ocasião para renovarmos e aprofundarmos os laços de amizade existentes entre a Noruega e Portugal, não apenas a nível oficial mas também entre as respectivas sociedades civis. Por isso me faço acompanhar por uma vasta comitiva, integrando membros do Governo central e das regiões autónomas da Madeira e dos Açores, deputados, artistas, cientistas e um grande número de homens de negócio. Estou certo que a multiplicidade de contactos que serão estabelecidos ao longo desta visita darão frutos, permitindo aos nossos dois países conhecerem-se melhor e aproximarem-se mais.

Apesar de não fazer parte da União Europeia, a Noruega é um parceiro económico de Portugal de considerável relevo, situando-se o mercado norueguês entre os 15 mais importantes para Portugal. No plano político, nada nos separa. No plano cultural e científico temos boas possibilidades para aprofundar o nosso relacionamento.

Somos dois países marítimos, virados para a costa atlântica, cuja história está profundamente ligada ao oceano. Existem já colaborações proveitosas entre a Noruega e Portugal nos campos das pescas e da construção e reparação naval, que desejamos aprofundar. No último Conselho Europeu, foi decidido que Lisboa acolherá a sede da Agência de Segurança Marítima da União Europeia, decisão que permitirá, estou certo, desenvolver ainda mais a nossa cooperação neste campo.

O turismo é outra área prometedora para o desenvolvimento das nossas relações. No últimos anos, centenas de milhares de noruegueses visitaram Portugal, beneficiando das ligações aéreas directas que existem já entre Oslo e o Algarve, os Açores e a Madeira. Espero que, com a próxima inauguração de uma nova carreira entre Oslo e Lisboa, muitos outros venham ainda descobrir o nosso país, e não apenas as suas praias e campos de golfe, mas também a riqueza do seu património, o arrojo dos seus criadores, a variedade da sua gastronomia e a excelência dos seus vinhos. Espero também que os portugueses se sintam estimulados a descobrir a Noruega, a sua enorme costa pontuada por maravilhosos fjords, o sol da meia noite, as suas montanhas e estâncias de ski.

Pretendo que esta visita seja também uma ocasião para divulgar Portugal como um país de forte criatividade no campo das artes. Por isso promovi, em colaboração com o Museu Stenersen, uma exposição que visa apresentar ao público norueguês uma panorâmica do que estão a produzir os artistas mais jovens em Portugal, que Sua Majestade a Rainha nos dará a honra de inaugurar amanhã.

Também na área científica me parece existirem possibilidades prometedoras de cooperação. Um exemplo dessa cooperação é o trabalho realizado pelo cientista português Sobrinho Simões — que foi aliás distinguido o ano passado com uma condecoração norueguesa — em colaboração com o Radium Hospital que igualmente visitarei no decurso desta visita.

Não posso deixar de referir também o papel desempenhado pela Noruega na área da cooperação para o desenvolvimento, da qual, aliás, fomos beneficiários directos, nos anos 70 e 80, em áreas como o estabelecimento da primeira faculdade de medicina dentária em Portugal ou a criação da Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial. Hoje a Noruega leva a cabo uma cooperação muito importante com os países em vias de desenvolvimento, no âmbito da qual assumem destaque países de língua portuguesa, como Moçambique e Timor Leste. Também Portugal está profundamente empenhado em ajudar esses países a superarem os desafios do desenvolvimento e a consolidarem os seus Estados democráticos.


Majestade
Alteza Real
Minhas Senhoras e meus Senhores

Portugal celebra este ano o trigésimo aniversário do 25 de Abril, que devolveu aos portugueses a liberdade. Lançando um olhar retrospectivo sobre estas três décadas, julgo que os portugueses têm muito de que se orgulhar. No plano económico, temos vindo a recuperar o atraso relativamente aos países mais desenvolvidos da Europa. Na área social, muito foi feito para que os portugueses pudessem ter acesso à educação, aos cuidados de saúde, à habitação. Surgiu uma nova vivacidade na criação cultural em áreas como a literatura, a música, as artes plásticas, o teatro, o cinema, a arquitectura e o design.

Desenvolveu-se a investigação científica. No plano internacional, tornámo-nos membros da União Europeia, participamos no Euro desde a primeira hora, tomamos parte activa nas tarefas de manutenção da paz e construímos com os países que falam português relações de estreita amizade e cooperação. Queremos estar na primeira linha do processo de construção europeia, porque acreditamos ser essa a melhor forma de proteger os interesses nacionais. Respeitamos naturalmente a opção da Noruega, mas quero aqui sublinhar que, pela parte que nos toca, ela será sempre bem vinda no seio da União Europeia.

Estou seguro que entre os nossos países existem todas as condições para um entendimento perfeito e para o desenvolvimento de uma cooperação mutuamente benéfica, quer no plano bilateral, quer no plano internacional. Confio que esta visita em muito contribuirá para esse fim. Quero, por isso, terminar formulando um brinde à saúde de Suas Majestades o Rei e a Rainha e do Príncipe Regente, à prosperidade da Noruega e à amizade profunda e duradoura entre a Noruega e Portugal.