Discurso na Câmara Municipal de São Filipe

São Filipe
31 de Março de 2004


Senhor Presidente da República
Senhora Ministra dos Negócios Estrangeiros
Senhor Presidente da Câmara
Excelências
Senhoras e Senhores

Queria, antes de mais, começar por agradecer as amáveis palavras que foram dirigidas pelo Senhor Presidente da Câmara e sublinhar o quanto me gratifica poder estar aqui hoje na companhia do Presidente Pedro Pires. Nesta visita de festa e amizade a Cabo Verde não poderia deixar de visitar o Fogo, terra do meu amigo Presidente Pedro Pires, e esta cidade de S. Filipe, que é um autêntico e magnífico miradouro, considerada uma das mais belas e cuidadas do país.

Ao visitar a sua terra de origem, gostaria de homenagear na pessoa de Vossa Excelência, Senhor Presidente, todo o povo de Cabo Verde. De facto, esta é uma da Ilhas, com um vulcão activo ainda hoje, que melhor retrata a realidade deste arquipélago. Recordo as palavras do escritor foguense Abílio Macedo: “Vi o Fogo rir, cantar e dançar em anos de fartura; vi-o igualmente ressequir-se e agonizar de fome durante estiagens trágicas”. Um exemplo vivo de que o desenvolvimento não depende da abundância de riquezas naturais de que um país dispõe, mas sim da sua maturidade política, do talento, da força e da qualidade das suas gentes, do rigor e da qualidade dos seus líderes e governantes, da sua capacidade de administração. E Cabo Verde provou que tem tudo isto.

A Ilha do Fogo tem um passado notável. Foi a segunda do arquipélago a ser povoada. É das mais ricas em tradições e manifestações culturais, tendo contribuído com figuras ilustres para o movimento literário e cultural em torno da revista “Claridade” na década de trinta do século XX, marco importante no longo caminho da consolidação da identidade caboverdiana. A lista de escritores e poetas caboverdianos naturais do Fogo é vasta e rica. O Dr. Henrique Teixeira de Sousa, insigne médico e escritor foguense radicado em Portugal, aceitou o meu desafio para que me acompanhasse nesta visita e é com muito prazer que o vejo aqui connosco.

Nesta terra de cultura, de poetas e escritores, não poderia deixar de fazer uma entusiasmada referência à Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa, de que Cabo Verde tem sido um importante e empenhado membro. A nossa Comunidade terá dentro de poucos meses, em S. Tomé e Príncipe, a sua V Cimeira de Chefes de Estado e Governo, que espero seja uma oportunidade de emprestar mais forte dinamismo à sua acção.

A língua portuguesa, matriz comum e elemento unificador entre os nossos países e povos, tem vindo a afirmar-se progressivamente, sendo hoje a sexta mais falada no mundo. Muito há ainda a fazer na vertente da sua promoção e difusão, exigindo-se, a todos nós, um esforço adicional nesse sentido. A melancólica melodia das mornas é hoje, tal como o fado, um potente difusor da língua e cultura lusófona.

Num mundo globalizado e em grande turbulência, em que os sentimentos de vulnerabilidade e de insegurança são um facto, a cooperação entre os Estados ganha um valor acrescido. A CPLP, uma Organização ainda jovem, enraizada em verdadeiros laços de afecto e cumplicidade, dá-nos neste contexto um reconfortante sentimento de pertença a uma família e julgo que esse facto tem vindo a ser paulatinamente interiorizado pelas sociedades civis dos países membros.


Senhor Presidente,

Não creio exagerar se disser que Portugal tem com Cabo Verde uma relação exemplar. No planos político, económico e no da cooperação, sendo Cabo Verde o maior recipiente per capita de ajuda pública ao desenvolvimento de Portugal, temos relações sólidas e frutuosas que se processam num clima de amizade sem mácula.

A nossa cooperação abrange os mais variados campos e alcançou um grau notável de maturidade como é possível constatar pelo Plano Anual de Cooperação para 2004 ontem assinado. Para além das áreas da educação, da saúde, das infraestruturas, da recuperação de património, da administração pública e da cooperação judiciária, queria destacar o volume apreciável da cooperação cambial, sustentando o Acordo firmado em 1998, bem como a crescente importância e o dinamismo da cooperação entre municípios.

Tive já a oportunidade de afirmar durante a visita que sou um convicto apoiante da cooperação descentralizada entre municípios e sei, pela minha própria experiência, que o seu potencial é enorme, permitindo por vezes ir mais longe na proximidade aos problemas das pessoas.

É para mim, deste modo, uma grande satisfação ter na minha comitiva um grupo de autarcas portugueses, cujos Municípios estão geminados com cidades caboverdianas. Sei que o Fogo e, em particular, São Filipe, tem uma intensa cooperação com um elevado número de autarquias portuguesas, pelo que, na impossibilidade de trazer todos, tive o prazer de convidar a Senhora Presidente da Câmara de Palmela que tem vindo a desenvolver um conjunto de acções concretas e de grande benefício para a população desta cidade.


Senhor Presidente,

Gostaria de terminar com duas referências.

Uma palavra de afecto e solidariedade dirigida à comunidade caboverdiana radicada em Portugal. Queremos que os caboverdianos residentes em Portugal se sintam como estando em casa de familiares e amigos e que participem na vida social, cívica, cultural e política portuguesa.

E, por último, desejaria formular votos de sucesso para o Senhor Presidente da Câmara de S. Filipe e, sobretudo, votos da maior prosperidade e bem-estar para as gentes da Ilha do Fogo.