Discurso por ocasião da Cerimónia do "Dia do Combatente"

Batalha
17 de Abril de 2004


Excelências
Minhas Senhoras e meus Senhores

Agradeço o convite que a Direcção da Liga dos Combatentes me dirigiu para presidir a esta cerimónia do Dia do Combatente. Faço-o com muito gosto, com a convicção de que cumpro um dever para com Portugal e os portugueses e para com a memória de todos quantos deram a sua vida ao serviço do País.

Lembramos hoje todos aqueles que combateram em nome de Portugal. O que somos hoje como Nação e como País depende, em larga medida, do contributo que deram para ultrapassar os momentos mais difíceis da nossa História e garantir a perenidade da nossa identidade nacional.

A República não esquece, nem pode esquecer, a dedicação e o sacrifício de todos esses portugueses, e por isso lhes presta esta sentida homenagem.

Somos uma velha Nação orgulhosa da sua História multisecular, do seu contributo para a civilização ocidental e para o intercâmbio de culturas, da sua tenacidade face a tantos desafios que pareciam insuperáveis. Como todos os outros povos, o nosso percurso nacional tem luz e sombras, momentos de indiscutível grandeza, de pioneirismo no progresso e tem passos em que estivemos, também, mais alheados das correntes de evolução mundial. Não é este o local nem o momento para discutir essa História tão rica e multifacetada, nem para emitir julgamentos de valor, tantas vezes condicionados pela visão que temos hoje do Mundo e pelos nossos actuais sistemas de referências.

Mas devemos, isso sim, estudar e conhecer a nossa História, em toda a sua complexidade, assumi-la na totalidade, tirar dela lições, e perceber o legado que nos deixou em cada um dos seus momentos que contribuíram, todos eles, para a nossa matriz identitária.

Homenageamos assim todos os militares que, ao longo dos séculos, caíram por Portugal, ao serviço da perenidade da Pátria. É esta a forma de os lembrarmos, de os honrarmos, de reiterarmos a confiança no nosso desígnio nacional e de, ao mesmo tempo, motivarmos a juventude portuguesa para servir o País também nas fileiras das suas Forças Armadas de que todos, legitimamente, nos devemos orgulhar.

No momento em que está em curso uma profunda reestruturação das Forças Armadas Portuguesas, que passa, nomeadamente, pelo fim do serviço militar obrigatório, já este ano, é decisivo mobilizar a vontade e a adesão dos portugueses em torno de um objectivo que é nacional, catalisando os esforços necessários em torno do esforço de modernização a empreender. A confiança que as novas gerações de portugueses depositarem no prestígio e na operacionalidade das suas Forças Armadas será decisiva para o sucesso do sistema de voluntariado em que estas assentarão. E o Estado democrático precisa de umas Forças Armadas modernas, eficazmente estruturadas, adequadamente equipadas, com opções estratégicas claras e com efectivos profissionalmente mobilizados para as tarefas e as responsabilidades que lhes estão confiadas. Trata-se de um desafio histórico que não poderemos falhar.


Excelências
Minhas Senhoras e meus Senhores,

As Forças Armadas estão intimamente ligadas à existência do Estado Português.

No Portugal livre e democrático nascido da Revolução de 25 de Abril, cujo trigésimo aniversário este ano comemoramos, o País tem de se identificar com as suas Forças Armadas, tem de se reconhecer no seu prestígio, tem de interiorizar a importância da sua missão.

A democracia permitiu-nos a reintegração plena na comunidade internacional e o nosso reencontro com a Europa, em cujo projecto de unificação participamos activamente. Neste contexto, as Forças Armadas Portuguesas foram chamadas a desempenhar missões em teatros tão diferentes como o Kosovo, Timor-Leste, a Bósnia e Hercegovina, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, ou o Afeganistão. Em todos estes teatros, o seu desempenho foi sempre exemplar e por todos louvado, muito contribuindo para a afirmação de Portugal no Mundo.

É indispensável que os portugueses tenham consciência da importância destas missões para o País, do elevado grau de dificuldade de execução que representam para as Forças Armadas, e do reconhecimento internacional que elas acarretam para Portugal.

Por isso, neste dia do Combatente, devemos também lembrar as portuguesas e os portugueses que participaram com enorme brio e competência profissionais em acções levadas a cabo pelas Nações Unidas, pela União Europeia e pela NATO, ou ainda no contexto da cooperação militar com países amigos. Devemos retirar um legítimo orgulho da capacidade que demonstramos para participar activamente nesta partilha de responsabilidades internacionais, assumindo plenamente os compromissos de Portugal e afirmando-nos como um país consciente dos seus deveres em termos da manutenção da paz, da segurança e da estabilidade internacionais.

Minhas Senhoras e meus Senhores

Curvar-nos-emos, dentro de momentos perante o túmulo do Soldado Desconhecido, em homenagem aos militares que morreram ao serviço de Portugal.

Esta homenagem da República deixa claro que a perenidade de Portugal está intimamente associada aos milhares dos seus soldados que morreram em combate. Não há grandeza maior do que a daqueles que morreram sem se quererem heróis.

É a todos os militares portugueses que, ali dentro, naquela capela, vamos prestar a homenagem e o tributo de reconhecimento que lhes é devido.