Discurso de SEXA o PR na Fortaleza de Peniche

Peniche
23 de Abril de 2004


Presidente da Câmara de Peniche, colaboradores dos serviços municipais
Directores de Escolas de Peniche e região
Realizador Ricardo Costa


1. Estou aqui para homenagear a Resistência e os Resistentes à Ditadura

Sem a Resistência – de décadas, tantas quantas as da Ditadura – não teríamos chegado à Revolução de Abril.

A Resistência foi a dignidade de Portugal, a afirmação corajosa de que só há um destino que vale a pena ser vivido: o da Liberdade.

A Resistência foi o sinal e o testemunho de que podia haver uma outra forma de viver, uma outra forma de estar, nas nossas ruas e casas, nas nossas instituições, no nosso País e no Mundo.

Não há Resistência sem resistentes. Estou aqui para dizer em nome da República, quanto lhes devemos, quanto lhes estamos reconhecidos, quanto nos honramos do seu sacrifício, da sua abnegação, do seu heroísmo silencioso. Inclino-me perante a memória dos que já nos deixaram.

Agradeço comovidamente a todos os que se dispuseram a acompanhar-me hoje neste acto simbólico.

Os resistentes foram homens e mulheres de todas as condições, de todas as profissões, de todas idades, de diferentes convicções ideológicas e religiosas. O seu pluralismo reflecte afinal o pluralismo de que é feita a Democracia. Os seus percursos foi na Liberdade que desembocaram. A Liberdade é, graças a eles, um grande grande projecto colectivo, na diversidade e na unidade.


2. Estou aqui para celebrar a paz e a liberdade

O 25 de Abril trouxe a Liberdade e a Paz.

A liberdade significou a possibilidade de organizarmos uma democracia. A liberdade que o 25 de Abril nos trouxe foi acompanhada de liberdades efectivas.

Graças às liberdades de que gozam, os cidadãos, todos os cidadãos podem fazer as suas escolhas sociais e económicas. Os cidadãos sabem que a sua opinião conta, que a democracia existe, que o seu voto conta, todos contamos.

“Um povo não pode ser livre se oprime outros povos”. O 25 de Abril significou o fim da guerra. A guerra era o resultado da ausência de debate democrático. A guerra era utilizada para silenciar a discussão e contribuíu para isolar mais ainda Portugal.

Portugal era ostracizado porque não se dotara de um Estado democrático e de direito e porque persistia em manter em África um colonialismo que há muito se tornara arcaico.

A liberdade e a paz são bens preciosos, os bens colectivos mais preciosos.


3. Estou aqui para afirmar uma palavra de esperança

Acredito no Portugal da liberdade e da paz que é o Portugal após a Revolução de 1974.

Vocês quiseram trazer hoje convosco os filhos e netos. Agradeço-vos por isso também. Eles têm e terão o Portugal melhor que sonhamos.

Nem tudo correu bem e nem tudo corre bem. Mas o que quero dizer-vos e dizer-lhes é que é com a liberdade que podemos tomar decisões. É democracia que permite a Portugal ser Portugal. Ela depende de cada um de nós igualmente – e num certo sentido só de nós depende.

Ter confiança hoje? - perguntar-me-ão, num mundo mais inseguro e dificuldades de vida mais ameaçadoras.

Eu perguntarei: que confiança foi a que fez muitos de vós resistirem durante décadas, suportarem as violências e privações da prisão, dos julgamentos por delitos de opinião, das expulsões, do exílio?
O vosso exemplo é o exemplo da confiança, o vosso testemunho é o testemunho de confiança no futuro.

Temos muito a aperfeiçoar no nosso viver colectivo como Nação histórica. O Estado democrático e de direito é a condição e o instrumento que nos permite corrigir o que está mal – seja na instrução pública, na segurança e na defesa, na economia e nas relações laborais.

É o Estado democrático e de direito que permite a cada português e a cada grupo de portugueses definirem e concretizarem as suas opções doutrinárias.

A liberdade pode ser renovada no quadro de uma República dotada de autoridade.

A liberdade e a paz são hoje a tradição portuguesa.