Discurso do Presidente da República por ocasião da Sessão Solene de Agraciamento com a Ordem da Liberdade

Pavilhão de Portugal
26 de Abril de 2004


Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

No momento em que celebramos os trinta anos da Revolução de 25 de Abril, reunimo-nos hoje nesta homenagem da República a um conjunto de cidadãos que se destacaram na luta pela Liberdade e pela Democracia.

Para muitos de nós, aquele foi o dia por que sonháramos, pelo qual lutáramos, desta ou daquela maneira. Um dia inevitável, mais tarde ou mais cedo, todos sabíamos isso. Mas um dia incerto, já tantas vezes tentado, mas até então, nunca bem sucedido. O mérito do sucesso nesse dia alcançado devemo-lo à determinação, ao arrojo e à coragem do Movimento das Forças Armadas e a todos os militares que nele participaram, a quem reitero, em nome da República Portuguesa, uma sincera e calorosa homenagem. Mas devemo-lo também à onda de apoio popular que de imediato rodeou a coragem generosa dos militares de Abril, imprimindo à nossa Revolução uma marca única e garantindo, afinal, o seu triunfo.

Contra um regime iníquo e ilegítimo, tinham lutado republicanos e monárquicos, cristãos e agnósticos, socialistas e comunistas, trotskistas e maoístas, liberais e anarquistas.

Os métodos de luta política também eram muito diferenciados. Uns faziam oposição no quadro da sua vida profissional e de uma actuação cívica semi-tolerada pelo regime. Outros, no duro caminho da clandestinidade. Outros optaram pela oposição armada. Outros ainda, nos movimentos académicos, nos sindicatos, na criação cultural.

Muitos foram presos e não poucos torturados.

Os modelos de sociedade que defendíamos eram também muito variados. A convicção com que cada um abraçou a sua ideologia não era apenas fruto de um tempo que perpassava por toda a Europa, mas também consequência de uma vontade que atraía cada vez mais gente num desejo comum de derrubar o regime ditatorial.

Foi um movimento que foi crescendo sempre e que assumiu novas dimensões com a guerra colonial, conduzindo, inexoravelmente, ao colapso da ditadura.

Derrubado o regime pelo golpe militar do Movimento das Forças Armadas e reconquistada a liberdade, as divergências de perspectivas políticas seguiram o seu caminho, ditando percursos políticos diversos.

Com rigor e método os historiadores farão um dia essa longa e interessantíssima história. A nós cabe-nos reconciliar a democracia com a diversidade de percursos políticos que a tornaram possível e a todos, por igual, prestar a homenagem que merecem. Este é o momento de nos encontrarmos com a diversidade da história que tornou possível a liberdade em Portugal.

Os homens e mulheres que hoje homenageamos são combatentes por convicções. O seu empenhamento pessoal contribuiu para que a Democracia seja hoje uma realidade viva e enraizada em Portugal. Esta é uma homenagem institucional que a República lhes presta. Mas sei que a gratificação maior que receberam foi esse dia de há trinta anos, em que a Liberdade renasceu, porque foi pela sua chegada que corajosamente lutaram.

Portugal surpreendeu o Mundo com a Revolução de 25 de Abril. Essa mudança tão profunda e com um percurso tão particular atraiu uma enorme atenção internacional. O modelo de transição política português e as mudanças sociológicas que se lhe seguiram foram largamente estudados e investigados. Trinta anos depois, é devida, neste contexto comemorativo, uma homenagem a alguns investigadores que tanto contribuíram pelo seu trabalho científico para o conhecimento e a reflexão sobre as transformações do Portugal Contemporâneo e sobre o desígnio europeu em que nos integramos. Eles ajudaram-nos muitas vezes a olhar melhor para nós próprios e o seu empenhamento no estudo sobre Portugal tornou o país mais conhecido internacionalmente, contribuindo também para que outros seguissem o seu exemplo.


Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Esta é uma cerimónia que reúne um conjunto de personalidade nacionais e estrangeiras, e de instituições da sociedade civil que, no âmbito destas comemorações, são também o símbolo de um universo mais vasto de combatentes pela liberdade. Alguns dos que hoje distinguimos assumiram, por vontade popular, os mais altos cargos do Portugal democrático e contribuíram, de forma ímpar, para a consolidação do Regime Democrático e do Estado de Direito


Caros Amigos,

A Democracia que ajudaram a construir, presta-vos uma homenagem, justa e devida. Honramo-vos, nesta celebração, certos de que o vosso exemplo perdurará como um estímulo ao empenhamento cívico indispensável para assegurar um Portugal democrático cada vez mais dinâmico, mais participado, mais justo e mais solidário.